João Orlando Pavão fala sobre a baixa adesão a campanhas de vacinação nos últimos anos (Divulgação)
Cerca de 39% das crianças brasileiras com até cinco ano de idade não estão completamente protegidas contra a poliomielite, pois não foram vacinadas em 2022. Segundo dados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações obtidos pela plataforma DataSUS, a cobertura vacinal para a pólio está em 61%, atualmente, no Brasil.
O alerta, feito em setembro pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) nas Américas, preocupou o provedor da Santa Casa de Piracicaba, João Orlando Pavão. “Recentemente, a OMS classificou como alto o risco da volta da paralisia infantil no Brasil, colocando o País em alerta máximo; não podemos deixar isso acontecer”, disse o provedor.
Ele lembra que a vacinação é a única forma de prevenção e todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas na rede pública de saúde com três doses da vacina injetável – VIP (aos 2, 4 e 6 meses) e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente – VOP (gotinha).
Pavão alerta pais e responsáveis para a importância da vacinação e para o perigo da doença, contagiosa e causada por um vírus que vive no intestino e que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas, provocando ou não a paralisia.
Não existe tratamento específico e todas as vítimas de contágio devem ser hospitalizadas, recebendo tratamento dos sintomas de acordo com o quadro clínico do paciente.
Os sintomas mais frequentes são febre, mal-estar, dores de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação (prisão de ventre), espasmos, rigidez na nuca e até mesmo meningite. Nas formas mais graves instala-se a flacidez muscular, que afeta, em regra, um dos membros inferiores.
Por estar relacionada com a infecção da medula e do cérebro pelo poliovírus, a poliomielite deixa como sequelas problemas e dores nas articulações; pé torto, conhecido como pé equino, em que a pessoa não consegue andar porque o calcanhar não encosta no chão; crescimento diferente das pernas, o que faz com que a pessoa manque e incline-se para um lado, causando escoliose; osteoporose; paralisia de uma das pernas; paralisia dos músculos da fala e da deglutição, o que provoca acúmulo de secreções na boca e na garganta; dificuldade de falar; atrofia muscular; e hipersensibilidade ao toque.
As sequelas da poliomielite são tratadas através de fisioterapia e exercícios que ajudam a desenvolver a força dos músculos afetados, além de ajudar na postura, melhorando assim a qualidade de vida e diminuindo os efeitos das sequelas. Além disso, pode ser indicado o uso de medicamentos para aliviar as dores musculares e das articulações.
O provedor lembra que a doença provocou inúmeros surtos e epidemias em território nacional e em outras partes do mundo no século 20. No Brasil, foram 26.827 casos entre 1968 e 1989, quando muitas campanhas de vacinação em massa foram necessárias até que o país fosse declarado livre da poliomielite, em 1994.
De 2015 para cá, porém, a cobertura vacinal tem deixado a desejar, o que acendeu o alerta sobre a possibilidade de retorno da doença no país. De acordo com dados do Ministério da Saúde, há seis anos, 98,2% do público-alvo receberam as doses. Já em 2016, essa taxa caiu para 84,4%, patamar que se manteve até 2019. Em 2021, a imunização contra a doença foi de apenas 67,1% e, em 2022, de apenas 61%.