O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, avalia que o mercado está mais pessimista com o cenário para Brasil, em meio a dúvidas sobre a sustentabilidade da trajetória fiscal do país, o que explica o real se desvalorizando mesmo com os juros em alta no País. "A boa notícia é que o fiscal está sendo discutido todo dia. Para resolver um problema primeiro é preciso identificar o problema", disse Esteves ao ser entrevistado no Bloomberg New Economy.
O Brasil vai crescer 3,1% ou 3,2% este ano sem restrições nas contas externas e com reservas internacionais líquidas, disse Esteves ao falar do pessimismo do mercado. Há alguns meses, as projeções eram de avanço menor.
Ainda sobre a situação fiscal, Esteves disse que o ministro da Economia, Fernando Haddad, está fazendo o bom trabalho de mostrar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a necessidade de uma ferramenta fiscal que traga estabilidade. "Temos um passado de falta de disciplina fiscal."
De modo geral, a situação fiscal do Brasil é similar a dos Estados Unidos, com números parecidos de dívida em relação a Produto Interno Bruto (PIB), mas a diferença é que Brasília não imprime o dólar. "Então precisamos entregar, precisamos ser disciplinados."
Incerteza mundial
Esteves começou falando do cenário global. "Há tensões globais, muitas coisas a preocupar, mas o mundo está sabendo lidar com elas", disse o banqueiro.
A conversa com o banqueiro começou com o entrevistador falando do ambiente atual, com temor de mais protecionismo, polarização entre China e Estados Unidos e crescente tensão geopolítica.
Sobre as eleições americanas, em menos de duas semanas, e com chance de vitória de Donald Trump, e dúvidas sobre o que faria em um segundo mandato na Casa Branca, Esteves disse que a imprevisibilidade não é algo necessariamente ruim.
A combinação desses fatores contribui para aumentar a volatilidade do mercado financeiro mundial, ainda mais em contexto de perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos, ressaltou Esteves.