A bolsonarista Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, de 67 anos, que ficou conhecida como "Fátima de Tubarão" ao participar dos atos golpistas em 8 de janeiro, quer ir para prisão domiciliar. Detida por determinação do Supremo Tribunal Federal, ela ganhou destaque nas redes sociais após confessar em vídeo gravado durante os ataques que estava "quebrando tudo e cagando nessa bosta aqui". "Vamos pra guerra, vamos pra guerra. Vou pegar o Xandão agora", gritou ela, numa referência ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
Natural de Tubarão (SC), Fátima foi presa pela Polícia Federal na terceira fase da Operação Lesa Pátria, em Santa Catarina, no dia 27 de janeiro - quase 20 dias após os atos golpistas na capital federal. Desde então, ela está na Penitenciária Sul de Criciúma. A extremista entrou com pedido no Supremo para responder ao processo em liberdade, sob alegação de que precisa cuidar de duas crianças. Ela também é acusada de tráfico de drogas e falsificação de documentos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu parecer contrário ao afrouxamento do regime de prisão.
Henrique Falchetti, advogado de Fátima de Tubarão, contestou o parecer da PGR. "As manifestações da PGR estão sendo genéricas", disse Falchetti ao Estadão. O pedido ainda será analisado por Alexandre de Moraes, o ministro que ela ameaçou "pegar".
Ao longo desta semana, Moraes concedeu liberdade provisória para mais de 200 apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que foram presos após a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo. Eles não foram apontadas pelas investigações como financiadores ou principais executores dos ataques golpistas. Mesmo assim, deverão atender a uma série de medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica, além da proibição de mexer em redes sociais, de sair do País e de se comunicar com outros envolvidos. O grupo havia sido preso em flagrante no dia 9 de janeiro, 24 horas depois dos atos em frente ao Quartel-General (Q.G) do Exército, em Brasília.
'Colapsar o sistema'
Quem também continua presa, mas na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, a Colmeia, é Ana Priscila Silva de Azevedo. Seguidora de Bolsonaro, ela aparece em vídeo anunciando, antecipadamente, o que iria ocorrer em 8 de janeiro. "Nós vamos colapsar o sistema, nós vamos sitiar Brasília, nós vamos tomar o poder de assalto, o poder que nos pertence", disse ela em 5 de janeiro, durante transmissão ao vivo pelas redes sociais, no acampamento montado no entorno do Q.G do Exército.
Três dias depois, Ana Priscila aparece em outro vídeo, desta vez dentro do Supremo, comemorando a depredação do prédio. Como revelou o Estadão, os militares do Exército que atuavam no Palácio do Planalto, naquele domingo, chegaram a deter a extremista. Ana Priscila, porém, não figurou entre os presos no Planalto naquela noite. A mulher só foi presa em operação da Polícia Federal dois dias depois, na cidade de Luziânia, em Goiás.
Tanto Ana Priscila como Fátima de Tubarão fizeram parte de levantamento do Estadão que mostrou ao menos 88 pessoas que se envolveram diretamente nas invasões e depredações dos espaços públicos. A convocação para os atos já tinha um propósito golpista pré-estabelecido. Mensagens de mesmo teor foram reforçadas em centenas de postagens produzidas por manifestantes, que também destacaram o papel de liderança de Bolsonaro na mobilização criminosa ocorrida em Brasília.
De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira, 2, pelo Supremo, 751 pessoas continuam presas pelos atos golpistas e 655 foram liberadas para responder em liberdade, com medidas cautelares. Após a instalação da tornozeleira eletrônica, os denunciados que receberam alvará de soltura são recebidos com abraços, alimentação e gritos de alegria de familiares, advogados e aliados políticos, como mostrou o Estadão. "Vou pensar duas vezes se faria de novo", disse à reportagem um deles, que havia sido preso com a mulher, o filho e a nora.