Desde a reabertura dos estádios no Brasil no fim de 2021, após o fechamento pela pandemia, a média de público no futebol não parou de crescer. Na temporada passada, o Brasileirão registrou a terceira melhor marca da história da competição nesse quesito. Dos vinte clubes participantes, sete levaram mais de 30 mil pessoas por jogo no campeonato. Apenas com a venda de ingressos, foram mais de R$ 307 milhões arrecadados. As cifras despertaram o interesse de grandes empresas da área gastronômica e do entretenimento, que intensificaram os investimentos em camarotes e ativações nessas arenas esportivas.
Nos principais estádios do futebol paulista, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos alugam espaços para a Soccer Hospitality. A agência, especializada na gestão de camarotes, oferece atrações musicais antes das partidas, além de serviço de comidas e bebidas. Tudo está no valor do ingresso.
No Morumbi, por exemplo, o "Camarote dos Ídolos" convida jogadores da história do clube para interagir com os torcedores comuns. Na Neo Química Arena, o FielZone conta até com piscina para os alvinegros aproveitarem o calor e o local também recebe shows curtos em dias sem jogos do Corinthians. São espaços diferenciados. Já no Allianz Parque, o Fanzone fica atrás do Gol Sul, com espaço privilegiado para torcedores. Na Baixada, o Boteco Santista agita o pré e pós-jogo na Vila Belmiro, com música ao vivo e também com a presença de ídolos do alvinegro. O jogo em questão é o agente principal, mas ele não é mais o único no interesse dos torcedores.
"Os torcedores conseguem, assim, ter experiências que vão além dos 90 minutos de disputa. Buscamos levar ideias inovadoras para dentro dos estádios, como a instalação de barbearias e estúdios de tatuagem. São ações diferentes, mas que se popularizaram entre as pessoas que buscam acompanhar o futebol em um ambiente mais descontraído", afirma Léo Rizzo, CEO da Soccer Hospitality.
Faz parte da intenção desses investidores fazer com o que o torcedor fique mais tempo dentro das arenas e aproveite outras atrações antes do apito inicial do jogo. Boa parte dos torcedores entra no estádio com uma hora de antecedência, de modo a se acomodar em sua cadeira e esperar pela partida. Isso vai acabar. Eles terão mais o que fazer para se divertir até a hora do jogo.
De modo geral, as novas arenas esportivas no Brasil se esforçam para oferecer portas abertas ao público em dias comuns, sem a atividade esportiva de seus respectivos times. No Palmeiras, por exemplo, há espaços para coworking durante a semana. O Pacaembu, que ainda está em reforma, com a promessa de voltar à ativa em janeiro de 2024, tem a mesma pegada em seu projeto: abrir espaço para que as pessoas do bairro frequentem o local sem que haja necessariamente dois times em campo. Nas entrelinhas, há a necessidade de uma nova fonte de receita.
Além das atrações musicais, a alta gastronomia também ganhou terreno nas casas dos gigantes paulistas. Os torcedores podem assistir aos jogos em restaurantes especializados em comida japonesa, churrascaria e até culinária árabe.
Mark Zammith, CEO da GSH, empresa que participa de operações em arenas e administra três restaurantes no Allianz, destaca o potencial e a importância dessas casas nos estádios. "Os estádios de futebol, tradicionalmente, sempre foram conhecidos por fornecerem refeições rápidas, conceito que mudou nos últimos anos. Hoje, os torcedores podem acompanhar ao jogo e usufruir da alta gastronomia, com cardápios assinados por personalidades renomadas da cozinha contemporânea", diz Mark.
Em Ribeirão Preto, a Arena Eurobike, espaço multiúso dentro do estádio Santa Cruz, casa do Botafogo-SP, possui um "lounge" personalizado de uma dos maiores fabricantes de whisky do mundo e uma unidade de uma rede americana de fast-food. Em dias de jogos, esses locais recebem um público mais exigente, com comidas e bebidas antes das partidas. O espaço, claro, dá visão para o campo.
Além de acompanharem os jogos do Botafogo, que disputa a elite do futebol paulista e a Série B do Campeonato Brasileiro, a atratividade dos espaços aumentou com a presença de shows internacionais, como Iron Maiden, Guns N'Roses e Kiss. "O futebol é um produto que conta com atrativos naturais, mas, aliado ao entretenimento, desperta um interesse ainda maior de grandes players do mercado. A rotina de eventos importantes foi uma grande aliada para a captação dessas empresas, que associaram a marca ao Botafogo, trazendo credibilidade e respaldo para novos negócios", diz Adalberto Baptista, gestor da SAF Botafoguense.