"Levei spray de pimenta na cara, fui arrastada violentamente por policiais e xingada de maconheira e vagabunda na delegacia do Senado", afirma a estudante de medicina Ana Flávia Hissa, de 21 anos, que estava entre os treze alunos da Universidade Gama Filho detidos na noite desta segunda-feira, 20, por acampar no jardim do Congresso, em protesto pacífico. O grupo entrou no ônibus da PM gritando palavras de ordem como "Eu pago, não deveria, educação não é mercadoria" e levou mais spray de pimenta, diz Ana. Todos foram liberados somente de madrugada - o último, às 4h40. A Gama Filho e a UniverCidade foram descredenciadas pelo Ministério da Educação no início da semana passada. Dois dias após o anúncio, um grupo de alunos chegou a Brasília para tentar uma audiência com a presidente Dilma Rousseff - mais de 10 mil estudantes foram afetados pela decisão do MEC. Eles reivindicam a federalização das universidades, proposta que também é defendida por reitores das principais instituições federais de ensino superior no Rio, mas foi rechaçada pelo ministério. Nesta terça-feira (21), os estudantes organizaram um novo protesto em frente ao prédio do MEC, mas foram impedidos por policiais de permanecer no local. "É um absurdo. Nossas manifestações sempre ocorreram sem violência. Só queremos estudar e ter uma ponte de diálogo com a Dilma. Vamos ficar em Brasília até sermos recebidos", diz Ana. Para ela, a transferência 'assistida' oferecida pelo MEC "não é garantia de nada". "Alunos de uma universidade descredenciada em Brasília estão há sete meses sem estudar", afirma. De acordo com a estudante, só falta vontade política do governo. "Há respaldo financeiro e jurídico para a federalização, tanto que o Lula fez isso em 2007, criando a Unipampa." Segundo Ana, os estudantes vão consultar advogados para avaliar possíveis medidas contra a PM. Eles estavam acampados no local desde quarta. "Sempre dialogamos com os policiais. Aceitamos a retirada das barracas, mas qualquer um tem o direito de se manifestar, está na Constituição." Procurada, a PM do Distrito Federal informou apenas que "agiu em cumprimento do dever legal, em apoio à Polícia do Senado" e que a corregedoria "vai apurar o procedimento" dos PMs. De acordo com a Delegacia do Senado, não é permitido acampar na área do Congresso e foi dado prazo até as 20 horas para que os estudantes saíssem. Eles foram retirados sob acusação de "desobediência". O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, divulgou nota sobre a prisão dos universitários: "O que aconteceu com os estudantes é resultado de fraude e crime. Agora além de perderem os seus cursos e enfrentarem todas as dificuldades imagináveis para efetivar as suas transferências, são espancados pela polícia de Brasília, com direito a spray de pimenta. Tudo porque ocupavam pacificamente o sacrossanto gramado do Congresso Nacional. Não é aceitável que o governo federal vire as costas para esse drama." Também houve protesto no Rio. Dezenas de alunos fizeram uma passeata na Avenida Presidente Vargas. Após o descredenciamento, a Galileo Educacional, responsável pelas universidades, fechou suas unidades e recusou-se a receber os estudantes, fornecendo apenas um e-mail.