Economia

Inadimplência cai pelo 4º mês, diz CNC; comprometimento de renda é o menor desde o pré-pandemia

Estadão Conteúdo
04/04/2023 às 12:52.
Atualizado em 04/04/2023 às 13:00

A proporção de famílias inadimplentes no País registrou melhora em março pelo quarto mês consecutivo, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Já a população endividada, ou seja, com pagamentos ainda por vencer, permaneceu estável, mas o comprometimento de renda é o menor desde o pré-pandemia, mostram os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

A fatia de pessoas com contas em atraso desceu de 29,8% em fevereiro para 29,4% em março, uma queda de 0,4 ponto porcentual. A proporção dos que relataram que não terão condições de pagar as dívidas atrasadas e, portanto, continuarão inadimplentes, também registrou ligeira melhora, diminuindo de 11,6% para 11,5% no período.

No mês de março, 78,3% das famílias brasileiras estavam endividadas, mesmo resultado obtido em fevereiro. São consideradas como dívidas as contas a vencer nas modalidades de cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.

A parcela média da renda familiar comprometida com dívidas desceu de 30,0% em fevereiro para 29,9% em março, menor patamar desde fevereiro de 2020, antes da pandemia de covid-19, quando era de 29,7%. A cada R$ 1.000,00 de renda, o consumidor gastou, em média, R$ 299,00 com o pagamento de dívidas em março.

Entre os que possuíam contas a vencer, 17,1% consideravam-se muito endividados, o que representa uma estabilidade ante o nível visto em fevereiro.

"O endividamento dos consumidores vem apontando moderação desde outubro, cresceu entre janeiro e fevereiro, com orçamentos apertados pelas despesas típicas do início do ano, e encerrou o trimestre em estabilidade", explicou a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa da CNC, em nota oficial.

Segundo a economista, tanto a evolução positiva do mercado de trabalho, que aumentou a renda disponível, quanto a desaceleração da inflação atenuaram os indicadores de inadimplência.

"Apesar disso, quem tem dívidas atrasadas há mais tempo continua com dificuldades de sair da inadimplência por causa dos juros elevados", ponderou Izis Ferreira.

A despeito da melhora recente, os indicadores de endividamento e inadimplência permanecem consideravelmente acima do registrado há um ano: em março de 2022, 77,5% das famílias estavam endividadas e 27,8% eram inadimplentes.

"Mesmo com renegociações, a cada 100 consumidores inadimplentes, 45 chegaram em março com dívidas atrasadas por mais de 90 dias. O tempo médio de atraso nos pagamentos foi de 62,6 dias", frisou a nota da CNC.

Segundo Izis Ferreira, a inadimplência de longo prazo em patamar elevado "mantém aceso o alerta para a necessidade de renegociações e monitoramento do sucesso das dívidas renegociadas pelas instituições financeiras".

"As concessões de crédito, neste momento, estão concentradas e avançando no crédito rotativo de curto ou curtíssimo prazo (como cheque especial e cartão de crédito), sendo estas as que apresentam os juros mais elevados do mercado", ressaltou a CNC.

Endividamento e inadimplência melhoram entre os mais pobres

Houve redução na contratação de dívidas em março entre os consumidores mais pobres. No grupo que recebe até três salários mínimos, a fatia de endividados caiu de 79,0% em fevereiro para 78,9% em março. Na faixa com renda entre três e cinco salários mínimos, a proporção de endividados caiu de 79,4% para 78,8%.

Nas faixas de maior renda, a proporção de endividados cresceu, puxada pelo maior consumo de serviços pelas famílias mais ricas, justificou Iziz Ferreira. No grupo que recebe entre cinco e dez salários mínimos, a fatia de endividados passou de 77,6% em fevereiro para 78,2% em março, e na faixa acima de dez salários mínimos mensais, essa proporção subiu de 74,6% para 75,1%.

A inadimplência também teve redução entre os mais pobres. No grupo de até três salários mínimos, a fatia de famílias com pagamentos em atraso recuou de 37,9% em fevereiro para 36,9% em março. Na faixa com renda entre três e cinco salários mínimos, essa proporção caiu de 27,9% para 27,4%.

No grupo que recebe entre cinco e dez salários mínimos, a fatia de inadimplentes cresceu de 20,6% em fevereiro para 21,5% em março, e na faixa acima de dez salários mínimos mensais, essa proporção ficou estável em 13,7%.

"O Bolsa Família com valores maiores e as contratações formais de pessoas com menor nível de escolaridade têm auxiliado as famílias de menor renda no pagamento de dívidas", justificou a economista da CNC, ponderando que, na comparação anual, houve elevação na proporção de famílias com dívidas atrasadas em todas as faixas de rendimento.

Entre as famílias de menor renda, houve queda também do comprometimento da renda com dívidas. No grupo de consumidores que recebiam até três salários mínimos, 30,9% da renda estavam comprometidos com o pagamento de dívidas, menor porcentual desde junho de 2021.

Entre os mais ricos, por outro lado, a parcela média da renda comprometida com dívidas aumentou. No grupo de cinco a dez salários mínimos mensais, a fatia da renda comprometida subiu 0,4 ponto porcentual, para 29,4% da renda, e, no grupo acima de dez salários mínimos, a alta foi de 0,3 ponto porcentual, 27% da renda comprometida.

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