O governo da Venezuela acusou o Brasil de tentar "enganar a comunidade internacional, se passando por vítima" após o Itamaraty ter dito ontem ver com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao País. "O governo da República Bolivariana da Venezuela considera incompreensível o recente comunicado do Itamaraty, no qual tenta enganar a comunidade internacional, fazendo-se passar por vítima numa situação em que claramente agiram como agressores, o que surpreendeu à sociedade brasileira, venezuelana e latino-americana", disse o governo venezuelano, em comunicado do Ministério das Relações Exteriores do país publicado pelo chanceler venezuelano, Yván Gil Pinto, no Telegram neste sábado.
O governo venezuelano afirma que demonstrou com "denúncia pública e dezenas de provas" que o Itamaraty tem empreendido uma "agressão descarada e grosseira" contra o presidente Nicolás Maduro, contra as instituições e poderes públicos venezuelanos e contra a sociedade venezuelana. A Venezuela afirmou que o Brasil viola os princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) ao investir "numa campanha sistemática que viola os princípios da Carta das Nações Unidas, como a soberania nacional e a livre determinação dos povos, violando inclusive a própria constituição brasileira em seu mandato de não interferência nos assuntos internos dos Estados", acusou o governo venezuelano.
O governo venezuelano acusou também o Itamaraty de "intromissão" nas questões eleitorais e políticas da Venezuela. O governo venezuelano afirma, no comunicado, que a auto intitulação do Brasil como testemunha em virtude do acordo de Barbados "carece de veracidade". "É um estratagema que deve parar imediatamente, uma vez que os referidos acordos foram desenvolvidos exclusivamente por venezuelanos", defendeu o chanceler.
Por fim, a Venezuela apela ao Itamaraty para "desistir de interferir em questões que dizem respeito apenas aos venezuelanos". "Evitando a deterioração das relações diplomáticas entre ambos os países, para o que devem assumir uma conduta profissional e diplomática respeitosa, como a Venezuela tem demonstrado através da sua política externa", conclui o comunicado.
O governo venezuelano subiu o tom contra o governo brasileiro em meio à escalada das tensões diplomáticas entre os países após o veto brasileiro à entrada de Caracas no Brics. Na última quarta-feira, Maduro convocou seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para "consultas". A relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Maduro está abalada desde as eleições na Venezuela, em julho, permeada por denúncias de fraude. O governo brasileiro ainda não reconheceu a reeleição de Maduro.
Procurado, o Itamaraty não respondeu ao pedido de comentário até esta publicação.