Uma parte da esquerda decidiu deflagrar movimento pelo voto útil em Flávia Arruda (PL), ex-ministra da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (PL), na disputa pelo Senado no Distrito Federal. O apoio inusitado acontece diante da possibilidade de outra ex-ministra de Bolsonaro, Damares Alves (Republicanos), ganhar a eleição. De acordo com a pesquisa Ipec divulgada nesta terça-feira, 27, as duas estão com 28% das intenções de voto. A candidata do PT, Rosilene Correa, pontuou 12% no levantamento.
A disputa também divide a base bolsonarista no DF. A primeira-dama Michelle Bolsonaro apoia Damares, já a ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan Bolsonaro, postou uma foto ao lado da ex-ministra da Segov e anunciou apoio a ela para o Senado. O presidente tem evitado se envolver na eleição e não declarou voto em nenhuma das duas.
Nomes como Antonio Tabet, fundador do Porta dos Fundos, e Joanna Maranhão, ex-nadadora olímpica afirmaram que a candidata do PT deve ser esquecida e pregaram um "voto útil".
Embora as duas tenham sido ministras de Bolsonaro, Damares, que comandou a pasta de Mulher, Família e Direitos Humanos causa mais oposição dos eleitores progressistas. A candidata do Republicanos é conhecida por entrar em confronto com pautas caras à esquerda e critica de forma recorrente o aborto e feminismo. Na pesquisa anterior do Ipec, divulgada na semana passada, Damares estava com 21% das intenções de voto. Nesta semana, ela cresceu sete pontos enquanto Flávia manteve os mesmos 28% da semana passada.
A ideia do voto útil na ex-ministra da Secretaria de Governo, porém, não é unanimidade nos partidos de oposição a Bolsonaro. Pedro Ivo Batista, candidato a senador pela federação Rede-PSOL, disse no Twitter que "votar em Damares ou Flávia Arruda é perpetuar a destruição do nosso Cerrado". Em resposta, Flávia declarou que, se eleita, pode "construir um diálogo" com Pedro Ivo, algo que, na avaliação dela, Damares não faria. Em outra postagem, a deputada do PL procurou se distanciar do bolsonarismo e disse que é "indepedente" e não carrega "ismos" na sua história. Procurada pelo Estadão, a candidata do PL disse que não tinha conhecimento das postagens em sua conta na rede social e depois apagou as mensagens.
A deputada Flávia Arruda é do mesmo partido de Bolsonaro, mas costuma se afastar das pautas ideológicas identificadas com o bolsonarismo e não se envolve com confrontos com movimentos sociais. Embora o PL seja hoje a legenda que abriga o presidente, a sigla já foi base do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A legenda faz parte do Centrão, grupo de partidos que apoiam qualquer governo em troca de cargos.
Em resposta ao movimento de voto útil na adversária, Damares reforçou que é "a candidata da direita, do conservadorismo e do bolsonarismo". O Distrito Federal é uma das poucas unidades da federação onde Bolsonaro tem a preferência das intenções de voto. De acordo com Ipec divulgado na terça, o presidente pontuou 46% contra 32% de Lula. "Brasília é Bolsonaro e Damares. O meu crescimento nas pesquisas é explicado pelas minhas propostas, pela minha história, pelas minhas lutas e por representar as famílias do DF", disse a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos ao Estadão.
Após o movimento favorável à candidata do PL, a petista Rosilene Correa teve que se manifestar nas redes sociais para conter a debandada. A candidata do PT publicou uma foto de Flávia e pediu para que ela não seja votada.
Flávia Arruda é mulher do José Roberto Arruda, ex-senador e ex-governador do DF. O marido de Flávia tenta uma vaga como deputado federal. Ele foi preso e perdeu o cargo de governador no escândalo político em que foi flagrado em vídeo recebendo dinheiro não declarado.