ENTREVISTA

No drama e na comédia: Danton Mello

Ator esteve em Paulínia para a pré-estreia do filme de José Alvarenga Jr., rodado na regiã

Fábio Trindade
fabio.silveira@rac.com.br
18/04/2013 às 14:40.
Atualizado em 27/04/2022 às 13:40

Danton Mello az parte de um seleto grupo de artistas que começou a atuar ainda criança, principalmente na década de 1980, e que conseguiu manter uma sólida carreira de sucesso até os dias atuais. A estreia na TV foi em 1985, aos 10 anos, na novela A Gata Comeu, e seu mais recente trabalho é a comédia rodada em Paulínia e Campinas, ainda em cartaz, Vai Que Dá Certo, da qual é protagonista. O longa já foi visto por quase 1,5 milhão de espectadores e acumula cerca de R$ 16,2 milhões em bilheteria. Mas são muitos os sucessos em seu currículo. Nascido no interior de Minas Gerais, na cidade de Passos, Danton, mais do que um rosto conhecido há quase três décadas, também já fez sucesso de outras formas. E que sucesso. Ele se tornou uma das vozes mais conhecidas do Brasil ao dublar personagens como Jack, de Leonardo DiCaprio, em Titanic, e o Bocão, de Corey Feldman, em Os Goonies. Momentos que alguns fãs, durante a pré-estreia do filme em Paulínia, chegaram a lembrar após tirar fotos com ele. Durante o mesmo evento, Danton conversou com o Caderno C e falou sobre a carreira e a vontade de atuar ao lado do irmão Selton Mello.

Caderno C — Você fez diversas comédias no teatro nos últimos anos, assim como no cinema. Mas na TV sua estreia no gênero foi só no ano passado. Estava esperando o programa certo para isso?

Danton Mello — Fico feliz que você saiba desse percurso, porque muita gente não sabe, tanto que tenho que explicar que Como Aproveitar o Fim do Mundo não foi meu primeiro trabalho na área. Eu fui aos poucos entrando na comédia pelo teatro, trabalhei com grandes diretores, como (José) Wilker, Fernando Guerreiro, Alexandre Heinecke, e estou aprendendo ainda. Ter um diretor que te conduz bem na comédia te deixa muito à vontade. Fazer comédia é ter um bom texto, uma boa direção, porque é isso que faz você rir. Eu me senti muito seguro na série com o (José) Alvarenga (Jr.), que é um ótimo diretor de comédia, e com o Maurício Farias, que entende tudo do estilo. E, por isso, mesmo estando no meio desse elenco (do filme Vai Que Dá Certo), que são realmente comediantes, eu consigo sentir muito à vontade também. O bom é que o meu personagem (Rodrigo) não é o mais engraçado. É tanta gente fazendo bagunça, tanta loucura, que o Rodrigo é um cara mais pé no chão, o cara que toma conta da turma, quase o chefe, então eu nem poderia ter muita margem para brincar. Não é o personagem para fazer caras e bocas. Tem momentos que o público ri, acha graça, pela situação, mas não precisei fazer algo escrachado.

A Alinne Moraes também estreou em comédia na mesma série e chegou a dizer que estava preocupada, pelo tom ser diferente, o ritmo. Ter uma “novata” na área facilitou para você?

Facilitou sim, e muito. Mas o percurso que eu trilhei no teatro foi muito importante naquele momento. A gente conseguiu firmar uma parceria, assim o Alvarenga sentiu que eu já estava no caminho que ele queria e pôde dar uma atenção extra à Alinne. Mas tinha que ser uma dupla consistente, era só a gente o tempo inteiro. O bom é que estávamos com um texto muito inteligente, em situações naturalmente engraçadas. Eu já era fã da Alinne, queria trabalhar com ela, e no final deu para formar uma bela dupla.

Uma parceria tão boa que novos projetos para fazer comédia na TV estão por vir?

Existem planos, sim, e muita vontade também. Fazer comédia é muito legal. Mas eu quero me dedicar ao estilo no teatro, porque não existe nada mais legal do que o público rindo ali, ao vivo, em tempo real. O filme foi muito divertido de fazer, mas é uma incógnita. Você coloca para o público ver e espera pelas reações. Nas sessões que nós acompanhamos foi muito legal, porque ficava claro que a galera estava se divertindo mesmo. Eu quero fazer mais. Sem contar que abriu um leque maior para mim, como ator. Eu tenho um histórico de dramas, então é mais uma porta que se abre. Mostrei que eu sou capaz de fazer qualquer coisa, do drama para a comédia, passando pela novela de época até uma história contemporânea. Enfim. Posso brincar em qualquer lugar.

Com quase 30 anos de carreira, ainda é preciso provar o que você consegue fazer?

Não, não é preciso. Mas eu ainda sou um cara que fica nervoso em qualquer estreia, por exemplo. E acho que isso é bom, porque eu tenho que crescer muito ainda. A vida é um aprendizado. Então, é uma cobrança minha, de mostrar o meu trabalho, de crescer e aprender um dia após o outro e lembrar que a gente nunca sabe o bastante. Só assim a gente consegue buscar coisas novas. Eu fico nervoso, angustiado, peço conselho para os amigos, converso muito com o Selton. Depois que estreia uma peça ou uma novela, ou exibe o filme, eu acalmo, mas parece sempre que é o primeiro trabalho. Me sinto um novato apesar dessa grande história.

Ter começado muito cedo na carreira pode ter a ver com essa cobrança interior?

Eu acho que sim, porque existe essa cobrança de ter que estar sempre certo, de não poder errar. Eu até tive uma conversa engraçada com o Alvarenga uma vez, um papo informal, quando eu contei que tenho pesadelos com todos os meus trabalhos. Eu sonho que esqueci o texto, que não estou conseguindo fazer algo. E ele falou que é normal e que é bom que eu tenha isso. Ele me disse: isso acontece porque significa que você é preocupado, porque você faz isso desde pequeno e busca sempre o melhor, mas relaxa, você é um p*** ator e não tem que ter essas preocupações. E eu respondi: mas eu tenho (risos).

O cinema nacional, atualmente, está muito caracterizado pelas comédias escrachadas e Vai Que Dá Certo é um exemplo dessa tendência. Chegamos a um ponto que a gente trabalha de acordo com o que o público quer?

Pra mim, tem espaço para todo mundo. Sem contar que gosto não se discute. Talvez a gente, com o nosso filme, agrade uns, e outros não. O importante é estar produzindo, fazendo, porque cria público, plateia, as pessoas vão mais ao cinema. Tem que trabalhar, oferecer mais opções, e há espaço para todo mundo.

No filme A Busca, o diretor Luciano Moura tentou fazer algo diferente, promovendo o longa como um drama, mas criando um caminho de pura comédia até chegar ao ponto que ele queria... Mas é uma comédia?

Eu vi o trailer e jurava que fosse só drama.

Eu também, mas fica claro que ele tenta oferecer algo mais denso, porém colocando bastante comédia para também atrair a grande massa. Algo que, na minha opinião, não deu certo. Você, como ator, busca trabalhos que têm a ver com você ou não se importa em apenas ter como foco atingir o público?

Vou falar de forma geral, porque eu acho que tem um pouco de tudo: diretores e atores que querem fazer sucesso e outros que se preocupam com os próprios projetos, porque acreditam neles, indiferente se darão pouco público. Eu bato na tecla que tem espaço para todo mundo para fazer o que quiser, contando a história da maneira que quiser. Tem que arriscar e produzir. Só assim nós vamos conseguir criar uma indústria forte e ter o público prestigiando mais o cinema nacional. Estamos no caminho certo. As perspectivas para os próximos anos são as melhores possíveis.

Estando três décadas na estrada, o que você ainda não fez profissionalmente que pretende correr atrás?

Eu só quero trabalhar, contar histórias. É assim que eu me sinto, um contador de histórias, seja no cinema, no teatro ou na televisão. Bom, pensando agora nisso, cinema é uma coisa que me falta um pouco. Na minha história, eu fiz muito mais televisão e teatro do que cinema. Cheguei a abrir mão de vários trabalhos por falta de agenda. Falta, então, eu me dedicar mais nessa área. Esse ano é um ano bacana nesse sentido, porque, além de Vai Que Dá Certo, em junho eu lanço também mais um longa de comédia, que é Concurso Público. É mais um trabalho bacana que faz parte do meu foco de 2013, que é o cinema. Lembrando que eu não gosto de me fechar, exatamente porque pode pintar um trabalho legal na TV, no teatro. Nossa vida é essa loucura.

Talvez um trabalho com o irmão Selton Mello?

(Risos) A gente tem muita vontade de trabalhar, claro, e perguntam isso o tempo todo. Não sei o que vai ser. Cada um tem uma vida tão maluca. Quem sabe um dia a gente consegue juntar a agenda e fazer algo junto. Seria incrível. A minha experiência em O Palhaço já foi um máximo. O Selton é incrível, uma referência para mim. E eu estava ali, com ele, como diretor. Fiquei muito feliz e emocionado de ver meu irmão dirigindo, tomando conta de um set, fazendo o filme que ele fez, premiadíssimo, sucesso de público e de crítica. Espero encontrar com ele sim e em breve, seja onde for. Esse encontro tem que rolar em algum momento.

Você sempre declara que seu estilo de vida é muito tranquilo e que tenta levar o dia a dia sempre de boa. Aquele acidente de helicóptero de 1998 foi o que fez você a adotar esse estilo de vida?

O engraçado é que não. Esse é meu estilo de vida mesmo antes do acidente. Eu sempre pensei que a gente tem que aproveitar a vida porque a gente não sabe o dia de amanhã. Mesmo. E eu vi de perto que tudo pode acontecer. Temos que só fazer coisas boas, ser humildes, tolerantes, solidários. Isso é o que eu ensino às minhas filhas (Luísa, de 11 anos, e Alice, de 9).

Como é essa relação com elas, aliás, já que, como você disse, sua rotina tem sido bastante corrida?

Eu faço tempo para elas. Mas elas estão acostumadas, porque desde que nasceram elas me acompanham. Eu levo pra coxia, levo para as gravações, então elas sabem que têm períodos que o papai vai ficar distante. Se vai ter teatro em São Paulo, então vou ficar um mês ensaiando, mas depois elas sabem que estou de volta. Eu tenho uma relação muito bacana com a mãe delas (a roteirista Laura Malin), é minha parceira. O que é ótimo, porque eu não tenho dia fixo. Se estou no teatro, eu fico fora no final de semana, então aproveito os dias da semana. Algumas vezes levo elas para São Paulo. A convivência é grande, e elas entendem e adoram, torcem pelo papai. Aliás, é a primeira vez que elas me viram no cinema. Elas foram comigo na pré-estreia no Rio e eu fiquei muito emocionado. Elas curtiram, riram, não entenderam metade (risos), mas é diferente, tela grande. Foi muito gostoso.

Alguma delas quer seguir o mesmo caminho que o seu?

Olha, elas não pediram nada ainda, mas elas têm um lado artístico grande. Até porque a escola delas oferece muita coisa artística. Fazem peças, aula de dança, de circo. Mas não tem nada oficial ainda. Elas sabem que o dia que elas pedirem, vai ser fácil e eu vou dar total apoio. Eu já disse que vou apoiar sempre o que elas quiserem, por isso eu tento proporcionar diversas experiências, para elas conhecerem e se identificarem com o que acharem melhor, se sintam bem. Tem que fazer algo que goste. Só isso importa.

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