SÍRIA

Assad: destruição de arsenal químico levará um ano

Em entrevista à Fox News, Bashar al-Assad, declarou que a guerra em seu país não é uma guerra civil

France Press
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19/09/2013 às 15:10.
Atualizado em 27/04/2022 às 16:35

O presidente da Síria, Bashar al Assad, prometeu destruir seu arsenal químico, mas destacou que a operação levará um ano e custará um bilhão de dólares, em entrevista a rede de televisão americana. No terreno, combatentes vinculados à Al-Qaeda consolidavam nesta quinta-feira seu controle sobre a cidade síria de Azaz, perto da fronteira com a Turquia, num momento em que o presidente sírio afirma que a rebelião é formada, em sua maioria, por terroristas. Em uma entrevista à Fox News, Bashar al-Assad, declarou que a guerra em seu país não é uma guerra civil, mas um novo tipo de guerra, alegando que guerrilheiros islamitas de mais de 80 países se somaram à luta e que "entre 80% e 90% dos terroristas clandestinos são da Al-Qaeda". Na entrevista, divulgada na noite de quarta-feira, Assad afirmou que desde março de 2011 dezenas de milhares de sírios e 15.000 soldados do regime morreram, a maioria em "ataques terroristas, assassinatos e atentados suicidas". O conflito na Síria começou em março de 2011 com um levante popular que foi progressivamente se militarizando diante da repressão do regime. Em dois anos e meio de conflito, mais de 110.000 perderam a vida, segundo o OSDH. Nesta segunda entrevista concedida a um meio de comunicação americano neste mês, Assad reiterou que o ataque com gás sarin de 21 de agosto que deixou centenas de mortos perto de Damasco foi obra dos rebeldes. Sua aliada Rússia mantém a mesma postura, enquanto os países ocidentais e vários países árabes acusam o regime sírio de ter realizado este massacre, o que fez com que há alguns dias Estados Unidos e França estivessem a ponto de atacar o país. Mas os russos e os americanos alcançaram um acordo no dia 14 de setembro em Genebra para desmantelar o arsenal químico sírio, o mais importante da região. "Acredito que é uma operação tecnicamente muito complicada. E requer muito dinheiro, cerca de um bilhão de dólares", disse Assad. Este desmantelamento será realizado segundo um "calendário certo" e para concluí-lo "será necessário um ano, talvez um pouco mais", acrescentou. O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira que a atitude da Síria quanto ao compromisso de desmantelar seu arsenal químico inspira confiança. "Posso garantir 100% que seremos capazes de completar (o plano de desmantelamento das armas químicas sírias), mas tudo que temos visto nos últimos dias inspira confiança de que esse será o caso", declarou o presidente. Putin destacou ainda que a Síria aceitou aderir à Organização para Proibição de Armas Químicas (OPAQ). Além disso, Putin chamou de "provocação inteligente" o ataque químico cometido perto de Damasco. "Temos todas as razões para acreditar que esta é uma provocação inteligente", declarou Putin. "Ao mesmo tempo, a técnica é primitiva: pegamos um velho morteiro de fabricação soviética, que não é usado há muito tempo pelo exército sírio -a principal coisa é que tenha escrito 'fabricado na URSS", a-acrescentou. Ele se referia às inscrições em cirílico em fragmentos de morteiros, de acordo com fotografias apresentadas no relatório dos inspetores da ONU que investigaram o ataque. ==== Combatentes conquistam cidade do norte === Segundo moradores locais, combatentes do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS) conquistaram a cidade de Azaz depois de dias de combates com os rebeldes do Exército Livre da Síria (ESL). É a primeira vez que os jihadistas tomam o controle de uma cidade rebelde, além de estratégica, após uma batalha relâmpago, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Após estes incidentes na Síria, a Turquia fechou provisoriamente uma de suas passagens fronteiriças. Azaz foi um das primeiras cidades conquistadas pelos rebeldes sírios não jihadistas em julho de 2012. O ISIS, junto à Frente al-Nusra, proclama abertamente seus vínculos com a rede terrorista Al-Qaeda e jura lealdade ao seu chefe, Ayman al-Zawahiri. Em uma mostra da complexidade do conflito sírio, embora os combates entre o ISIS e os rebeldes não jihadistas tenham se multiplicado nas últimas semanas em algumas regiões, em outras eles combatem juntos as tropas do regime de Assad. --- ONU pode votar resolução no fim de semana --- Conforme o acordo de Genebra, Moscou anunciou que a Síria se comprometeu a apresentar em um prazo de uma semana uma lista completa de seu arsenal químico. Este prazo vence no sábado, 21 de setembro. Depois de ter anunciado uma reunião na sexta-feira sobre a destruição das armas químicas sírias, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAC) disse que ainda não fixou uma data para esta reunião, pelo fato de ainda estar negociando o texto da decisão, informou seu porta-voz. Enquanto isso, Damasco e Moscou multiplicam seus esforços para que o projeto de resolução sobre o arsenal químico sírio não implique a ameaça de uma ação militar imediata caso Damasco não respeite seus compromissos de desarmamento. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - Estados Unidos, França, Rússia, China e Reino Unido - mantiveram novas negociações sobre este projeto de resolução. Segundo vários diplomatas da ONU, os ocidentais buscam convencer uma Rússia muito reticente de que seu projeto não implicará a ameaça de uma ação militar imediata. Se for alcançado um acordo com Moscou, a resolução pode ser submetida à votação neste fim de semana. Em terra, nove civis morreram nesta quinta-feira em um atentado com explosivos contra um ônibus na região de Homs. O ataque ocorreu perto de várias aldeias alauitas, a comunidade religiosa minoritária na Síria, a qual Assad pertence. No plano humanitário, a ONU anunciou que a situação não para de se agravar na Síria. A organização estima que sete milhões de sírios precisam de ajuda humanitária urgente.

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