A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência divulgou nota nesta quarta-feira, 4, para dizer que o empréstimo de US$ 1 bilhão feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) à Argentina teve como único objetivo "ajudar o país com escassez de reservas".
A informação sobre o empréstimo-ponte concedido à Argentina para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) pudesse liberar um desembolso de US$ 7,5 bilhões ao país vizinho foi revelada pelo Estadão. O Brasil agiu porque, a rigor, o país vizinho não poderia mais ter acesso aos recursos, uma vez que já havia esgotado o limite de crédito.
A nota da Secom diz que "diferentemente do que vem sendo repercutido" (pela imprensa), o empréstimo não teve intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O comunicado afirma, ainda, que Lula não conversou sobre o empréstimo com a ministra do Planejamento, Simone Tebet. Segundo revelou a colunista Vera Rosa, Tebet deu aval à operação após pedido do presidente. A ministra é governadora do Brasil no CAF.
Depois da publicação da notícia, começaram a ser veiculadas no X (ex-Twitter), mensagens com a hashtag #impeachment, por causa da atuação do presidente brasileiro para ajudar a Argentina. As postagens acirraram a disputa política entre apoiadores de Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O contato do Palácio do Planalto com Tebet ocorreu no fim de agosto, às vésperas da visita do ministro da Economia, Sergio Massa, nome apoiado pelo presidente Alberto Fernández para a sua sucessão. Partiu do gabinete do ex-chanceler Celso Amorim. Ele despacha no terceiro andar do Planalto, perto do gabinete do presidente, e atua hoje como assessor especial de Lula para a área internacional. Foi preciso telefonar várias vezes para a ministra, na tentativa de localizá-la. Tebet estava fora de Brasília, em compromisso particular, e só ligou de volta depois.
O empréstimo-ponte do CAF não é ilegal e passou pelo crivo de 21 países-membros do banco. O que incomodou o Planalto, porém, foi a notícia da interferência do presidente para destravar a operação, criticada pelo candidato de direita à Casa Rosada, Javier Milei, nas redes sociais. Em postagem publicada no X, Milei disse que "comunistas furiosos" estavam agindo contra ele em seu espaço. Era uma referência a Lula.
Oficialmente, o governo brasileiro afirma que não age para ajudar nem barrar o avanço de qualquer concorrente na eleição da Argentina, marcada para o próximo dia 22. Massa é o candidato do peronismo e esteve no Ministério da Fazenda e no Planalto no dia 28 de agosto.
A possibilidade de vitória de Milei provoca grande preocupação no governo porque pode desestabilizar a região, criando um polo de extrema-direita na América Latina. O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a dizer que "o Mercosul está em risco". Milei defende a saída da Argentina do Mercosul, prega a dolarização do país e a extinção do Banco Central.