CONFERÊNCIA

Delegações sírias e potências mundiais se reúnem

Pequena cidade suíça de 15 mil habitantes viu durante todo o dia a chegada das autoridades

France Press
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22/01/2014 às 07:51.
Atualizado em 27/04/2022 às 18:29

Depois de longos meses de quedas de braço diplomáticas, os negociadores chegaram a Montreux nesta terça-feira para iniciar discussões, que se anunciam como difíceis e que têm como ambicioso objetivo pôr fim à violência na Síria. Essa pequena cidade balneária de 15 mil habitantes viu durante todo o dia a chegada dos participantes. O secretário de Estado americano, John Kerry, procedente de Genebra, deve viajar ainda esta noite para Montreux. Já o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, chegou esta tarde à cidade. As delegações do regime sírio, liderada pelo ministro das Relações Exteriores Walid Mouallem, e da oposição chegaram na noite desta terça a Montreux. Os negociadores do presidente Bashar al-Assad desembarcaram em Genebra com bastante atraso, devido a problemas durante uma escala em Atenas. O avião que transportava a delegação oficial síria ficou várias horas bloqueado na capital grega, por motivos ainda não divulgados. Os representantes da oposição chegaram um pouco mais cedo, também nesta terça à noite. "Chegaram a Montreux. Estão no hotel", declarou a fonte consultada pela AFP, que pediu para não ser identificada. Pouco antes da chegada da delegação, o regime sírio mostrou sua intransigência, ao advertir que o destino do presidente Bashar Al-Assad é "uma linha vermelha" que ninguém pode ultrapassar. O destino do presidente Bashar al-Assad é "uma linha vermelha", alertou o chefe da diplomacia síria, Walid Mouallem, citado pela agência de notícias Sana nesta terça, pouco antes de sua chegada a Montreux. "As questões do presidente e do regime são linhas vermelhas para nós e para o povo sírio, ninguém pode tocar na presidência", afirmou o ministro, de acordo com a agência de notícias síria. Em suas declarações, ele destacou, porém, "o desejo da Síria de fazer essa conferência ser bem-sucedida, como primeiro passo que abra caminho para um diálogo sírio-sírio sobre o território sírio para concretizar as aspirações do povo sem ingerência estrangeira, de qualquer parte que seja". "Viemos a Genebra na esperança de chegar a uma posição síria e internacional unificada frente ao terrorismo que atinge a Síria e a região", completou. Sobre a exclusão do Irã dessa conferência, país aliado do regime sírio, Mouallem considerou um "grande erro". Na verdade, a exclusão do Irã salvou a conferência de paz para a Síria, a "Genebra II", garantindo sua realização. A Rússia considerou hoje, porém, que se trata de um "erro", de acordo com seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. O principal aliado regional de Damasco já antecipa o fracasso das negociações na sua ausência. Anfitrião da conferência que começa nesta quarta, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon teve de retirar o convite feito de última hora ao Irã, diante dos protestos dos países ocidentais e da ameaça da delegação da oposição síria de boicotar a reunião. O Irã manifestou sua decepção por ter sido excluído. "Todo o mundo sabe que sem o Irã, as possibilidades (de alcançar) uma verdadeira solução na Síria não são tão grandes", disse o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi. Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, que desejam a saída de Al-Assad do poder, haviam condicionado a presença do Irã na Suíça ao apoio a uma transição democrática na Síria. Teerã é acusado de fornecer apoio militar e financeiro ao regime sírio no conflito. O chefe da diplomacia iraniana, Mohamad Javad Zarif, lamentou a falta de "valor" de Ban Ki-moon, enquanto o russo Lavrov criticou as explicações do secretário-geral da ONU sobre sua mudança de posição. "Quando o secretário-geral da ONU disse que era obrigado a cancelar seu convite ao Irã porque (o país) não compartilha os princípios da solução do comunicado de Genebra (de junho de 2012), na minha opinião é uma frase bastante distorcida", declarou Lavrov. "Os que exigiram que se anulasse o convite ao Irã são os mesmos que afirmam que a aplicação do comunicado de Genebra deve levar a uma mudança de regime" na Síria, declarou o ministro russo. "É uma interpretação desonesta do que havíamos acordado em Genebra, em junho de 2012", continuou. A polêmica prévia à abertura da conferência destaca a fragilidade desse processo. O convite escrito e enviado por Ban a cerca de 30 países afirma explicitamente que o objetivo da reunião é "formar um governo de transição com plenos poderes", conforme Genebra I. No Montreux Palace, sede da conferência com acesso vetado à imprensa, haverá, sobretudo, discussões discretas para preparar a reunião de sexta-feira, na ONU, em Genebra, com as duas delegações sírias e o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Lahkdar Brahimi. Hoje, Ban se reuniu com a alta representante da União Europeia para Política Externa e Segurança, Catherine Ashton, e com Brahimi, na sede da ONU em Genebra. O conflito da Síria já deixou mais de 130 mil mortos desde março de 2011. Nesta terça, pelo menos dez pessoas morreram em um bombardeio da Força Aérea síria em Aleppo, no norte do país, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

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