Mais de 150 parlamentares, de cerca de 20 países, estarão reunidos até sexta-feira (16, em Valparaiso, Chile, na Segunda Cúpula Parlamentar Global contra a Fome e a Má Nutrição. O evento é organizado pelo Escritório Regional da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO - Food and Agriculture Organization) para a América Latina e o Caribe e ocorre na sede do Congresso Nacional chileno, em Valparaíso.
Ao todo, a rede da Frente Parlamentar Global contra a Fome da América Latina e Caribe conta com mais de 400 legisladores e tem o apoio das Agências Espanhola e Mexicana de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid e Amexcid) e da Comissão Europeia.
Notícias relacionadas:Pacto da sociedade civil propõe acabar com a fome até 2030.No G7, Brasil assina declaração conjunta para combater a fome.Ação da Cidadania lança campanha Brasil sem Fome.A FAO entende que os parlamentares são atores da mudança e podem desempenhar o papel-chave de criar leis e políticas para erradicar a fome, promover dietas saudáveis, proteger os recursos naturais, transformar os sistemas agrícolas para que sejam sustentáveis, eficientes, resilientes e inclusivos e reduzir a pobreza e as desigualdades socioeconômicas. Mulheres são mais afetadas
Na cerimônia de abertura do encontro, nesta quinta-feira (15), o representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, o uruguaio Mario Lubetkin, apresentou o cenário atual do problema, no mundo, dizendo que houve “um aumento dramático nos números da fome”, atingindo 828 milhões de pessoas.
Mario Lubetkin apontou as principais causas da fome: conflitos, ameaças climáticas, a pandemia de ovid-19, a desaceleração econômica, que pôs em risco o desenvolvimento das nações, e os aumentos de preços dos alimentos. “O aumento dos preços dos alimentos ao consumidor afetou o número de pessoas incapazes de ter acesso a uma dieta saudável, chegando a quase 3,1 bilhões”, afirmou Lubetkin.
Segundo a FAO, as mulheres são as mais afetadas pela insegurança alimentar e pela fome. “A prevalência de insegurança alimentar moderada e grave aumentou durante a pandemia e afetou as oportunidades econômicas das mulheres.”
Na outra ponta da desnutrição, Lubetkin destacou que o sobrepeso e a obesidade são cada vez mais frequentes entre crianças, jovens e adultos e aumentam em todas as regiões do mundo, como consequência da má nutrição, com dietas não saudáveis.
O representante da FAO alerta que já foi alcançada a metade do prazo para que o mundo consiga alcançar o segundo objetivo da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). A meta é acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável, até 2030.
“A fome zero e a erradicação da pobreza exigem a firme e efetiva participação de cada um de nós e a grande responsabilidade de elaborar leis que promovam um meio ambiente seguro, garantindo o direito à alimentação”, enfatiza Lubetkin.
O anfitrião da Cúpula Parlamentar, o presidente do Chile, Gabriel Boric Font (foto), enfatizou que o desafio contra a fome não reconhece fronteiras. “Se houvesse apenas uma pessoa passando fome, já deveria ser escandaloso, mas são 828 milhões de pessoas e, portanto, esta questão é tremendamente importante", afirmou Boric.
Ao lamentar que a fome afete mais de 56 milhões de latino-americanos, o presidente chileno pediu união. “Nenhum esforço é menor ou secundário na luta contra a fome e na busca da segurança alimentar e da agricultura sustentável, conforme estabelecido no segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da OMS, na Agenda 2030”.
O líder chileno ainda apontou as guerras e os deslocamentos forçados de refugiados como agravantes da fome no mundo.
“A agenda [2030] está ameaçada pela guerra, em qualquer latitude. Vemos os efeitos no nosso país [Chile] e no mundo pela exportação do trigo da Ucrânia. Sabemos que muitos outros países que vivem as dores da guerra sofrem imediatamente a fome A fome se exporta com muita facilidade e a vemos também dos fenômenos migratórios”. Brasil
O Parlamento brasileiro é representado na cúpula da FAO pelo coordenador da Frente Parlamentar Mista de Soberania e Segurança Alimenta e Nutricional e de Combate à Fome no Brasil, o deputado Padre João (PT-MG) e pelos deputados federais Bohn Gass (PT–RS) e Heitor Schuch (PSB–RS), além da deputada estadual do Rio Grande do Sul, Laura Sito (PT), coordenadora da frente parlamentar gaúcha com o mesmo objetivo.
A Frente Parlamentar Mista do Congresso Nacional, instalada em 3 de maio, conta com 202 deputados federais e 17 senadores apoiadores.
Os brasileiros viajaram ao Chile para compartilhar as experiências de implementação de legislação sobre a segurança alimentar e nutricional.
Em vídeo divulgado em uma rede social, nesta quarta-feira (14), já no país andino, o deputado Padre João fez um retrospecto da situação brasileira desde 2014, quando o país tinha saído do Mapa da Fome das Nações Unidas. “Com golpe e com o governo Bolsonaro, com o desmonte do Estado brasileiro, a extinção do Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional], a extinção de orçamentos para PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] e o PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar], do Ministério do Desenvolvimento Agrário, então, todo o aparato que tirou o Brasil do Mapa da Fome foi desmontado!”, afirmou o parlamentar.
Padre João detalhou o cenário atual do Brasil neste tema. “Agora, com o [presidente] Lula de volta, vem, então, a comida na mesa; e a educação que é também estruturante.”
Por fim, no vídeo, o parlamentar brasileiro adianta o que vai compartilhar na sessão plenária com os parlamentares da América Latina do Caribe, durante a cúpula.
“O combate às desigualdades precisa ir na raiz. É verdade que o Betinho continua tendo razão: ‘Quem tem fome, tem pressa’. Mas, não resolve ficar apagando incêndio, sem ir à causa do problema”.
Betinho é o apelido do sociólogo e ativista Herbert José de Souza, fundador da organização não governamental (ONG) Ação da Cidadania contra a Fome, morto em 1997.