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Universitário morto por PM em SP era MC e compôs música sobre 'amigo baleado por policial'

Estadão Conteúdo
21/11/2024 às 07:00.
Atualizado em 21/11/2024 às 07:10

O universitário Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto na capital paulista por um policial militar na quarta-feira, 20, atuava como MC e, em 2021, divulgou o vídeo de uma música sobre "um amigo morto a tiros pela polícia na porta de casa".

A canção diz: "Quando um amigo morre, deixa um vazio na alma. Sentimos falta das conversas, momentos de risada. Ô, meu aliado, você vai deixar saudade. Amigos nós seremos, pra toda eternidade. Inevitavelmente, o que aconteceu? Tremenda injustiça com um amigo meu. Morto a tiros pela polícia na porta de casa, ele era trabalhador e nem mexia em fita errada."

No medley, MC Boy da VM, como se apresentava Marco Aurélio, canta ainda sobre o caso ter virado estatística e o sofrimento da família. "Essa eu fiz de coração", acrescenta no fim do vídeo.

Em outro conteúdo do YouTube, o rapaz explica que começou no funk em 2020, que VM era Vila Mariana e que a inspiração para o nome artístico foi o MC Boy do Charmes.

"Numa conversa com meu irmão, de brincadeirinha, estava varrendo o chão e comecei a fazer o cabo da vassoura de microfone. Meu irmão, vendo a cena toda, começou a rir de mim e aí eu falei: 'Você está desacreditando? Este ano eu vou virar MC."

O gosto de Marco Aurélio por música foi ressaltado na quarta-feira pelo irmão Frank Cardenas. "A alegria da nossa casa, da nossa família, foi embora. Meu melhor amigo foi embora", escreveu nas redes sociais.

Cardenas mencionou ainda que o caçula era carinhoso e lamentou o fato de que não poderão mais estar juntos. "Ele era minha pessoa", completou.

Além do funk, Marco Aurélio era apaixonado por futebol. Ele integrava o time dos alunos de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi, onde estudava, e nos campos era conhecido como "Bilau".

Em nota de pesar publicada nas redes sociais, a equipe afirmou que o estudante será lembrado com amor e carinho.

Corregedoria apura o caso

Imagens da câmera de segurança de um hotel da Vila Mariana mostram o jovem entrar no estabelecimento correndo. O rapaz é seguido por um policial militar que o puxa pelo braço, empunhando a arma.

Um segundo policial aparece, dando um chute no jovem, que segura seu pé e o faz desequilibrar.

Em seguida, o policial de arma em punho dispara na altura do peito da vítima.

Na versão divulgada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo, o jovem teria golpeado uma viatura e tentado fugir em seguida.

Ainda segundo a SSP, ele teria investido contra os policiais ao ser abordado e foi ferido por um disparo (o momento captado pela câmera de segurança do hotel).

O rapaz foi levado ao Hospital Ipiranga, mas morreu na manhã da quarta-feira.

A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia, e as polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte. "Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e ficarão afastados até a conclusão das investigações", afirma a pasta.

De acordo com a SSP, as imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Pais cobram explicações de Tarcísio e da polícia de São Paulo

Os pais de Marco Aurélio cobraram explicações da polícia e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). E a Ouvidoria das Polícias criticou o uso de força na abordagem.

De janeiro a setembro deste ano, a polícia de São Paulo matou 496 pessoas, o maior número para o período desde 2020, quando ocorreram 575 mortes.

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