O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que vai se reunir ainda nesta quarta-feira, 31, com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). "Depois da reunião, eu falo com vocês", disse o petista ao ser questionado por jornalistas se, de fato, pretende se encontrar com o líder do Centrão, como informou mais cedo o Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A reunião entre Lula e Lira foi articulada após uma ligação telefônica entre os dois e em meio à crise do governo na relação com a Câmara. Lula precisa que Lira paute a votação da MP dos Ministérios, e assegure a vitória, sob pena de a Esplanada voltar à configuração deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já nesta sexta-feira, 2.
A declaração de Lula a jornalistas foi feita na saída da Aeronáutica, onde o presidente participou de uma reunião sobre assuntos estratégicos com o Alto-Comando, seguida de um almoço.
Nesta quarta-feira, 30, a Câmara adiou a votação da MP dos Ministérios e deixou uma bomba-relógio para o governo. O texto vale até esta quinta-feira, 1.º, e, como mostrou o Estadão, pode levar 17 ministros a perderem seus postos, caso caduque.
Há ainda o temor de que deputados de União Brasil, Republicanos e PP votem contra a MP em razão da insatisfação do Centrão com a articulação política do Palácio do Planalto. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já anunciou que o partido que faz oposição a Lula deve se posicionar contra a MP.
Líderes partidários já defendiam a entrada de Lula "em campo" para atenuar a crise e minimizar a resistência dos parlamentares. Há reclamações principalmente sobre o ritmo de liberação de emendas e a demora na nomeação de aliados para cargos regionais.
Como mostrou a Coluna do Estadão, a ordem no Planalto é pagar as emendas parlamentares e destravar as nomeações políticas nos Estados e ministérios. O assunto virou tema da reunião de emergência convocada por Lula com os ministros palacianos para tratar da MP dos Ministérios.
O clima de desgaste deu os primeiros sinais quando a Câmara aprovou o Projeto de Lei do Marco Temporal, em uma derrota ao governo petista. Por 283 votos a 155, os deputados estabeleceram que só podem ser demarcadas terras indígenas que estivessem ocupadas depois da promulgação da Constituição de 1988.
Como mostrou o Estadão, há ainda outro impasse a ser gerido. Lira quer a demissão do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). O presidente da Câmara ficou furioso com um tuíte do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é seu adversário político e pai do ministro. Na postagem, Calheiros escreveu que Lira é "caloteiro", "desvia dinheiro público" e "bate em mulher".