Internacional

Em Berlim, rei camaronês senta em trono que era de seu povo e está exposto em museu

Estadão Conteúdo
16/06/2023 às 12:31.
Atualizado em 16/06/2023 às 12:35

Em passagem pela Europa durante o último fim de semana, Nabil Mouhamed Mfonrifoum Mbombo Njoya, o rei do povo Bamum, de Camarões, chamou a atenção ao se sentar no trono que era do seu povo e que, atualmente, está exposto no Museu Etnológico do Humboldt Forum, em Berlim. A peça foi levada pela Alemanha em 1908, durante a colonização.

Em imagens divulgadas pela Embaixada de Camarões na Alemanha, é possível ver o monarca sentado sob o trono, rodeado de dezenas de pessoas, que celebravam o momento e faziam registros em seus celulares. A Embaixada disse que, ao chegar no museu, "o sultão sentou-se diretamente em seu trono, par a satisfação da comunidade Bamum e dos camaronenses, que vieram em grande número para celebrar esta parte da história de Camarões".

A atitude de Mbombo Njoya foi encarada com efervescência pelo seu povo e levantou o debate sobre a relação hierárquica entre colonizadores e colonizados e a herança do colonialismo que, durante séculos, foi marcada por essa espécie de colecionismo de objetos históricos e itens sagrados das nações dominados por parte das potências coloniais, especialmente as europeias.

De nome Mandu Yenu, o trono do período pré-colonial, que é considerado um símbolo sagrado em Camarões, é apresentado pela Alemanha como um presente do então rei Njoya de Bamum, bisavó do atual monarca, ao imperador alemão Wilhelm II em 1908 para supostamente fortalecer o relacionamento com os governantes coloniais alemães.

Entretanto, a narrativa não é fortalecida pelo povo Bamum, que questiona a espontaneidade dessa doação. Segundo a National Geographic, em 1907, as autoridades alemãs sugeriram a Njoya que no aniversário de 50 anos seria um gesto de boas-vindas presenteá-lo com uma réplica do trono. Njoya recusou muitas ofertas alemãs de compra ou troca pelo trono, mas neste caso ele concordou. Ele providenciou uma cópia do Mandu Yenu, mas quando ficou claro que a cópia não estaria pronta a tempo para o aniversário de Wilhelm, Njoya teria sido persuadido a entregar o original.

O Mandu Yenu é característico pela sua iconografia significativa, com uma serpente de duas cabeças que adorna a base cilíndrica do trono, que representa o poder real. A peça contém búzios, originários do Oceano Índico e que foram usados como moeda em grandes partes do mundo. Ele é feito de madeira, que foi coberta com linho e com contas de vidro e os búzios. Os materiais, considerados valiosos e caros, serviram como demonstração de poder e riqueza.

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