O Exército da Ucrânia afirma ter controlado mil quilômetros quadrados do território russo na maior incursão transfronteiriça conduzida pelos ucranianos desde o começo da guerra, em fevereiro de 2022. A ofensiva na região de Kursk expôs vulnerabilidades da Rússia e virou um problema para o presidente Vladimir Putin.
A Rússia foi invadida pela última vez durante a Operação Barbarossa, a fracassada ofensiva da Alemanha nazista, durante a 2.ª Guerra. Desta vez, analistas acreditam que o objetivo da Ucrânia seja atrair as tropas russas para aliviar a pressão sobre a cidade de Kharkiv e usar o território conquistado como moeda de troca em uma possível negociação de paz.
O envio de soldados russos para Kursk levaria algumas semanas e poderia garantir uma maior estabilidade na linha de frente no leste ucraniano, pelo menos até a chegada do inverno (Hemisfério Norte). Ontem, Putin prometeu "varrer o inimigo" e culpou o Ocidente pela invasão. "O inimigo certamente receberá a resposta que merece, e todos os nossos objetivos, sem dúvida, serão alcançados", afirmou.
"Seguimos realizando operações ofensivas na região de Kursk. Até agora, 1.000 km² do território da Rússia estão sob nosso controle", disse o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksander Sirski, em vídeo publicado nas redes sociais do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski.
Pressão
A incursão pegou o Kremlin de surpresa e causou a fuga de dezenas de milhares de civis da região, enquanto o Exército da Rússia luta para repelir o ataque. No fim de semana, Zelenski admitiu pela primeira vez que estava empurrando a guerra para o lado do invasor, enquanto o Ministério da Defesa russo garantiu ter interrompido os avanços da Ucrânia em cidades a 30 km da fronteira.
A incursão em Kursk, que completa uma semana nesta terça-feira, 13, envolve unidades do Exército ucraniano experientes em batalha. Ela é diferente de ataques anteriores, conduzidos por voluntários ou mercenários russos que lutam ao lado da Ucrânia.
A ofensiva coloca Putin em uma posição difícil e desmonta a narrativa de que a Rússia estaria imune às hostilidades. Pressionado pelo ataque, o presidente russo intensificou a propaganda estatal para minimizar o despreparo dos seus militares.
Moral
Para a Ucrânia, a operação é um impulso necessário no momento em que as suas tropas sofrem com a escassez de soldados e armas para enfrentar os russos no leste, além de sinalizar aos aliados da Otan que o país é capaz de vencer Putin.
Até o momento, no entanto, a invasão não reduziu a pressão da Rússia no leste do país. "Nossos homens não sentiram nenhum alívio", disse Artem Dzhepko, assessor de imprensa da Brigada da Polícia Nacional da Ucrânia, que está lutando em Chasiv Yar, na região de Donetsk. "É difícil. Infelizmente, a pressão dos russos não diminuiu."
Em vez de retirar brigadas das linhas de frente, a Rússia parece estar redistribuindo unidades de nível inferior para a região fronteiriça, apontou ontem um relatório do Instituto para o Estudo da Guerra, que monitora o conflito.
Improviso
A análise descreve a força russa como montada às pressas e mal preparada para estabelecer a estrutura de comando necessária para uma resposta militar. Uma imagem que ilustra a falta de preparo é a do comboio de caminhões militares que parou na beira de uma estrada e foi facilmente atingido por fogo ucraniano.
Reforços, incluindo unidades de elite e mercenários do grupo Wagner mais experientes já começaram a chegar a Kursk, mas até agora não conseguiram expulsar os ucranianos. Apesar dos avanços iniciais, analistas alertam que manter a incursão também pode desgastar unidades ucranianas e deixar as tropas na frente leste sem reforços.
"Sustentar uma força de qualquer tamanho na Rússia e se defender será difícil, dadas as reservas limitadas disponíveis da Ucrânia", disse Matthew Savill, diretor do Royal United Services Institute, de Londres. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.