PIRACICABA

Empresa responsável por anel viário já foi multada 40 vezes

Desde setembro de 2012, diversas irregularidades foram constatadas em obra da SP-147

Juliana Franco
juliana.franco@gazetadepiracicaba.com.br
03/07/2013 às 10:42.
Atualizado em 27/04/2022 às 15:04

A empresa responsável pelas obras para construção do anel viário de Piracicaba - a Construtura Tardelli -  já recebeu 40 autuações e quatro embargos desde setembro do ano passado. A informação é do superintendente regional do Trabalho e Emprego, do Ministério do Trabalho, no Estado de São Paulo, Luiz Antonio de Medeiros Neto. Nesta terça-feira (2), ele esteve no local onde a queda da pilastra central da ponte construída sobre o rio Piracicaba causou ao menos três mortes (outras duas pessoas estão desaparecidas), às margens da rodovia Laércio Corte (SP-147). O acidente aconteceu na manhã de segunda-feira, 1º.

As irregularidades encontradas pelo Ministério vão desde condições precárias em alojamentos, falta de equipamentos de segurança aos trabalhadores a problemas com máquinas e estruturas nas obras. Ao lado de dirigentes sindicais da cidade e da região, Medeiros assinou o termo de interdição do trabalho no local.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) será chamada para realizar o laudo do acidente e, de acordo com o superintendente, a obra ficará embargada por no mínimo seis meses. No período, o contrato garante aos profissionais que atuavam no local - cerca de 80 homens - o recebimento integral dos salários.

"O fato não é uma fatalidade. Tudo indica que houve falha na engenharia da empresa, o que é de extrema gravidade. Nossa preocupação agora é apurar quem são os responsáveis pelo acidente. Eles devem pagar e responder criminalmente. Enquanto isso, queremos garantir apoio aos familiares, inclusive, o amparo financeiro", afirma o superintendente.

Durante a vistoria, Medeiros citou a possibilidade do pedido de um processo que impeça a concessionária Rodovias do Tietê, responsável pelas obras, de continuar o trabalho. "Podemos sugerir, por meio do Ministério, que uma nova licitação seja aberta com foco na contratação de outra empresa para a realização das obras. A tragédia poderia ser ainda maior, caso a pilastra aguentasse até o final do trabalho e despencasse, após liberada, com diversos carros", afirma.

A mesma concessionária responde por obra semelhante na rodovia Régis Bittencourt, que passará por rigorosa vistoria. "Uma empresa que recebe 40 autuações em apenas uma obra deve passar por inspeção. Ainda mais quando é responsável pela construção de pontes em diversos pontos do Brasil. Todos os canteiros serão fiscalizados, mas o trabalho na rodovia Régis Bittencourt terá foco maior por ser muito semelhante ao de Piracicaba".

Até o final da tarde de ontem, três corpos foram localizados no Rio Piracicaba. Dois continuam desaparecidos. De acordo com o mergulhador do Corpo de Bombeiros, Cabo Demori, os corpos estão presos na estrutura que despencou - o peso estimado é de mil toneladas. O resgate apenas pelos profissionais não foi possível devido ao peso do material.

A forte chuva que teve início da tarde de segunda-feira também prejudicou o trabalho, já que na manhã de ontem, o nível da água estava 40 centímetros mais alto. "A água é escura, há muitos escombros e com a elevação do nível do rio, a pressão sobre os mergulhadores é maior", afirma o cabo.

Das outras cinco vítimas que foram resgatadas e encaminhadas a hospitais de Piracicaba, apenas uma permanece internada, mas não corre risco de morte.

Resgate

Um novo equipamento chegou ao local do acidente, no fim da tarde de ontem. Composto por fios diamantizados, a tentativa será cortar tanto a parte de concreto quanto a treliça de metal em pedaços. "Por meio de uma máquina que funciona como um guincho, os profissionais vão tentar retirar pedaço por pedaço da estrutura, que terá peso menor. Não sabemos se dará certo, mas será uma tentativa", explica o Cabo Demori, que acrescenta: "O trabalho dos bombeiros só vai terminar quando as vítimas forem resgatadas".

Sem esperanças

Familiares acompanham o trabalho de resgate, mas sem esperanças. Irmão do trabalhador Anderson José de Oliveira, 36 anos, o policial militar Clayton Fernando do Santos Paes disse que o operário atuava no local há quase um ano e nunca citou insegurança no canteiro de obras. "Precisamos ter o pé no chão. Sabemos que ele não será resgatado com vida. Mas a única coisa que queremos é poder realizar um velório e um enterro digno. É o mínimo. A nossa família está desesperada", afirma.

Anderson morava em Guapiara (SP), era pai de um menino de 16 anos e tinha uma namorada. Paes está no local do acidente desde a manhã de segunda-feira. "Não sei até quando vamos ficar aqui. É angustiante saber que esta é uma espera sem tempo determinado".

Entre os desaparecidos estão: Aleandro Souza dos Santos, 25 anos; Adalto da Silva Dias, 42; Anderson José de Oliveira, 36; Divaldo Ferreira Mota, 41; e Adenilson Morato de Farias, 25.

Relembre o caso

Na manhã da última segunda-feira, 1, a queda da coluna central, sustentada por dez vigas, e de um equipamento de obra no novo anel viário de Piracicaba deixou cinco trabalhadores feridos, três mortos e dois desaparecidos no Rio Piracicaba. O acidente ocorreu na ponte construída sobre o manancial. As causas ainda são desconhecidas.

De acordo com informações, os trabalhadores colocavam vigas sobre um pilar em forma de T, fixado no rio. Na 10ª viga, todas elas e o pilar desabaram.

Oito operários foram jogados na água. Três conseguiram nadar até a margem, receberam os primeiros atendimentos médicos no local e posteriormente foram encaminhados a um hospital da cidade. Outros dois trabalhadores ficaram presos em um dos pilares da ponte e foram resgatados pelo helicóptero Águia.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por