Gravações feitas por dois ex-funcionários do gabinete da deputada estadual Janira Rocha (PSOL) presos na última segunda-feira (2) após tentarem vender um dossiê por R$ 1, 5 milhão mostram trechos em que a parlamentar reconhece que recursos do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev/RJ) foram usados em sua campanha e de outros integrantes do partido e na "construção do PSOL". Uma grande parte das gravações foi feita durante reunião da deputada, ex-diretora do Sindsprev, com integrantes da direção atual do sindicato em que se discute como deveria ser o relatório de seis meses da gestão, que seria analisado pelo conselho fiscal, formado por adversários internos de Janira. Não está clara a data da reunião, mas vários comentários dos participantes indicam que aconteceu há poucos meses. "Todo mundo sabe que foi dinheiro para minha campanha e todas as outras campanhas (...) O relatório tem que ser cuidadoso. A gente pode botar que foi para atividades políticas, mobilizadoras. Não dizer 'foi para a construção do PSOL' ou 'foi para eleger deputada' (...) Isso não pode ir (para o relatório), porque isso é crime, tanto do sindicato como crime nosso, crime eleitoral", diz Janira aos sindicalistas. Em outro momento, a parlamentar fala de um documento assinado por uma dirigente do sindicato na região dos Lagos que, se tivesse chegado ao conselho fiscal, poderia levá-la à cassação do mandato. "Se Cristiane (assessora da deputada Janira) não intercepta um documento (...) lá da (regional da região dos) Lagos minha cassação estava garantida. Da forma como ela respondeu o documento (...) Todo mundo sabe que foi dinheiro para minha campanha (...). O problema é ter um documento em papel timbrado de uma dirigente do sindicato dizendo que o dinheiro do sindicato foi para minha campanha", diz Janira. Em entrevista na terça-feira, 3, a deputada disse que as gravações estavam fora de contexto. Nesta quarta, Janira não quis dar explicações sobre os trechos ouvidos pela reportagem. Disse que quer ver todo o material escrito e gravado antes de se pronunciar. A deputada renunciou aos cargos de presidente do PSOL-RJ e de líder do partido na Assembleia depois que os dois ex-assessores, Marcos Paulo Alves e Cristiano Valadão, foram presos quando tentavam vender o dossiê à secretária estadual de Defesa do Consumidor, a deputada licenciada Cidinha Campos (PDT). Em outro trecho das gravações, Janira reconhece irregularidades cometidas no sindicato durante a gestão colegiada da qual fez parte. A deputada se desligou do Sindsprev para disputar a eleição de 2010. "Nós também fizemos m... Contratamos uma porrada de gente para esse sindicato (...) o problema da utilização da estrutura, pegamos dinheiro emprestado fora das regras de mercado, porque direto com agiota. Também temos nossos problemas. Tem roubo? Não tem roubo para nós, do ponto de vista moral Lá fora, para eles, é m..., é roubo", afirma a deputada. Outro bloco de gravações mostra funcionários do gabinete de Janira acertando com assessores da deputada o pagamento para o gabinete de parte do salário que recebem. A parlamentar disse que há apenas doações esporádicas e voluntárias para atividades externas. Comissão de ética Janira será investigada pela comissão de ética do PSOL e pela Corregedoria da Assembleia Legislativa. O corregedor, Comte Bittencourt (PPS), disse que analisará toda a documentação recebida da Delegacia Fazendária, que investiga os dois ex-servidores, e vai ouvi-los na semana que vem. Principal líder do PSOL no Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo disse que o partido pretende resolver a questão logo. "O que vai diferenciar o PSOL nesse mar de lama que é a política brasileira não são as pessoas, mas como o partido reage aos problemas. É preciso dar direito de defesa, mas a investigação será feita com firmeza", disse Freixo. Em nota, a Diretoria Colegiada do Sindsprev/RJ repudiou a informação de que financie a campanha de Janira. "O sindicato participou das mais importantes lutas da população brasileira (...) Sempre debateu com a categoria a necessidade de votar em candidatos identificados como defensores dos direitos dos trabalhadores, porém, sem apoiá-los financeiramente. Assim agiu no caso da candidatura da deputada Janira Rocha", diz a nota.