A semana do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), começou uma maratona de reuniões com 26 prefeitos da região metropolitana da capital, do Alto Tietê e do entorno de Bragança Paulista, para intensificar a discussão sobre a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Foram três encontros nesta segunda-feira, 4: às 8h30, 10h30 e, por último,15h30. As agendas tomaram conta de quase todos os compromissos do governador nesta segunda.
De acordo com uma nota divulgada pelo governo, os encontros tiveram como pauta "discussões sobre a ampliação da universalização do saneamento no Estado de São Paulo e os benefícios para a população a partir do processo de privatização da Sabesp".
Apoio dos prefeitos
A decisão de privatizar a Sabesp passará pelo crivo da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que pode aprovar ou arquivar o projeto de lei que Tarcísio deve apresentar, no mais tardar, até o começo do ano que vem. No entanto, as prefeituras têm papel decisivo na questão.
A companhia tem contratos diretos com os entes municipais e muitos desses documentos têm cláusulas antiprivatização, que precisam ser derrubadas caso a proposta de privatização da Sabesp - uma das maiores bandeiras da campanha de Tarcísio - seja aprovada. Como mostrou o Estadão, os municípios podem decidir não renovar esses contratos, e a discussão pode ter impacto com a campanha eleitoral de 2024.
Além disso, as cidades paulistas recebem repasses sobre os lucros da companhia. O manejo dessa verba é outra moeda de troca que pode ser usada por Tarcísio nas negociações em busca de apoio ao seu projeto desestatização.
O presidente da Alesp, deputado estadual André do Prado (PL), esteve na primeira reunião desta segunda. Nas redes sociais, divulgou imagens do encontro e disse que a pauta foi "o saneamento básico, um tema fundamental para a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento econômico das cidades".
A reportagem procurou o presidente do Legislativo estadual, mas ele disse que não quer comentar sobre a privatização da empresa neste momento.
Maratona de encontros
Os prefeitos que estiveram na reunião desta segunda são de partidos que compõem a base de Tarcísio. A maioria dos gestores (sete) pertence ao PSD de Gilberto Kassab, que é secretário de Governo. O segundo partido com mais representantes foi o PSDB, ao qual seis prefeitos são filiados. Depois, o PL de Jair Bolsonaro (quatro), Podemos (três), PDT (dois) e MDB, PP, DEM e PSB, todos com um representante.
Essa não é a primeira maratona de reuniões encabeçada pelo governador. No dia 22 de agosto, ele esteve reunido com prefeitos de Osasco, Guarulhos e das cidades do ABC Paulista. Dias depois, nessa mesma semana, Tarcísio encontrou os gestores de Embu das Artes, Diadema, Praia Grande, Botucatu, Franca e Carapicuíba.
Tanto no dia 24 de agosto quanto nesta segunda o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), compareceu. Na saída, ele conversou com jornalistas, que o questionaram se a sua gestão já tem uma posição firmada sobre a privatização da Sabesp. O prefeito não respondeu diretamente, mas defendeu os repasses que a cidade pode receber.
"A gente já tem algumas questões contratuais. Como, por exemplo, os 13% que a Sabesp tem que investir na região, mais os 7,5% que ela deve depositar para o Fundo Municipal de Saneamento", respondeu Nunes.
Na coletiva, o prefeito falou que durante a reunião foi dito pelo governador que "a ideia é que se dobre o número de investimentos e que se antecipe as questões da universalização do saneamento". Nunes disse que Tarcísio pretende antecipar investimentos - o que engorda os repasses que chegam a São Paulo.
Nunes é pré-candidato à reeleição em 2024. Ele rivaliza com Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal e hoje líder nas pesquisas, com 32% das intenções de voto. O atual gestor da capital fica oito pontos atrás, com 24%. Há um receio de que, se o deputado ganhar as próximas eleições, a privatização da Sabesp seja prejudicada.