O ex-secretário de Política Econômica, Luiz Gonzaga Belluzzo, defendeu em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que o Banco Central continue as intervenções diárias no câmbio por meio de leilões de swap e de linha no começo de 2014, para conter a volatilidade da cotação da moeda americana em relação ao real. “O Brasil tem uma moeda não conversível. Então, a intervenção no mercado é incontornável. Sem a ação do BC, não tem como evitar volatilidade excessiva, valorizações e desvalorizações absurdas como tivemos”, destacou. Mesmo acreditando que o desmonte das medidas de estímulo nos Estados Unidos deve começar no segundo semestre do próximo ano, por causa da fraca recuperação do mercado de trabalho, Belluzzo diz que as vendas diárias de dólares no Brasil devem continuar no início de 2014. O objetivo seria evitar consequências para a economia brasileira, como oscilações bruscas do câmbio, especialmente de depreciação. “Você tem de olhar para a inflação”, ponderou. “Os chineses não têm problema com câmbio porque fazem flutuação suja, sempre controlaram o câmbio”, destacou. “Aqui não. Deixou-se que o mercado determinasse para onde ele vai. Você acha que o mercado pode determinar o valor de algum ativo? Pode, porque ele determina. Mas, em se tratando do câmbio, que é uma variável econômica crucial, compete ao Estado intervir sim, na medida das suas possibilidades. Quantas crises já passamos porque deixamos a corda solta?”, questionou. Na avaliação de Belluzzo, durante a crise internacional de 2008 e 2009 o governo perdeu uma boa oportunidade para conter o “excessivo” fluxo de capitais de curto prazo no País, quando deveria ter adotado medidas fortes para conter o ingresso de investimentos especulativos. “Deveria ter adotado a quarentena para a saída de recursos de portfólios, por um prazo de um ano”, disse. “Mas isso é um problema. Se você não tem força, não se meta a fazê-lo.” “A sociedade brasileira tem certas convicções e visões. Sobretudo do ponto de vista do debate econômico, há a preeminência da opinião dos mercados. Certamente isso vai ser visto como uma tragédia. Ou seja, você não pode fazer o certo”, disse. “O correto era ter defesas muito fortes contra esse entra e sai do capital volátil”, destacou. “No entanto, tem de fazer como o BC vem trabalhando. Acumulou reservas e administra o câmbio como pode. Não tem apoio na sociedade. Ao contrário, essa é uma característica não só do Brasil, mas também de outros países.”