O desempenho de Pablo Marçal (PRTB) nas pesquisas e nas redes sociais após o lançamento de sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo gerou um temor entre bolsonaristas no Estado de que ele pode atrapalhar os planos do grupo para a eleição ao Senado. A avaliação é que o coach busca utilizar o pleito municipal para se cacifar como postulante a uma das duas vagas que estarão em disputa em 2026. A aliados, Marçal tem dito que seu foco é o Executivo e que não deseja ser senador.
Eduardo Bolsonaro (PL) foi lançado como pré-candidato ao Senado por Valdemar Costa Neto em um evento em Campos do Jordão (SP) na semana passada. O outro candidato bolsonarista seria o atual secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), que conta com o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Inicialmente, a pré-candidatura de Marçal foi vista com bons olhos entre lideranças bolsonaristas, porque era considerada uma forma de pressionar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) a aceitar formar chapa com o ex-coronel da Rota, Ricardo de Mello Araújo (PL), indicação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser vice do emedebista.
Porém, a largada de Marçal, que apareceu com 7% na última pesquisa Datafolha e com 10,4% na pesquisa AtlasIntel, ligou o alerta sobre o potencial eleitoral do pré-candidato do PRTB. Embora não sigam métodos científicos e não tenham valor estatístico, enquetes sobre a eleição paulistana realizadas em páginas bolsonaristas nas redes sociais surpreenderam integrantes do PL ao apontarem uma preferência deste público pelo coach em relação a Nunes.
A avaliação é que Marçal consegue cativar parte dos eleitores bolsonaristas, mas devido a seu alcance nas redes sociais fala para um público mais amplo, o que poderia tirar votos de Eduardo e Derrite em uma eventual disputa. A preocupação de lideranças bolsonaristas paulistas com o coach foi publicada pelo Metrópoles na quinta-feira, 13.
O Estadão apurou que nos últimos dias aliados de Marçal procuraram a vereadora Sonaira Fernandes (PL), ex-assessora de Eduardo Bolsonaro, em busca de uma reunião com o filho do ex-presidente. Eduardo já se encontrou com o coach anteriormente, mas teria recusado o pedido desta vez.
Procurada, a pré-campanha de Marçal disse que não houve recusa. "Não houve nenhum pedido negado até o momento. Existe uma aceitação muito boa da nossa pré-candidatura e por isso existe campo para dialogar com todas as autoridades e nomes relevantes no cenário político paulistano, com exceção do Boulos que não procuramos e nem pretendemos", declarou o presidente do partido, Leonardo Avalanche (PRTB).
"Preferimos não comentar as afirmações", respondeu o gabinete de Sonaira por email após ser questionado sobre o pedido de reunião de Marçal e a negativa de Eduardo Bolsonaro. A reportagem ligou e mandou mensagens para o filho do ex-presidente ao longo desta sexta-feira, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Embora tenha ganhado terreno entre eleitores do ex-presidente, o encontro de Marçal com o ex-governador João Doria não foi bem recebido entre os bolsonaristas. Diante da reação, o pré-candidato do PRTB enviou comunicado à imprensa pela manhã em que questiona Bolsonaro por apoiar Nunes.
"O Doria trabalhou incansavelmente na tentativa de me dissuadir da ideia de sair como candidato e de me tirar do páreo, me rebaixando a vice de Nunes. Pois eu reafirmo que não serei vice de ninguém e fica a minha pergunta: Como o Bolsonaro vai apoiar um cara que tem o Doria como articulador?", questiona o coach.
Bolsonaro muda postura e desautoriza encontro de deputados com Marçal
Diante da preocupação com Marçal, um aliado diz que é provável que o grupo ligado à família Bolsonaro inicie uma atuação mais críticas ao coach nas redes sociais e que o assunto é discutido nos bastidores. Publicamente, Jair Bolsonaro também mudou sua abordagem em relação a Marçal. No último dia 4, ele entregou ao coach a medalha de "imbrochável", "imorrível" e "incomível", tradicionalmente destinada apenas aos aliados mais próximos - Nunes, por exemplo, só recebeu a medalha nesta sexta-feira. Como mostrou o Estadão, o pré-candidato do PRTB disse após o encontro que o ex-presidente não apoiaria o atual prefeito, mas foi desmentido no dia seguinte pelo próprio Bolsonaro.
Embora tenha se encontrado com Marçal há 10 dias, o ex-presidente desautorizou nesta sexta-feira que a bancada do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) recebesse o coach para uma reunião. Em entrevista ao lado de Nunes na Prefeitura de São Paulo, ele disse que faria chegar a Valdemar que o partido precisa estar unido em torno do prefeito.
"Quem da bancada do PL vai estar presente?", respondeu Bolsonaro ao ser questionado sobre o assunto. O encontro foi revelado pela deputada estadual Dani Alonso (PL), que é amiga de Marçal, em uma publicação nas redes sociais. "Eu não tenho nada a falar no tocante ao Pablo Marçal [...] Marçal me criticava muito até 2022 e quando perdeu a oportunidade de disputar a Presidência passou a me apoiar. Esteve comigo algumas vezes, me ajudou, e não poderia negar uma conversa com ele. Agora, apoio em si vamos estar alinhados [com Nunes]", disse o ex-presidente.
Após a fala de Bolsonaro, a reunião dos deputados estaduais com Marçal perdeu força, mas ele ainda deve ir à Alesp na próxima semana. Dani Alonso declarou ao Estadão que em nenhum momento disse que o coach se reuniria com a bancada do PL de maneira formal, mas sim com deputados que gostariam de conversar com ele.
"Não teve essa coisa de almoço [da bancada]", explicou a deputada. "Na verdade, foi um convite para ele estar com a gente na Alesp porque é um grande amigo e defendemos as mesmas pautas e ideais. Mas acima de tudo vamos seguir a linha do partido e do que o Bolsonaro ordenar", concluiu Alonso.
Líder da bancada do PL, o deputado Carlos Cezar (PL) disse que nunca houve convite oficial para receber Marçal. "A deputada Dani Alonso é uma amiga pessoal do Pablo Marçal e a Alesp é um espaço público, no qual todos são bem-vindos; porém, vale ressaltar que nunca houve nenhum convite oficial para recebe-lo na reunião de bancada. Mesmo porque a liderança do Partido Liberal é uma representação partidária alinhada à visão da legenda", afirmou o parlamentar, em nota.