O ex-motorista da Viação Cometa Josias Nunes de Oliveira, de 70 anos, que mora em Indaiatuba, voltou nesta sexta-feira (8) pela primeira vez ao local onde presenciou o acidente automobilístico que causou a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 22 de agosto de 1976. Considerado peça-chave do caso, Oliveira participou de uma reconstituição informal da tragédia no Km 228 da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), em Resende (RJ), a pedido da Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara de São Paulo. A reconstituição será juntada aos documentos da apuração aberta pela comissão sobre o caso, e que acredita em morte provocada por agentes da ditadura.O ex-motorista, que chegou a ser acusado de ter causado o acidente e depois foi inocentado, se emocionou ao chegar ao local e confirmou a versão que já havia dado em depoimento à comissão. Segundo ele, o Opala guiado pelo motorista do ex-presidente ultrapassou o ônibus que ele dirigia pela direita e passou reto em uma curva, no então km 165 da rodovia, antes de colidir frontalmente com um caminhão de gesso Orleãs (SC), do outro lado da pista. Oliveira se lembrou com clareza do momento da colisão, mas não acrescentou mais detalhes à história que já havia contado. Dor“A dor de estar aqui é grande. É como se eu estivesse vendo o acidente de novo. A ferida pode ter fechado, mas a cicatriz é para sempre e ainda dói. A única diferença hoje é o guard-rail que separa as pistas. Antes, havia somente um canteiro central”, disse. Josias também foi às lágrimas ao visitar as duas cruzes à margem da rodovia, no ponto exato do acidente, que representam JK e seu motorista, Geraldo Ribeiro. O presidente da comissão, vereador Gilberto Natalini (PV), que acompanhou Oliveira, afirmou que a reconstituição corrobora a tese de que JK foi assassinado. “O Josias (Nunes de Oliveira) é muito claro ao mostrar como foi o acidente. Um motorista experiente não iria fazer a curva daquela forma sem estar sofrendo de algum mal súbito.” Natalini sustenta a suspeita de que o ex-motorista de JK foi baleado antes de colidir com o caminhão. Depois da reconstituição, o vereador foi até a Câmara de Resende solicitar que seja feito um memorial ao ex-presidente. FragmentoEm agosto, o secretário de Estado de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo Ferraz, anunciou a retomada das investigações do acidente de JK, a pedido da Comissão da Verdade paulistana. Uma das solicitações do grupo era que o governo mineiro procurasse o fragmento metálico que havia sido retirado da cabeça de Ribeiro, na primeira exumação do corpo do ex-motorista, em 1996. O objeto, porém, não foi encontrado pela Polícia Civil de Minas Gerais. O governo mineiro estuda pedir uma segunda exumação no corpo de Ribeiro. Natalini pediu ontem também ajuda ao Fórum de Resende para localizar o fragmento. Oliveira foi chamado para depor pela primeira vez na comissão no dia 1 de outubro, depois de ter contado sua versão do acidente com exclusividade ao Correio, em reportagem publicada no dia 26 de setembro. MemorialNa tarde desta sexta-feira (8), o presidente da Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara de São Paulo, Gilberto Natalini, se encontrou com o presidente da Câmara de Resende, Ubirajara Ritton, para pedir a construção de um memorial a JK e que a Estação de Engenheiro Passos seja restaurada. O prédio do século 19, no km 132 da Via Dutra, está em ruínas. A ideia é que a estação se torne um ponto histórico de visitação, uma vez que foi o último local onde esteve o ex-presidente Juscelino Kubitschek antes de morrer, logo após sair do Hotel Fazenda Villa-Forte. A ideia é que o conjunto arquitetônico seja tombado pelo município. “A estação tem a ver com a história do Brasil. Também vamos pedir a construção de um memorial decente em homenagem a Juscelino no ponto do acidente”, explicou. Natalini propôs à Câmara que seja feito um concurso nacional para selecionar o autor da obra. O objetivo é que o memorial tenha volume e tamanho grandes o suficiente para que possa ser observado à distância por motoristas. Hoje, as cruzes que representam JK e seu motorista, Geraldo Ribeiro, são pequenas, e muitos curiosos param o carro no acostamento para visitar o ponto.