Em busca de uma vaga permanente no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom das críticas ao funcionamento do órgão mais poderoso na ONU. Lula afirmou neste sábado, dia 26, que o órgão criado para zelar pela manutenção da paz no mundo promove a guerra.
O argumento central do petista é que o órgão criado em 1945, há alguns anos, vem sendo desrespeitado, porque as potências militares - todas detentoras de armas nucleares - nele instaladas ignoram normas e agem à revelia da ONU. A crítica de Lula costuma ser feita em relação à invasão russa na Ucrânia,em fevereiro do ano passado, e à invasão do Iraque, em 2003, e à operação da França e do Reino Unido, na Líbia, em 2011, entre outras ações militares.
"O Conselho de Segurança, que deveria ser da segurança, da paz e da tranquilidade, é o conselho que faz a guerra sem conversar com ninguém. A Rússia vai para a Ucrânia sem discutir no Conselho de Segurança, os Estados Unidos foi para o Iraque sem discutir, a França e a Inglaterra invadiram a Líbia sem discutir. Quem faz a guerra são os países do Conselho de Segurança. Quem produz armas, quem vende armas são os países do conselho", afirmou Lula.
Tanto na África do Sul, onde participou da Cúpula do Brics, quanto em Angola, o presidente fez reiteradas críticas ao conselho. Na reunião em Joanesburgo, o Brasil conseguiu arrancar do bloco uma declaração mais forte em favor da almejada categoria de membro permanente do conselho. Em Angola, o presidente João Lourenço também manifestou apoio à reforma - os países africanos pleiteiam uma representação no órgão.
"A guerra na Ucrânia evidencia as limitações do Conselho de Segurança, muitos outros conflitos e crises estão por vir", disse Lula na reunião de cúpula do Brics.
"À medida que órgãos multilaterais falham ao responder a ameaças à paz, a União Africana assume crescente protagonismo na resolução de conflitos", citou o presidente em aceno ao continente.
Lula afirmou que pretende conversar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para obter apoio à campanha por uma vaga permanente no conselho.
"Estou há mais de 15 anos brigando pela participação no Conselho de Segurança. Agora vou falar com meu amigo Biden 'você pode tratar de começar a defender o Brasil', afirmou Lula. O presidente vai aos Estados Unidos em setembro, para a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Antes, eles se encontram na cúpula do G20, em Nova Délhi, na Índia.
Dos cinco membros históricos do Conselho, Reino Unido, França e Rússia haviam sinalizado positivamente, o que não ocorreu com EUA e França. "Os Estados Unidos nunca disseram não perto de sim, mas também não disseram que não. Eles não querem que a gente entre, mas acho que eles vão mudar. A gente vai brigar com eles para entrar."
Segundo Lula, antes, o Brasil trabalhava no G4, uma articulação para se candidatar ao Conselho, mantida por Brasil, Alemanha, Japão e Índia. A China jamais aceitou ceder para a presença de uma potência na região, com a qual tem diferenças. "A China não queria, delicadamente, que o Japão entrasse."
Embora a declaração do Brics não crie obrigatoriedades e seja difícil de obter mudanças concretas, os diplomatas esperam que a China siga o que disse no documento. O texto foi assinado em conjunto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Questionado pelo Estadão se havia pedido garantias a Xi Jinping, Lula afirmou: "O acordo é entre o conjunto das pessoas. O Brics vai começar a se posicionar. O Xi Jinping tem um problema que eu sei histórico com o Japão, mas todo mundo sabe que o Conselho de Segurança tem que mudar".