O Ministério das Relações Exteriores vai convocar a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, para dar explicações sobre caso de racismo sofrido pelo atacante Vinicius Júnior, do Real Madrid, neste domingo, em jogo do Campeonato Espanhol.
Convocar um embaixador estrangeiro é um gesto duro, uma espécie de advertência nas relações diplomáticas. A embaixadora Mar Fernández-Palacios deve tratar do caso com a secretária de Europa e América do Norte, embaixadora Maria Luisa Escorel. A reunião ainda não aconteceu, mas os diplomatas espanhóis já sabem da convocação.
Paralelamente ao chamado no Brasil, o embaixador brasileiro em Madri está tomando providências com a LaLiga, entidade que comanda o Campeonato Espanhol, e também com autoridades do governo espanhol. O governo decidiu pela ofensiva diplomática "diante dos ataques reiterados e da falta de punições até agora", conforme diplomatas.
A secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha, reiterou nesta segunda-feira o descontentamento do governo brasileiro, ao abrir um seminário sobre relações do Brasil com a África.
"Não posso deixar de lamentar o episódio de ontem, em Valência, na Espanha, quando gritos e gestos racistas foram mais uma vez endereçados ao Vinicius Júnior, nosso craque da seleção e do Real Madrid. Mais do que a ignorância e a maldade dos torcedores que praticaram - e vêm, há tempo, praticando - atos abjetos de racismo, espanta a persistência dos crimes que são cometidos contra o atleta brasileiro, contra todos os afrodescendentes e, sim, contra toda a humanidade, a cada cântico e a cada gesto racista lançado contra o jogador", afirmou a secretária-geral. "Ontem, na partida, Vinícius Júnior levou um cartão vermelho, por não ter aguentado tudo aquilo. Lamento muitíssimo. O cartão vermelho deve ser dado ao racismo".
A iniciativa do Itamaraty se soma a outras manifestações do governo federal. Uma nota conjunta assinada pelos Ministérios do Itamaraty, Direitos Humanos, Igualdade Racial, Justiça e Esporte condena os ataques racistas que Vinicius Júnior vem sofrendo reiteradamente na Espanha. "O governo brasileiro repudia, nos mais fortes termos, os ataques racistas que o atleta brasileiro Vinicius Júnior vem sofrendo reiteradamente na Espanha", diz trecho do documento.
ENTENDA O CASO
O brasileiro Vinicius Júnior foi mais uma vez vítima de racismo na Espanha. Parte da torcida do Valencia, que enfrentou e venceu o Real Madrid no domingo por 1 a 0, gritou insultos racistas ao jogador brasileiro no segundo tempo da partida, que foi paralisada por cerca de 10 minutos.
Nos acréscimos da partida, o brasileiro, revoltado e desestabilizado pelos rivais, foi expulso depois de se desentender com o atacante Hugo Duro, em quem acertou o braço. Ele levou cartão amarelo, mas, após revisão do lance pelo VAR, foi expulso pela arbitragem.
Nesta segunda, o Real Madrid apresentou uma queixa à Procuradoria-Geral da Espanha por delitos de ódio e discriminação contra o jogador brasileiro. O técnico do Real Madrid, Carlos Ancelotti, já havia saído em defesa do brasileiro.
Em entrevista coletiva depois do jogo, ele se recusou a falar sobre a partida e atacou a LaLiga. O presidente da liga, Javier Tebas, por sua vez, rebateu críticas feitas pelo brasileiro à competição, e afirmou que "nem a Espanha, nem a LaLiga são racistas".