Em segundos, você fica sabendo que seu e-mail ou seu face foi "atacado". O que fazer? No mínimo mudar a senha e seguir a vida adiante. Mas se roubaram os seus dados, senha bancária, por exemplo, é preciso agir rápido para tentar minimizar o prejuízo. E se mais tarde alguém bisbilhotar a sua vida e usar suas fotos para sacanear? Aí o prejuízo começa a ser moral e o medo invade sua tela e sua vida privada. Ter a privacidade invadida pode significar que os problemas vão sair da vida virtual e invadir o seu cotidiano.A recente polêmica sobre a máquina de espionagem americana trouxe à tona a dimensão e o tamanho da operação de coleta de dados que sistematicamente os Estados Unidos, por meio de suas agências de inteligência e diversos softwares, vêm implementando ao longo de décadas."Estima-se que quase um milhão de pessoas trabalhe em atividades de espionagem cibernética só nos EUA, segundo informações da imprensa mundial", diz Dane Avanzi, advogado e diretor-superintendente do Instituto Avanzi, ONG paulistana de defesa dos direitos do consumidor de telecomunicações.A atividade de espionagem não é novidade na história humana. Em verdade, é tão antiga que se perde nas brumas das mais antigas civilizações. "Entretanto, o que mais causa espanto no escândalo "Snodew" é que cidadãos comuns tinham (e têm) suas comunicações de e-mails e telefônicas interceptadas - fato que viola o direito fundamental garantido pelo estado democrático de direito, a privacidade. O direito à privacidade está intimamente ligado a outro direito, o da liberdade, que é sem dúvida o mais importante de todos", explica o especialista.Edward Snowden, ex-consultor norte-americano, de 29 anos, é quem denunciou um esquema de espionagem a cidadãos dos Estados Unidos e estrangeiros por agências secretas de seu país. Isso provocou uma onda de escândalos no Brasil e no mundo.Assim sendo, diz o advogado, desde a antiguidade o direito à liberdade sempre foi aviltado pela vida em sociedade - seja por regras sociais, religiosas, morais e econômicas, seja pela própria limitação da condição humana. "Nesse contexto, historicamente, concluímos que aqui no Brasil nunca tivemos tanta liberdade de expressão e informação, conquista esta que deve ser preservada", explica Dane Avanzi.Mas, o que fazer quando esse direito é usurpado por um outro Estado, que não está sujeito às regras brasileiras? "O direito internacional público, que regulamenta a relação entre Estados, possui tribunal para solucionar controvérsias decorrentes a esse tipo de violação. O fato é que a matéria da espionagem cibernética não está regulamentada e as provas para instrução de um processo vão além do depoimento de agentes dissidentes foragidos e matérias jornalísticas", explica o especialista.Na análise de Dane Avanzi, o efeito perverso da tecnologia da informação foi a globalização da espionagem, posto que o mundo, cada dia mais está se tornando um "reality show". "Considerando que qualquer sistema de informação pode ser violado ou adulterado. Então, onde termina o real e começa o virtual?", questiona.O advogado conjectura em relação aos nuances da liberdade. "Falando de liberdade, até que ponto de fato somos livres? No caso brasileiro, que vive sob a égide de um governo democrático há quase 30 anos, período recente para a história, ainda somos acometidos pela "vertigem da liberdade?"Alguns de nós se perguntam: livres de que? Ou ainda: livres para que? Em qual medida efetivamente nosso povo tem consciência que quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade? Eis a questão!"O caso Snodew suscita o debate que a verdadeira liberdade do cidadão, em qualquer lugar do planeta, será sempre relativa. "Num certo sentido a própria liberdade é uma ilusão. Também para o aborígine que vive em "liberdade selvagem", pois pesa sobre ele a relatividade da liberdade decorrente da condição humana e suas limitações. Penso que a humanidade está amadurecendo para essas e outras questões, cuja aparente tranquilidade pairava outrora. Em sendo a informação um bem intangível, paira sobre ela a subjetividade, considerando-se que um mesmo e-mail ou conversa podem ser interpretados de diversas maneiras dependendo do agente", explica.Na análise do advogado diretor da ONG, a overdose de informações dos EUA, pode, num certo sentido, causar desinformação e certo alienamento da realidade. "Afinal de contas o que é realidade, posto que, quanto mais se julga conhecê-la mais iludido se está. Ao que parece, se perderam no próprio labirinto que criaram", diz. PrivacidadeDane Avanzi reflete que a liberdade de pensamento, mesmo em tempos de espionagem, é suprema. "Deliciemos-nos com ela, silenciosamente, posto que há câmeras, microfones e ouvidos por todos os lados."Parafraseando Victor Hugo (poeta), o advogado conclui a reportagem À Série Debates: "Tenha coragem para as grandes adversidades da vida e paciência para as pequenas, e quando tiver cumprido laboriosamente sua tarefa diária vá dormir em paz. Deus está acordado".Com o fácil acesso às redes sociais, as pessoas também ficaram mais atentas à ação dos "hackers", porém, as ferramentas para agirem nesses casos ainda são escassas ou desconhecidas. "O que faço, é mudar de senha", disse o estudante Lucas Nazatto.Redes - Estudantes se protegem Os jovens da chamada geração Z (de 14 a 19 anos E que dominam a internet) observam que entre as formas para enfrentar a ação de hackers é simplesmente mudar de senha do e-mail, face ou outras redes sociais. Ser vítima de espionagem é algo que as pessoas temem, mas não raras as vezes ficam de mãos atadas nessas situações.Para não ser vítima de espionagem, o estudante de Publicidade e Propaganda, Lucas Nazatto, 18, evita ficar “postando” tudo que acontece. “Evito ficar falando para onde vou. Não coloco informações pessoais no face”, disse.Erika Tang, 19, estuda Direito e diz que sempre está mudando de senha. “Faço isso a cada três meses. Presto a atenção nas pessoas que adiciono (no face). Dias desses fui vítima de hacker. Usaram meu perfil e mudaram minha foto. Levei um grande susto. Mudei minha senha e não aconteceu mais”, contou.O estudante de pilotagem Vitor Danelon Jr., 18, também diz que alterar a senha é a saída mais prática em casos quando uma pessoa é vítima de hackers. “Procuro saber por onde ‘navegar’ e tomo cuidado com vírus”, disse.São úteis as dicas para se precaver dos hackers. Dentre elas, cuidado ao responder mensagens, postar fotos e locais onde você está. Caso alguém use indevidamente sua imagem, procure a Polícia que já tem especialistas para saber a origem do crime.