O Ibovespa acompanhou a acentuação de ganhos em Nova York ao longo da tarde desta terça, 19, e conseguiu recuperar a linha dos 98 mil pontos, não vista em fechamento desde a terça-feira passada, dia 12. Assim, encerrou hoje em alta de 1,37%, aos 98.244,80 pontos, entre mínima de 96.917,30 e máxima de 98.346,17 na sessão, saindo de abertura aos 96.919,84 pontos. Ainda fraco, o giro ficou em R$ 18,8 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o Ibovespa avança 1,75%, limitando a perda do mês a 0,30% e a do ano a 6,28%. Foi o terceiro ganho seguido para a referência da B3.
Na ponta do Ibovespa, Alpargatas subiu 8,35%, à frente de Marfrig (+8,23%) e de Embraer (+7,70%), com Yduqs (-4,01%), Cogna (-3,32%) e Fleury (-2,49%) na ponta oposta. Entre as blue chips, o sinal prevalente na sessão foi positivo, com destaque para Bradesco PN (+3,66%) e Petrobras PN (+2,03%). As siderúrgicas também tiveram recuperação, com destaque para Usiminas (PNA +3,31%), Gerdau (PN +2,61%) e CSN (ON +2,36%), em dia de avanço modesto para Vale (ON +0,22%).
Os mercados acionários da Europa também fecharam o dia em alta, com os investidores na expectativa pela decisão monetária do Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira, quando se espera o primeiro aumento de juros em 11 anos na zona do euro. Hoje, o índice pan-europeu Stoxx 600 subiu 1,38%, a 423,41 pontos, apesar do nível recorde de 8,6% ao ano para a inflação no bloco da moeda única em junho, divulgada pela manhã.
"A B3 seguiu hoje o movimento de recuperação nas principais bolsas dos Estados Unidos e da Europa. Na próxima semana, há nova decisão do Federal Reserve sobre juros, e houve (desde ontem) melhora da perspectiva para a reunião, de que poderá vir um aumento de 75 pontos-base, e não mais de 100 pontos como chegou a se precificar. Essa reprecificação do aumento de juros trouxe certa calmaria para os mercados, com busca por pechinchas nas bolsas", diz Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3, acrescentando que a recente correção das ações resultou em oportunidades de compra.
"Estudo do Bank of America indica que a alocação em ações está no menor patamar desde outubro de 2008, o que contribui para a animação dos investidores, ao sinalizar um possível 'fundo' (atingido)", observa Esteves, referindo-se também à expectativa relativamente favorável para a temporada de resultados trimestrais. Assim, depois da forte realização até o início do mês, os mercados podem estar começando a ter um "respiro", diz o analista. "Hoje, surfou o bom humor externo."
O dia foi negativo para o minério na China (queda de 3,27% em Qingdao), mas o petróleo manteve a retomada, ainda que moderada na sessão, com Brent e WTI de volta aos três dígitos por barril. "Vemos um mundo em que commodities vão ficar valorizadas por um bom período e as empresas que as produzem terão lucros extraordinários em horizonte relevante. Vemos o ajuste de curto prazo sendo feito pela redução do ritmo de atividade econômica no mundo, um período de baixo crescimento que começa a se desenhar com clareza. Com a desaceleração em marcha devemos estar muito perto do pico da inflação no Ocidente", avalia em carta trimestral a Reach Capital.
"No atual momento, estamos diminuindo a exposição a commodities, com exceção das empresas ligadas a petróleo, e aumentando a exposição a bancos com baixo risco de inadimplência de pessoas físicas, utilities com crescimento/aumento eficiência e mais CDI do que nossa média habitual, esperando o melhor momento para aumentar nossas posições nas empresas cíclicas locais e que estão nos melhores preços em mais de uma década", acrescenta a casa.
Dólar
O apetite ao risco no exterior, com alta firme dos índices acionários em Nova York e enfraquecimento global da moeda americana, abriu espaço para um recuo, ainda que modesto, do dólar mercado de câmbio doméstico na sessão desta terça-feira (19). Tirando uma alta pontual pela manhã, quando tocou máxima a R$ 5,4313, a moeda operou em queda ao longo de todo o pregão e chegou a esboçar fechamento abaixo de R$ 5,40, ao descer até mínima de R$ 5,4313 no meio da tarde. No fim do dia, a divisa havia reduzido o ritmo de perdas e era cotada a R$ 5,4202, em baixa de 0,10%.
Operadores veem o tropeço do dólar hoje como um movimento natural de ajustes e realização de lucros por parte das tesourarias, dada a forte rodada de depreciação do real nas últimas semanas. Embora ainda haja cautela com o cenário político e fiscal doméstico, os negócios são balizados principalmente pelo ambiente externo. Investidores monitoram a chance de recessão global em meio à alta de juros nos Estados Unidos e na Europa. Há também dúvidas sobre o fôlego da economia chinesa, que enfrenta problemas no setor imobiliário e convive como vaivém de medidas restritivas para combate à Covid-19.
Depois de chegar a operar abaixo da paridade com o dólar, o euro ensaiou hoje uma recuperação, favorecido pela possibilidade de que o Banco Central Europeu (BCE) eleve a taxa básica em 50 pontos-base na quinta-feira (21), segundo informação da Reuters. A taxa anual de inflação ao consumidor na zona do euro, divulgada pela manhã, acelerou de 8,1% em maio para 8,6% em junho, nova máxima histórica. Enquanto se especula em ação mais dura do BCE, consolida-se a aposta de que o Federal Reserve vai anunciar nova alta de 75 pontos-base na taxa básica na semana que vem (dia 27), em vez dos 100 pontos aventados recentemente com números de inflação acima do esperado.
Em meio a esse jogo de forças, investidores aparam excessos e recalibram as apostas em fortalecimento adicional da moeda americana. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes, sobretudo o euro e o iene - passou a operar abaixo da linha dos 107 pontos, após ter superado 108 pontos na semana passada. O DXY ainda acumula alta de quase 2% em julho e de mais de 11% no ano. O dólar também perdeu força hoje em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, mas subiu frente a pares do real como o peso mexicano e o colombiano.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, classifica a perda de força da moeda americana nesta terça-feira com um movimento pontual, em meio à possibilidade de uma alta maior dos juros pelo BCE. Como Estados Unidos ainda devem exibir taxas de juros e desempenho econômico superiores ao de zona do euro e Reino Unido, o dólar segue bem posicionado frente tanto ao euro quanto a libra. Por aqui, Velho vê chance de nova rodada de depreciação do real ao longo desta semana, dados os ruídos políticos e uma política fiscal expansionista no curto prazo que, por questões políticas, será de difícil reversão em 2023.
Apesar da influência do ritmo de aperto monetário nos países desenvolvidos sobre a formação da taxa de câmbio, o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, vê o real muito mais suscetível ao desempenho da economia chinesa e seus reflexos direitos na cotação dos preços das commodities. "O grande ponto para o Brasil é a China. Se melhorar, puxa o dólar para baixo aqui, que hoje está esticado. Vejo um dólar médio na casa de R$ 5,20", diz Velloni, para quem a taxa de câmbio já incorporou boa parte dos riscos políticos e fiscais recentes.
O minério de ferro fechou em queda de 3,27% em Qingdao, na China, devolvendo boa parte dos ganhos da sessão anterior, quando subiu mais de 2% na esteira de sinais de apoio do governo chinês ao setor imobiliário. A cotação futura do cobre, que também havia disparado ontem, caiu nesta terça-feira. Houve notícias sobre o aumento de infecções por coronavírus em diversas cidades da China. E, segundo o The Wall Street Journal, dos principais centros financeiros do país, Xangai e Tianjin, ordenaram uma nova rodada de testes em massa.
Na contramão, as cotações do petróleo se recuperaram e apresentaram leve alta. Com o arrefecimento recentes dos preços da commodity, a Petrobras anunciou hoje redução do litro da gasolina em R$ 0,20 nas suas refinarias, uma queda de cerca de 5%. A partir de amanhã, o litro da gasolina passa a custar R$ 3,86 para as distribuidoras.
A última edição da LatAM Fund Manager Survey (Pesquisa de Gestores de Fundos da América Latina), do Bank of America (BofA) mostra uma piora das expectativas para o desempenho do real. Segundo o BofA, a proporção de gestores que vê o dólar entre R$ 5,11 e R$ 5,70 no fim do ano saltou a 74% em julho, ante 9% em junho. No levantamento anterior, a expectativa majoritária era de câmbio entre R$ 4,81 e R$ 5,10. Enquanto somente 35% dos entrevistados em junho esperavam ver o dólar mais forte em 2022, agora a percepção abrange 71% dos participantes.
Juros
Os juros futuros voltaram a fechar em alta, desafiando a melhora do apetite global ao risco que manteve o dólar em baixa generalizada. Em tese, o exterior hoje favorável e a agenda e noticiário esvaziados dariam condições para uma correção da disparada dos prêmios recentes, mas fatores técnicos e receios com o quadro fiscal e eleitoral acabaram por adicionar cautela. Nesse contexto, o Tesouro não conseguiu vender integralmente o lote de NTN-B no leilão que teve taxas salgadas.
Das últimas cinco sessões, quatro foram de avanço nas taxas e, apesar de alguns vértices do trecho intermediário já estarem acima de 14%, nesta terça-feira foram os vencimentos longos os mais penalizados. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 13,907% ontem no ajuste para 13,92% e a do DI para janeiro de 2024, de 13,962% para 14,035%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 13,445%, de 13,345% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 13,36% (máxima), de 13,21% ontem.
A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, vê o movimento do DI longo descolado da melhora dos demais ativos domésticos justamente por causa do quadro preocupante para as contas públicas e risco eleitoral, mas com pressão limitada hoje pela queda do dólar. "Depois da volta do Congresso e com as eleições se aproximando, não se sabe se teremos mais medidas na linha do que foi a PEC dos Benefícios", afirmou. A PEC prevê R$ 41,25 bilhões em despesas fora do teto de gastos e estado de emergência para o País. Ela disse ainda que o programa econômico dos candidatos a presidente que lideram as pesquisas de intenção de votos é uma incógnita, mas com ambos sabidamente contrários à regra que limita o aumento das despesas à variação da inflação.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries também continuaram avançando, com o mercado vendendo papéis e migrando para o mercado de ações e agentes relativizando o risco de o aperto monetário do Federal Reserve deprimir a economia. Na Europa, as apostas de que o Banco Central Europeu (BCE) pode abrir o ciclo de aperto monetário com uma dose de 50 pontos na quinta-feira ganharam força após a divulgação da inflação ao consumidor na zona do euro, que atingiu recorde de 8,6% em junho em termos anuais. O efeito seria negativo para atividade, já ameaçada pela possibilidade de redução no fornecimento de gás pela Rússia. Por outro lado, esse gargalo na oferta do combustível também pode pressionar ainda mais os preços de energia. Uma alta mais firme do juro pesaria ainda nas dívidas dos países da União Europeia, em especial da Itália cujos bônus já sofrem com os riscos políticos.
Segundo a Renascença, há nas mesas de renda fixa um debate sobre o intenso carrego negativo das NTN-B, "que deve perdurar por mais algumas semanas e também o desmonte de posições compradas em inflação implícita, mas com os players ainda carregando uma parte do DI, dado o cenário ainda bastante conturbado".
No leilão do papel realizado pela manhã, o Tesouro Nacional manteve a mesma oferta de 250 mil títulos lançada na semana passada, mas com risco menor para o mercado, colocando boa parte do lote (239.100) e com taxas dentro do consenso, segundo a Necton Investimentos.
Assim como o alívio do câmbio, o anúncio da Petrobras de redução nos preços da gasolina em R$ 0,20 a partir de amanhã pouco mexeu com as taxas. "Já era esperado em função do comportamento de queda do petróleo recentemente", afirma Veronese, referindo-se à política de paridade com preços internacionais da companhia. Nos cálculos dos especialistas, a medida deve ter impacto de queda entre 0,20 e 0,25 ponto porcentual no IPCA de 2022.