Internacional

Republicanos radicais derrubam líder e paralisam Congresso dos EUA

Estadão Conteúdo
04/10/2023 às 07:14.
Atualizado em 04/10/2023 às 07:18

Pela primeira vez na história americana, o presidente da Câmara dos Deputados foi destituído do cargo por membros rebeldes de seu próprio partido. Kevin McCarthy foi derrotado nesta terça-feira, 3, vítima de uma pequena ala radical do Partido Republicano e foi removido do cargo por 216 votos a 210 - com 8 rebeldes republicanos votando contra ele.

O resultado paralisou completamente os trabalhos do Congresso, que tem pouco mais de 40 dias para votar um orçamento para manter o governo americano funcionando. Imediatamente após a votação de ontem, a Câmara dos Deputados entrou em recesso para que os dois partidos debatessem os próximos passos e escolher um novo presidente.

A luta pelo poder na Câmara dos Deputados marca uma grande escalada nas tensões entre a bancada republicana, dilacerada por lutas internas, e ocorre poucos dias depois de McCarthy arquitetar com sucesso um esforço de última hora para evitar a paralisação do governo, no fim de semana.

Diante de um impasse com a ala radical do Partido Republicano, McCarthy fechou um acordo de última hora com os democratas e conseguiu os votos necessários para manter o aparato do governo funcionando provisoriamente por mais 45 dias, até que um acordo definitivo seja votado. Foi o suficiente para que Matt Gaetz, um deputado trumpista da Flórida, protocolasse uma moção para destitui-lo do cargo.

Fogo cruzado

Antes da votação, um debate sem precedentes ocorreu no plenário entre as duas facções do Partido Republicano: os deputados rebeldes de extrema direita batiam duro no presidente da Câmara, os moderados defendiam McCarthy e a bancada democrata sentava em silêncio absoluto.

A votação foi cercada de tensão. No plenário, os deputados votavam pela destituição do presidente da Câmara da mesma forma que o elegeram: levantando-se um por um em uma chamada alfabética. Segundo especialistas, o vácuo de poder paralisa os trabalhos até que um sucessor seja escolhido.

O problema é definir um novo presidente em tempo de negociar e votar uma nova lei orçamentária para manter a burocracia estatal americana funcionando em um prazo de 40 dias. Em janeiro, McCarthy foi escolhido líder do Partido Republicano após uma maratona de 15 votações e nada garante que será mais fácil desta vez.

A paralisação dos trabalhos da Câmara dos Deputados é resultado de uma maioria apertada em tempos de polarização política. Os republicanos têm apenas 9 deputados a mais que os democratas (221 a 212, com 2 cadeiras vacantes). A consequência direta dessa matemática é que um pequeno grupo de 10 deputados é capaz de pressionar por uma agenda radical, colocando sempre uma faca no pescoço de McCarthy.

Impeachment

Foi por isso que, em setembro, o líder republicano ordenou que a Câmara desse o primeiro passo para instaurar um processo de impeachment do presidente americano, Joe Biden, ao autorizar investigações por abuso de poder, obstrução e corrupção.

Mesmo sem ter nenhuma evidência concreta, McCarthy agiu sob pressão da ala radical, ligada ao ex-presidente Donald Trump, que ameaçava justamente protocolar uma moção para destitui-lo do cargo de presidente da Câmara - o que, no fim das contas, ele não conseguiu evitar.

"Há muita gente que pode se apresentar e fazer o trabalho dele", disse o deputado Tim Burchett, um dos oito rebeldes que votaram pela destituição de McCarthy. No entanto, a realidade é mais cruel. Encontrar um substituto pode ser uma tarefa tão difícil que muitos republicanos não descartam apresentar de novo o nome do próprio McCarthy - no entanto, ele precisaria de uma maioria que, no momento, ele não tem.

"Agora, é responsabilidade dos deputados do Partido Republicano acabar com a guerra civil na Câmara", disse o democrata Hakeem Jeffries, após a votação de ontem. Ainda sem saber o que fazer, os republicanos escolheram o deputado Patrick McHenry, um aliado de McCarthy, como presidente interino da Câmara, até a eleição do próximo líder. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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