Diplomatas se esforçaram neste domingo, 15, para amenizar a escalada da crise humanitária em Gaza e tirar os estrangeiros do enclave bloqueado. O movimento ocorre em meio ao aumento dos confrontos ao longo da fronteira de Israel com o Líbano e aos ataques aéreos israelenses na Síria, que alimentaram os temores de um conflito mais amplo na região.
Centenas de milhares de pessoas que vivem no norte da Faixa de Gaza estão fugindo em ônibus, carros e a pé, aglomerando-se em estradas estreitas que levam ao sul após o aviso de evacuação de Israel. O contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, afirmou neste domingo que cerca de 600 mil pessoas haviam se deslocado para o sul da região e que outras deveriam seguir o exemplo.
Segundo a agência de notícias Associated Press, a água acabou nos abrigos da ONU em toda a Faixa de Gaza, enquanto milhares de pessoas se aglomeravam no pátio do maior hospital do território sitiado como refúgio de último recurso de uma iminente ofensiva terrestre israelense. Médicos sobrecarregados lutavam para cuidar de pacientes que eles temem que morram quando os geradores ficarem sem combustível.
Israel cortou o fluxo de alimentos, medicamentos, água e eletricidade para Gaza, bombardeou bairros com ataques aéreos e disse aos cerca de 1 milhão de residentes do norte para fugirem para o sul antes do ataque planejado por Israel. O Ministério da Saúde de Gaza disse que mais de 2,3 mil palestinos foram mortos desde o início dos combates no último fim de semana. A maioria dos mortos de ambos os lados são civis, incluindo pelo menos 724 crianças em Gaza, segundo a ONG Defense for Children International.
O exército israelense afirmou que está preparando uma "ampla gama" de planos ofensivos "para os próximos estágios da guerra, com ênfase em operações terrestres significativas", embora não tenha fornecido uma indicação concreta de quando o ataque começaria. Neste domingo, foi oferecida aos habitantes de Gaza outra breve janela para se deslocarem para o sul da região por meio de uma passagem segura.
Com oficiais militares israelenses de alto escalão sinalizando sua intenção de invadir Gaza, o novo governo de emergência em tempo de guerra de Israel realizou sua primeira reunião formal neste domingo, e parecia estar se preparando para a invasão.
"Vamos acabar com o Hamas", disse o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu aos ministros do governo, de acordo com uma declaração de seu gabinete.
Os Estados Unidos enviaram um segundo grupo de ataque de porta-aviões, o Dwight D. Eisenhower, para o leste do Mediterrâneo, juntando-se ao Gerald R. Ford e suas escoltas, para ajudar a "impedir ações hostis contra Israel ou quaisquer esforços para ampliar essa guerra", disse o secretário de Defesa, Lloyd J. Austin III em comunicado.
Israel está há dias em uma campanha de ataques aéreos de retaliação em Gaza que começou depois que terroristas do Hamas mataram mais de 1,3 mil israelenses em uma incursão brutal no último fim de semana. O ataque terrorista também resultou no sequestro de cerca de 150 pessoas, entre as quais uma filha e neta de brasileiros de 18 anos.
No domingo, os militares israelenses advertiram novamente os residentes do enclave a se deslocarem para o sul e ofereceram uma janela de três horas ao meio-dia para sair pela Salahuddin Road, uma rodovia principal.
Mas o Ministério da Saúde de Gaza disse que não evacuaria os hospitais. "Nossa posição moral nos obriga a continuar trabalhando", disse o porta-voz do ministério, Ashraf al-Qudra, em comunicado.
A mídia palestina noticiou no domingo que um ataque israelense a uma casa em Rafah, perto da passagem fechada da fronteira com o Egito, havia matado pelo menos 17 membros de uma família.
Quase metade da população de Gaza já foi deslocada e está enfrentando a escassez de suprimentos de alimentos e água depois que Israel declarou um "cerco completo" para cortar o acesso de produtos básicos ao enclave.
Jake Sullivan, assessor de segurança nacional da Casa Branca, disse à CNN no domingo que Israel havia restaurado o abastecimento de água em parte de Gaza, embora não houvesse confirmação imediata por parte das autoridades locais ou de Israel.
Os Estados Unidos têm tentado persuadir Israel a abrir um corredor que permitiria a entrada de ajuda e a saída de estrangeiros, ao mesmo tempo em que tentam intermediar um acordo para o mesmo através da passagem de Rafah, no Egito. No entanto, mesmo com os estrangeiros se reunindo perto da fronteira egípcia em antecipação, os esforços diplomáticos estão encontrando obstáculos.
Ajuda humanitária a Gaza
Neste domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou em sua conta no X (antigo Twitter) ter conversado com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para condenar o ataque terrorista do Hamas a Israel e reiterar que o grupo terrorista "não defende o direito do povo palestino à dignidade e à autodeterminação".
Na mensagem, Biden disse que assegurou à Abbas que irá trabalhar para a chegada de ajuda humanitária à região. "Estamos trabalhando com parceiros na região para garantir que os suprimentos humanitários cheguem aos civis em Gaza e para evitar que o conflito se amplie", escreveu.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou também neste domingo a nomeação do embaixador David Satterfield como enviado especial do país para questões humanitárias no Oriente Médio. De acordo com comunicado da Casa Branca, Satterfield será responsável por garantir que "a assistência que salva vidas possa chegar às pessoas vulneráveis em todo o Oriente Médio".
"A experiência diplomática do Embaixador Satterfield e décadas de trabalho navegando em alguns dos conflitos mais desafiadores do mundo serão fundamentais para o nosso esforço contínuo para resolver questões humanitárias na região - uma prioridade máxima para o presidente (Joe) Biden - incluindo os nossos esforços para levar a assistência humanitária urgentemente necessária ao povo palestino, especialmente em Gaza, em coordenação com a ONU, o Egito, a Jordânia, Israel e outras partes interessadas regionais", afirma a nota.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, retornará a Israel nesta semana após visitas a seis países árabes voltadas a evitar que a guerra entre Israel e Hamas desencadeie um conflito regional mais amplo.
O Departamento de Estado dos EUA anunciou o plano de Blinken de viajar na segunda-feira (16) a Israel - sua segunda visita ao país em cinco dias. Neste domingo, Blinken chegou ao Cairo, no Egito, para conversas com o presidente do país, Abdel Fattah al-Sisi. Foi a última reunião do secretário com líderes árabes. Nos três dias anteriores, ele se encontrou com os líderes dos Emirados Árabes Unidos, do Bahrein, Catar, Jordânia e da Autoridade Palestina.
O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse aos repórteres que viajavam com Blinken que o secretário estava retornando a Tel Aviv "para novas consultas com autoridades israelenses". Miller não deu mais detalhes. (Com agências internacionais).