Após a crise financeira de 2008, os Estados Unidos confiaram fortemente no Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para estimular o crescimento econômico, levando a uma frequente piada de que a política monetária havia se tornado o "único jogo da cidade".
Agora, a inflação alta está alimentando temores de que isso seja verdade novamente, mas na direção oposta: Washington corre o risco de confiar excessivamente no Fed para reduzir a inflação reduzindo a demanda, em vez de outros agentes econômicos trabalharem para aumentar a capacidade da economia de fornecer mais bens e serviços ou trabalhadores.
O perigo é o de que o Fed tenha que aumentar as taxas de juros por mais tempo, criando uma desaceleração econômica mais profunda.
A inflação disparou porque a oferta e a demanda estão fora de sintonia. A demanda aumentou após a reabertura da economia e os estímulos agressivos do governo. Depois, a invasão da Ucrânia pela Rússia agravou os gargalos na cadeia de suprimentos e elevou os preços da energia e das commodities.
A Casa Branca diz que o combate à inflação é principalmente responsabilidade do Fed, mas que agirá para reduzir os preços sempre que possível.
Enquanto isso, dirigentes do Fed indicaram que, se forçados a escolher entre reduzir a inflação ou evitar uma recessão, eles escolheriam o primeiro. "Nosso mandato diz 'estabilidade de preços'. Não diz 'estabilidade de preços, a menos que Putin invada a Ucrânia'", disse recentemente o governador do Fed, Christopher Waller, em referência ao presidente russo, Vladimir Putin.
O Fed deve aumentar as taxas de juros, na próxima quarta-feira, em 0,75 ponto porcentual, o que levaria sua taxa de referência para uma faixa entre 2,25% e 2,5%.
"Todos nós acordamos para o fato de que há problema do lado da oferta aqui, e ele precisa de alguma atenção - mas apenas tardiamente e não perto da atenção que vai precisar", disse John Cochrane, economista da Hoover Institution.
Um grande risco para a inflação é um possível aumento dos preços dos produtos petrolíferos. Embora os preços das commodities tenham recuado no mês passado em meio aos temores de uma recessão global, analistas do Goldman Sachs esperam que eles subam ainda este ano porque os estoques estão em níveis recordes e os produtores têm pouca capacidade ociosa.
Isso pode levar a um ciclo em que os preços sobem, fazendo com que o Fed aumente mais as taxas para reduzir a demanda, criando uma desaceleração com menos investimento de capital pelos produtores de commodities. "Recessões nunca levam a maiores investimentos em Capex, o que significa que você está criando uma escassez de oferta persistente", explicou o chefe de pesquisa de energia do Goldman Sachs, Damien Courvalin
O Employ America, um grupo de pesquisa e advocacia focado no fortalecimento do mercado de trabalho, diz que o governo dos EUA deve usar a autoridade da Reserva Estratégica de Petróleo para colocar um piso no preço do petróleo bruto dos EUA e financiar separadamente a perfuração de novos poços. Isso daria aos produtores americanos mais motivos para investir sem medo de que crises econômicas ou guerras de preços entre nações produtoras de petróleo os levem à falência.
Para Courvalin, os programas para subsidiar a produção de energia podem imitar o seguro agrícola federal existente que protege os agricultores contra quedas nos preços das commodities. Para aliviar as preocupações sobre mudanças climáticas, as autoridades podem combinar esse investimento com mais gastos no desenvolvimento de energia renovável.
Outros analistas apontam para a ajuda da política regulatória. Philip Verleger, economista de energia, alerta que os preços do diesel subiriam depois que um padrão internacional entrou em vigor, há dois anos, para reduzir o teor de enxofre nos combustíveis marítimos. "Os ambientalistas reclamariam, mas voltar atrás nessa regra faria uma grande diferença agora" ao reduzir o combustível diesel e os custos de transporte, disse ele.
Finalmente, a política fiscal pode, no mínimo, evitar aumentar a inflação, dizem os economistas. Vários estados promulgaram ou estão considerando descontos de inflação ou restituições de impostos. "Dar dinheiro às pessoas para pagar os preços mais altos da gasolina não vai ajudar", disse Cochrane, da Hoover Institution. Fonte: Dow Jones Newswires.