Um homem que protestava do lado de fora do consulado da China na cidade de Manchester, no Reino Unido, foi arrastado para dentro da propriedade consular e espancado, aumentando as tensões à medida que os laços entre os dois países pioram. O governo britânico reagiu chamando o episódio de extremamente preocupante.
A briga começou em frente aos portões consulares no último domingo, 16, quando manifestantes de Hong Kong protestaram contra o líder chinês, Xi Jinping, que deve ganhar um terceiro mandato liderando o país durante o Congresso do Partido Comunista desta semana em Pequim.
Faixas e cartazes colocados do lado de fora da entrada do consulado pediam o fim do Partido Comunista e mostravam Xi usando apenas uma coroa e roupas íntimas. Vídeos que circularam na internet mostram um grupo de homens, supostamente funcionários do consulado, rasgando os cartazes e arrastando um manifestante pelo portão, onde o jogaram no chão e o espancaram.
Um ativista pró-democracia de Hong Kong identificado como Bob disse à BBC que foi espancado por homens que saíram do consulado chinês. "Eles me colocaram dentro e me bateram", disse ele.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse à AFP que não tinha conhecimento da situação. "A embaixada e os consulados chineses no Reino Unido sempre respeitaram as leis do país anfitrião", acrescentou.
Durante a briga, policiais de Manchester ficaram em frente à propriedade consular para separar o manifestante de seus agressores. As autoridades britânicas disseram na segunda-feira, 16, que estavam investigando o incidente e criaram um portal online para as pessoas enviarem informações adicionais sobre o caso.
"Está claro o que começou como um protesto pacífico inesperadamente escalou e nossos policiais agiram profissionalmente em resposta a uma situação hostil e instável para ajudar a vítima", escreveu a polícia de Manchester em comunicado nesta segunda. O comunicado acrescentou que o homem atacado sofreu vários ferimentos físicos e foi tratado em um hospital durante a noite.
Um porta-voz do consulado chinês citado pela BBC criticou os manifestantes por pendurarem um "retrato ofensivo" de Xi na entrada principal do prédio. "Isso seria intolerável e inaceitável para qualquer missão diplomática e consular de qualquer país", disse o porta-voz. "Portanto, condenamos este ato deplorável com forte indignação e firme oposição."
À medida que as imagens da briga circulavam online, alguns legisladores britânicos pediram investigações sobre o incidente e expulsões dos responsáveis. Enquanto aqueles que cometem crimes em propriedade consular estão sujeitos à lei do Reino Unido, os funcionários consulares podem receber imunidade diplomática de qualquer processo.
"O embaixador chinês deve ser convocado e, se algum funcionário tiver espancado manifestantes, deve ser expulso ou processado", escreveu Alicia Kearns, presidente do comitê parlamentar britânico de Relações Exteriores, no Twitter.
Em um comunicado, um porta-voz da primeira-ministra britânica, Liz Truss, chamou os relatos do incidente de "profundamente preocupantes". O porta-voz, no entanto, disse que seria inapropriado comentar mais sobre uma investigação em andamento.
"Se a equipe responsável do consulado não for responsabilizada, os habitantes de Hong Kong viverão com medo de sequestro e perseguição", tuitou o ativista de Hong Kong Nathan Law, que vive exilado no Reino Unido.
O Reino Unido vem adotando uma linha cada vez mais dura contra a China, na qual já revogou a licença de transmissão de um canal de notícias apoiado pelo Estado, baniu equipamentos da gigante de tecnologia chinesa Huawei da rede britânica e ofereceu acolhimento aos residentes de Hong Kong, uma ex-colônia britânica, no Reino Unido, em meio às repressões políticas.
O Ministério do Interior disse em fevereiro que cerca de 322.400 habitantes de Hong Kong provavelmente se mudariam para o Reino Unido ao longo de cinco anos sob novos programas de vistos. Muitos desses emigrantes escolheram Manchester como nova base, em parte por seu custo de vida relativamente baixo.
Alguns habitantes de Hong Kong tornaram-se ativistas antigoverno no exterior. Manifestantes em cidades britânicas como Nottingham e Newcastle pediram a funcionários do governo que encerrem as relações de cidades-irmãs com chineses. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)