Uma menininha, tratada contra a infecção por HIV logo após o nascimento, permanece sem qualquer sinal de infecção aos 3 anos de idade, sugerindo que sua cura aparente não foi sorte, anunciaram cientistas americanos esta quarta-feira. A história da primeira criança de que se tem notícia curada do HIV graças ao tratamento precoce baseado em doses elevadas de medicamentos antirretrovirais - o que os cientistas preferem chamar de "remissão sustentada" no lugar de cura - foi anunciada em março, quando ela tinha dois anos e meio. Um punhado de adultos infectados com o vírus da Aids ao redor do mundo já foi identificado na literatura médica como recém libertos da doença, sendo o mais famoso deles Timothy Brown, também conhecido como "o paciente de Berlim". Ele recebeu um transplante de medula para tratar leucemia e, de quebra, se livrou do HIV. Mas nenhum método fácil emergiu para erradicar o vírus da imunodeficiência humana adquirida, que tem 34 milhões de pessoas em todo o mundo e é responsável por 1,8 milhão de mortes anualmente. A notícia com a atualização do caso da menina, publicado no New England Journal of Medicine, também buscou responder a perguntas feitas por especialistas, como se ela realmente estaria infectada, ao descrever que os testes e DNA e RNA deram positivo para HIV um dia após o nascimento. A criança recebeu medicamentos antirretrovirais até os 18 meses e, depois de um ano e meio sem tratamento, nenhum sinal da doença voltou, descreveu o artigo. "Nossas descobertas sugerem que a remissão desta criança não é mera sorte, mas provavelmente resultou da terapia agressiva e precoce que pode ter evitado que o vírus tomasse conta das células imunológicas da menina", afirmou a principal autora do artigo, Deborah Persaud, virologista e especialista em HIV pediátrico do Centro Infantil do Hospital Johns Hopkins. A mãe da menina deu à luz prematuramente, cerca de um mês antes do previsto, e não recebeu qualquer cuidado pré-natal. Ela não sabia que tinha HIV até fazer exames no hospital de Mississippi, onde a criança nasceu. A recém-nascida também teve exames positivos para o HIV e o alto nível encontrado em seu sangue sugeriu que ela se infectou no útero, afirmaram os pesquisadores. Ela também apresentou sinais de HIV aos 19 dias de vida, um dado que "sustenta a perspectiva dos autores de que a criança realmente estava infectada" com o vírus da Aids, escreveu em editorial que acompanhou o artigo Scott Hammer, respeitado especialista em HIV do Centro Médico da Universidade de Columbia. "A grande pergunta, claro, é: 'A criança está curada da infecção por HIV?' E a melhor resposta no momento é um definitivo 'talvez'", escreveu. Segundo o especialista, é necessário um acompanhamento de longo prazo da criança, alertando que seu caso pode ser "único". A menina recebeu medicamentos antirretrovirais nos primeiros 15 a 18 meses de vida, quando deixou de ser acompanhada. Sua mãe a levou de volta aos médicos aos 23 meses de vida, afirmando que ela tinha recebido sua última medicação anti-HIV aos 18 meses. "Aconteceu quase por acaso", contou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas. "Não aconteceu de o médico dizer, 'vamos parar com o tratamento'", declarou à AFP. Segundo o estudo, exames feitos na menina aos 23 meses deram negativo para HIV e quando ela chegou aos 30 meses de idade, os exames continuaram sem apresentar qualquer sinal de HIV ou anticorpos de HIV. "Estamos animados em ver que a menina continua sem medicação e não tem replicação detectável do vírus", declarou a pediatra Hannah Gay, do Centro Médico da Universidade do Mississippi. "Continuamos a acompanhar a criança, obviamente, e ela continua muito bem", disse Gay, que foi a primeira médica a tratá-la. "Não há sinais de retorno do HIV e nós continuaremos a acompanhá-la no longo prazo", prosseguiu. A equipe médica que atendeu a menina acredita que a razão para o sucesso do tratamento seja a intervenção precoce e espera investigar se tratar outras crianças infectadas algumas horas após o nascimento poderia ter resultados similares. Segundo Fauci, um estudo financiado pelo governo americano deve começar em países de renda baixa e média em 2014 e está previsto testar o médico com recém-nascidos soropositivos em uma escala maior.