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Colheita cria nova fronteira para vinhos

Vinho de alta qualidade surge em cidades de Minas e São Paulo após inversão da colheita da uva

01/09/2013 às 12:45.
Atualizado em 27/04/2022 às 16:17

Vinho sempre foi sinônimo de sofisticação. De olho em um mercado em expansão e com consumidores cada vez mais exigentes, pesquisadores da Estação Experimental de Viticultura e Enologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Caldas (MG) — ligada ao governo do estado —, desenvolveram uma forma de cultivo que surpreendeu os próprios estudiosos e promete transformar uma região formada por municípios mineiros e paulistas em uma nova fronteira na produção de vinhos de alta qualidade, chamados de vinhos finos. Foto: Gustavo Tilio/Especial para a AAN Funcionário na Estação Experimental de viticultura e enologia de Caldas (MG): novo centro produtor O novo polo inclui cidades da região do Sul de Minas (Três Corações, Caldas, Varginha, Baependi, Santo Antônio do Amparo, Andradas, São Sebastião do Paraíso, São João Del Rei e Divinolândia) e municípios do Estado de São Paulo próximos à divisa com Minas, entre outros (São Bento do Sapucaí, Itobi, Louveira, Valinhos e Espírito Santo do Pinhal).O objetivo, segundo os coordenadores do projeto, é atingir qualidade de produção que seja comparável, por exemplo, com polos tradicionais como o argentino, na região de Mendoza, o chileno e até de alguns países europeus.A principal aposta da pesquisa, que começou em 2000, foi a criação do cultivo invertido da uva. Em vez de colher a fruta no Verão, o procedimento é feito no Inverno. Com isso, é possível evitar a estação das chuvas, já que o excesso de água reduz a qualidade da uva.Os resultados preliminares agradaram os especialistas. O primeiro vinho do Brasil feito a partir de uma colheita invertida usa uvas da espécie syrah (também conhecida como shiraz) de uma lavoura de Três Corações (MG). O processo de produção foi desenvolvido em Espírito Santo do Pinhal (SP) e ele chegou ao mercado no começo do ano com o nome de Primeira Estrada. Uma garrafa custa entre R$ 59,90 e R$ 80,00 (dependendo do ponto de venda) e já pode ser encontrada em diversos lugares do País. Foto: Gustavo Tilio/Especial para a AAN O especialista Murilo Albuquerque, que participa da pesquisa, e a garrafa do Primeira Estrada Murilo Albuquerque Regina, PhD em viticultura e enologia pela Universidade de Bordeaux, na França, coordenou os trabalhos. Segundo ele, a inversão foi feita inicialmente em Três Corações. Apesar de possuir apenas um vinho e de uma única espécie, ele acredita em três anos serão pelo menos cinco vinícolas produzindo novas marcas no novo polo. Para ele, eles devem competir de igual para igual com os vinhos finos das regiões mundialmente conhecidas.O trabalho foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que validaram aspectos da produção de Inverno. [TEXTO]O primeiro foi a resposta das videiras às condições climáticas. A poda em janeir[/TEXTO]o induz um novo ciclo, que culmina com a colheita na época seca — noites frias. O segundo aspecto é em relação ao potencial qualitativo da fruta e do vinho. “A matéria-prima é melhor, apodrece menos e concentra mais. O vinho produzido no Inverno se mostrou superior”, disse Albuquerque.DetalhesO Primeira Estrada é produzido em montanhas com altitude entre 900 e 1.000 metros. O rótulo exibe a imagem da Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes (MG).O plano da Vinícola Estrada Real é chegar a 2016 com produção de 35 mil a 40 mil garrafas por ano.A nova fronteira tem como público-alvo os turistas que visitam as cidades históricas mineiras. O maior mercado do Primeira Estrada é o Rio de Janeiro.

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