O Ocidente não conseguirá pacificar o Afeganistão apensa por meios militares, declarou nesta sexta-feira (10) a chanceler alemã Angela Merkel, que reconheceu a importância do "trabalhoso processo político afegão", durante uma visita surpresa ao país.
Acompanhada de seu ministro da Defesa, Thomas de Maizière, Merkel visitou Kunduz após passar pelo Quartel General das tropas alemãs estacionadas no norte do Afeganistão, em Mazar-i-Sharif. A duração da viagem não foi revelada por razões de segurança.
Aos soldados alemães, Merkel ressaltou a importância do "processo político" no Afeganistão, que avança "por vezes de maneira trabalhosa, por vezes mais lentamente do que desejamos".
"Esperamos progressos, eleições honestas, um processo político, porque não venceremos os insurgentes unicamente por meios militares", indicou em referência à eleição presidencial no próximo ano do sucessor de Hamid Karzai, que não pode disputar um terceiro mandato.
Nenhuma reunião com o presidente Karzai está prevista para esta visita reservada "unicamente às tropas alemãs em Kunduz e Mazar-i-Sharif", revelou o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, em sua conta no Twitter.
"Ela está aqui para reforçar seu apoio às tropas, assistir reuniões, responder às preocupações após a morte recente de um de nossos soldados", declarou à AFP um porta-voz do exército alemão no Afeganistão.
A visita ocorre seis dias após a morte de um soldado alemão da força internacional da Otan (Isaf) em um ataque rebelde na província de Baghlan, no norte do Afeganistão.
Foi o primeiro soldado alemão a morrer no Afeganistão em quase dois anos.
Outros sete militares estrangeiros morreram no sábado passado, no dia mais sangrento para a Isaf desde agosto de 2012 e em meio à ofensiva talibã deflagrada no final de abril contra as forças afegãs e internacionais por meio de atentados suicidas e ataques de "agentes infiltrados".
Presença alemã no país pós-2014
Merkel também reiterou a vontade de Berlim de manter soldados no Afeganistão ao final da missão da força da Otan (Isaf) em 2014.
"Nós não queremos abandonar os afegãos. Se outras nações participarem, a Alemanha está preparada, depois de 2014, a assumir responsabilidades sob outra forma", disse.
Em 18 de abril, Berlim anunciou sua intenção de manter entre 600 e 800 soldados a disposição de uma missão de treinamento, consultoria e suporte, por um período de 2015-2017.
O presidente Hamid Karzai afirmou nesta semana, sem citar nomes, que os países da Otan pediram para manter uma presença militar no Afeganistão depois de 2014, e que os americanos querem, por sua vez, manter nove bases militares em todo o país.
Mas Washington indicou que não tem a intenção de manter bases militares permanentes e que qualquer presença de tropas americanas pós-2014 seria "apenas a convite" de Cabul.
A manutenção de bases e soldados estrangeiros no Afeganistão é denunciada pelo Talibã, que afirma que a retirada total das tropas é uma das suas condições para quaisquer negociações de paz.
Cerca de 100 mil tropas estrangeiras estão atualmente destacadas no Afeganistão sob os auspícios da Otan. Com 4.200 soldados, a Alemanha tem o terceiro maior contingente da missão, depois dos Estados Unidos e Grã-Bretanha.
Expulso do poder em 2001, o Talibã realiza desde então uma revolta armada contra o governo afegão e as forças internacionais, principalmente no leste e sul, considerados seus redutos.