Após a vitória autoproclamada de Nicolás Maduro na eleição de domingo, 28, muitos venezuelanos saíram às ruas para protestar contra o governo. Panelaços foram ouvidos em todo o país e bairros populares de Caracas, antes redutos do chavismo, registraram manifestações. "E vai cair, e vai cair, este governo vai cair!", gritavam os manifestantes na favela de Petare, a maior da capital.
Gritando palavras de ordem contra o governo, os moradores de Petare marcharam pelas ruas da comunidade. Alguns jovens mascarados arrancaram cartazes de campanha de Maduro que estavam pendurados em postes de luz.
Nas sacadas, pessoas batiam panela em sinal de apoio. Segundo o jornal digital TalCual, panelaços também foram registrados nos bairros Las Palmas, La Urbina, La Candelaria, San Bernardino, 23 de Janeiro, El Cementerio e Los Naranjos.
Em diversos protestos, os manifestantes trocaram os slogans chavistas pelo "Liberdade, liberdade!", que caracterizou a campanha do opositor Edmundo González Urrutia. Em alguns pontos de Caracas, houve confronto com milícias chavistas, os chamados "coletivos", que dispararam contra os manifestantes.
Uma pessoa morreu e várias ficaram feridas no Estado de Aragua. Não houve relato oficial de mortos ou feridos em Caracas. Autoridades divulgaram apenas que cinco pessoas foram presas na capital.
Houve protestos também nas cidades de Valência, San Diego, Cagua e Falcón. Alguns manifestantes tentaram bloquear rodovias, incluindo a autoestrada Caracas-La Guaira, que conecta a capital com o Aeroporto Internacional Simón Bolívar.
Estátua
Na cidade de Coro, no norte da Venezuela, manifestantes derrubaram uma estátua de Hugo Chávez. Imagens e vídeos que circularam na internet mostram o momento em que quatro homens subiram até a base da estrutura. Eles usaram marretas para derrubar a estátua. Em volta, um grupo de manifestantes vibra quando Chávez vai ao chão.
A cena lembrou momentos icônicos da destruição de monumentos que eram símbolo de regimes autoritários, como as estátuas de Stalin, durante o colapso da União Soviética, e de Saddam Hussein, após a queda de seu regime no Iraque.
O magnata Elon Musk celebrou a queda da estátua e postou em sua conta no X o vídeo dos manifestantes: "Adeus, ditador Maduro!", escreveu. "Um burro sabe mais do que Maduro."
Violência e crises pós-eleitorais são comuns na Venezuela. Desta vez, a onda de protestos foi causada pela vitória contestada de Maduro na votação de domingo. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão que organiza a eleição na Venezuela, totalmente controlado pelo regime chavista, proclamou Maduro vencedor.
Com 80% dos votos apurados, Maduro teria 51,2%. O opositor Edmundo González Urrutia, 44%. Matemáticos, estatísticos e opositores apontaram que a diferença era de cerca de 700 mil votos e ainda faltariam contar 2,5 milhões de votos - o que não deteve o anúncio do CNE.
A oposição tem uma lista de indícios de fraude: falta de acesso às atas eleitorais, seções abertas até depois do horário em redutos chavistas, fiscais barrados durante a apuração, interrupção da transmissão de resultados na noite de domingo e ausência de detalhes da votação, sem as quais é impossível saber de onde o chavismo tirou tantos votos.
Nesta segunda, 29, em diversos vídeos postados em redes sociais, era possível acompanhar a leitura das atas de votação de várias seções, todas com vitória esmagadora da oposição. Os dois símbolos da campanha contra Maduro, o diplomata Edmundo González Urrutia e María Corina Machado, disseram que a chapa antichavista venceu com 70% dos votos.
Segundo María Corina, mais de 70% das atas às quais a oposição teve acesso mostram González Urrutia com o dobro de votos de Maduro. "A diferença foi tão grande, tão esmagadora, que em todos os Estados da Venezuela, em todos os estratos sociais, em todos os setores, nós vencemos", disse.
Sob pressão, o chavismo reagiu ontem contra a oposição. O Ministério Público ameaçou prender aqueles que cometerem atos de violência em protestos que contestem a vitória de Maduro. As penas podem variar de 1 mês até 10 anos, segundo o código penal. "Monitoramos qualquer ato que pretenda iniciar uma escalada da violência para sujar a festa democrática que estamos vivendo", disse o MP, em nota.
Ataques
Outra medida foi tomada pelo procurador-geral, o chavista Tarek William Saab, que abriu uma investigação para apurar suposto ataque hacker contra o sistema de transmissão de votos. Ele acusou os opositores Leopoldo López, Lester Toledo - ambos no exílio - e María Corina Machado de tentarem mudar o resultado das urnas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.