O dólar voltou a subir de forma consistente ante o real nesta terça-feira (28) e fechou cotado a R$ 2,0730 no mercado à vista de balcão, em alta de 0,83%. Este é o maior patamar de fechamento desde 18 de dezembro, quando estava em R$ 2,0890 no fim do dia. Embora a moeda tenha ficado acima de R$ 2,07, o Banco Central (BC) manteve-se longe dos negócios. Profissionais do mercado voltaram a citar que, aparentemente, a autoridade monetária está disposta a permitir um dólar em patamares mais altos.
Na cotação mínima desta terça-feira, às 10h46, a moeda atingiu R$ 2,0540 (baixa de 0,10%) e, na máxima, verificada às 14h35, marcou R$ 2,0740 (alta de 0,88%). Da mínima para a máxima, a oscilação foi de +0,97%. Às 16h38 (horário de Brasília), a clearing de câmbio da BM&F registrava giro financeiro de US$ 2 786 bilhões, sendo US$ 2,445 bilhões em D+2 - melhor que o movimento de ontem, quando os mercados permaneceram fechados nos EUA e no Reino Unido em função de feriados. O dólar pronto da BM&F teve avanço de 0,78%, para R$ 2,0710, com 18 negócios registrados. No mercado futuro, o dólar para junho era cotado a R$ 2,07350, em alta de 0,68%.
O movimento de alta no Brasil acompanhou o avanço da moeda americana no exterior, onde o dólar subia ante boa parte das divisas com elevada correlação com commodities e em relação ao euro. Os dados positivos divulgados pela manhã nos Estados Unidos motivaram a busca pelo dólar, em meio à percepção de que, com a economia norte-americana se recuperando, aumentam as chances de que o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) reduza o programa de compra de bônus.
Pela manhã, entre outros dados, os EUA divulgaram que o índice de confiança do consumidor norte-americano medido pelo Conference Board subiu para 76,2 em maio, o nível mais alto desde fevereiro de 2008, de uma leitura revisada de 69 em abril. Economistas consultados previam um avanço mais modesto do indicador em maio, para 72,0. Também saíram vários índices de atividade de distritais do Fed: o de manufatura do Fed de Richmond foi para -2 em maio, de -6 em abril, enquanto o de empresas do Fed de Dallas avançou para -10,5 em maio, de -15,6 em abril.
Com as boas notícias, os principais índices de ações em Nova York e na Europa subiram, enquanto o dólar se fortaleceu com a perspectiva de que, numa economia em recuperação, os estímulos do Fed podem ser retirados no futuro próximo. Isso, nas últimas semanas, tem fortalecido a moeda americana.
No Brasil, mesmo com o dólar acima de R$ 2,07, o BC não entrou no mercado - o que poderia ocorrer, conforme alguns analistas, por meio de leilão de swap cambial tradicional (equivalente à venda de dólares no mercado futuro). "O BC não atuar deixa claro que a banda (de flutuação da moeda) mudou para algo entre R$ 2 05 e R$ 2,10", comentou durante a tarde o gerente de câmbio da Fair Corretora, Mario Battistel. "Se você olhar uma cesta de moedas, quase todas elas estão perdendo em relação ao dólar. E isso também acontece por aqui", acrescentou.
"A moeda tem subido recentemente porque o dólar está num movimento de valorização, seja porque o iene acabou provocando isso, numa espécie de guerra cambial, seja pelo embate público dos membros do Fed, sobre a necessidade de diminuição das compras de bônus", comentou Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez Corretora. "Com isso, o real segue junto com as outras moedas."
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic, nesta quarta-feira, 29, traz um ingrediente adicional para os negócios. Apesar de o BC, na visão de alguns profissionais, estar confortável com um dólar mais alto, já que o controle preferencial da inflação será feito via Selic, Barbutti ainda mostra certa preocupação com a alta da moeda americana. "É bom lembrar que um dos responsáveis da alta da inflação no ano passado decorreu do câmbio. Então não é uma situação simples", acrescentou.