Damaris e uma de suas obras: ela enfatiza a importância da conscientização entre os colaboradores (Divulgação)
É improvável que pessoas saiam de casa para um dia de trabalho a fim de criar conflitos em um ambiente onde passam boa parte do dia. A busca é sempre trabalhar em harmonia e assim produzir de forma saudável. Por outro lado, porém, há fatores que deixam o ambiente instável por conta de inúmeros motivos e entre eles os conflitos de interesse, os interpessoais e os emocionais.
Um exemplo é o retorno ao ambiente de trabalho pós-pandemia do novo coronavírus. A pandemia recuou, porém, trouxe sequelas para a vida das pessoas, e no emprego também.
"Já no começo da pandemia houve muita insegurança. Muitos profissionais tiveram medo do desemprego, da doença, de perder familiares. Esse medo, atrelado com o distanciamento social e trabalho remoto, produziu comportamentos que geraram conflitos dentro das empresas, tais como a falha de comunicação e a ansiedade", explica Damaris Alfredo Silva de Oliveira, 43, administradora de empresas e pós-graduada em gestão de pessoas.
A ansiedade, continua ela, tem uma característica muito peculiar: ela rouba o nosso foco no presente. "As pessoas ficam tão preocupadas com as tragédias imaginárias que podem ocorrer que acabam trabalhando e vivendo de forma automática. Desta forma não pensam e não analisam suas falas e nem suas ações, podendo ter comportamentos que provocam conflitos dentro e fora das empresas", explica ela.
A gestão de conflitos no ambiente de trabalho exige que a empresa invista cada vez mais em programas que auxiliem os profissionais a terem mais inteligência emocional, segundo aponta Damaris.
Ela esteve recentemente na Uniodonto Piracicaba realizando uma palestra que abordou as formas de lidar com conflitos; visão negativa x visão positiva; conflitos como constante no mundo globalizado; tipos de conflito; benefícios do conflito.
Damaris é também psicanalista, especialista em desenvolvimento do potencial humano, coach e master em certificação internacional em Programação Neurolinguística (PNL). Ela lançou este ano o livro "Acredite! Não confie em você... as armadilhas que sua mente cria para a autossabotagem".
Na entrevista à Gazeta também foram abordados outros assuntos. Entre eles um bastante agudo como as eleições este ano e seus impactos no ambiente de trabalho. A sombra da "polarização" certamente não está apenas nas ruas. Invadiu os lares, escolas e também o emprego.
"Infelizmente assistimos uma das eleições que mais proporcionaram conflitos de opiniões nos últimos tempos. A política trouxe problemas de relacionamento em grupos de amigos, família e também no quesito profissional. Acredito que muitos dos conflitos profissionais foram gerados pelas redes sociais. Muitas organizações utilizam o código de conduta para que os profissionais não falem sobre política ou religião dentro das empresas, mas nas redes sociais as pessoas são livres para expressarem o que desejam", explicou Damaris.
"Além do código de conduta, uma das formas que as empresas podem utilizar para não permitir que as divergências de pensamentos afetem os resultados organizacionais, é realizar com frequência treinamentos e workshops que promovam conscientização e respeito, ampliando a forma de pensar de cada colaborador", entende ela.
Os mais comuns
Quais os conflitos mais comuns? "Pela minha experiência, um dos conflitos mais antigos que existem dentro das organizações é o entre a área produtiva e a área comercial. Na maioria das vezes, a área produtiva reclama da área comercial que só pensa em vender sem saber se a área produtiva terá condições de produzir e entregar. Já a área comercial, na maioria das vezes, acredita que a área produtiva tem condições de fazer mais. Esse é um dos exemplos de conflitos que existem dentro das organizações e podem causar problemas de relacionamento interpessoal e falhas na comunicação", explica Damaris.
Uma saída que as empresas podem fazer para amenizar esses conflitos é promover integrações constantes entre departamentos a fim de que cada um possa entender melhor o trabalho, os desafios, os obstáculos e as dificuldades que cada área e colaborador têm, segundo explica a especialista em desenvolvimento do potencial humano.
"Já acompanhei empresas que implantaram o programa TBC (Trabalhe bem comigo) que tinha por objetivo aproximar as áreas em conflitos para que cada profissional passasse ao menos um dia trabalhando na área do outro colega, e isso gerou resultados positivos, pois foi possível ampliar a percepção e trabalhar melhor a empatia".
Ela explica ainda que existe uma diferença entre conflito e confronto. No conflito, as pessoas estão dispostas a defender seus pontos de vista, mas sempre com a intenção de preservar a continuidade da relação. Já no confronto, a pessoa só tem interesse em expressar o que ela pensa, sem levar em consideração a opinião do outro.
"O conflito é saudável e útil para pessoas e organizações quando nos faz pensar e ampliar a nossa percepção sobre um fato, pessoas ou situações. O confronto é quando as pessoas não estão dispostas a mudarem os seus pensamentos. Ele pode ser nocivo para profissionais ou empresas, porque cria-se a armadilha da arrogância acreditando que somente a sua forma de pensar e agir está correta. Para as organizações esse é um preço muito alto a se pagar. Já vimos diversas empresas que acabaram sendo engolidas pelo mercado por não quererem mudar a estratégia. O mesmo acontece com profissionais, podendo ser dispensados de boas oportunidades de trabalho por acreditarem que somente eles eram bons, suficientes e necessários dentro das organizações".
Conflito entre gerações
"Atualmente podemos encontrar dentro da maioria das organizações o conflito entre gerações", diz a especialista em desenvolvimento do potencial humano.
Muitas organizações têm hoje diversas gerações trabalhando juntas, tais como: Baby Boomers (faixa etária entre 56 a 65 anos) Geração X (faixa etária entre 40 a 55 anos), Geração Y (dos 25 anos aos 40 anos) e Geração Z (nascidos pós os anos 2000).
"Os conflitos que surgem se devem às diferentes formas de pensar e agir por isso não dá para classificar uma única geração e dizer que ela é a que mais gera conflitos", aponta Damaris.
Por exemplo, as gerações mais novas (Y e Z) são sempre condenadas pelas gerações mais velhas (X e Baby Boomers) por serem mais impacientes e quererem resultados imediatos, visto que nas gerações mais velhas as pessoas ficavam mais tempo dentro das organizações e esperavam o tempo necessário para crescerem.
"Hoje, as novas gerações têm uma inquietação e não são capazes de esperar anos para ascender dentro de uma empresa. Se a empresa atual não estiver atendendo suas expectativas, elas vão em busca de uma nova oportunidade", explica Damaris.
Embora as gerações mais novas tenham a característica do imediatismo, as pessoas compostas por esse grupo são as que mais convivem com as diferentes formas de pensar, o que pode proporcionar a esta geração uma comunicação mais respeitosa, de acordo com a psicanalista. "Desta forma, em minha visão, os conflitos são gerados mais por falta de maturidade emocional do que por faixa etária".
A Síndrome de Burnout
Um problema em evidência nos últimos anos é a síndrome de Burnout. Trata-se de um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições desgastantes de trabalho.
"O Burnout é o pico máximo do estresse. Já há alguns anos estamos acompanhando os profissionais adoecerem emocionalmente; não é à toa que cada ano que se passa aumenta o número de pessoas que consomem ansiolíticos. Tudo isso se deve ao cenário de incertezas, dúvidas e alta cobrança que a maioria dos profissionais vem enfrentando na última década", explica a Damaris.
O Burnout, diz ela, é uma doença mental que surge após o indivíduo passar por situações de trabalho desgastantes que, normalmente, envolvem funções que possuem muita responsabilidade, ou até mesmo, excesso de competitividade.
"Os sintomas variam de fatores emocionais a problemas físicos. Como alguns sintomas podem ser considerados comuns e leves, as pessoas tendem a achar que o Burnout é passageiro. Porém, a piora pode ser rápida e as complicações podem ser evitadas com o diagnóstico precoce e tratamento correto. Além das ações que muitas organizações vêm tomando para ajudar os colaboradores a fazerem a gestão de suas emoções, os profissionais podem evitar o burnout cuidando melhor da qualidade de vida, ou seja, praticando atividade física, alimentação e melhorando a qualidade do sono. Para isso é fundamental a busca pelo autoconhecimento e o desenvolvimento de inteligência emocional", aponta Damaris.
Obras
A psicanalista e especialista em desenvolvimento do potencial humano lançou recentemente seu terceiro projeto como escritora. O primeiro livro foi lançado em 2016 em parceria com mais 22 coaches e se chama "Você vai ficar sentado aí", da Editora Comunica.
Em 2019, foi a vez da obra "Liderança Modo On - Como Transformar o Mindset da Liderança", e foi lançado pela editora DVS. Neste livro, é explicado como o modelo mental do líder pode potencializar ou impedir os resultados de uma organização.
E agora, em 2022, saiu o "Acredite! Não confie em você...as armadilhas que sua mente cria para a autossabotagem". Nesta obra, diz Damaris, ela convida o leitor para um bate-papo inspirador, que traz para a conversa episódios reais de seus clientes e dela, provocando reflexões e a desconstrução dos conceitos que suscitam a autossabotagem.
A obra foi produzida pela Editora Beetutti e pode ser comprada pelo site de sua empresa www.darh.com.br/livros/ ou através da plataforma Amazon versão para o Kindle.da plataforma Amazon versão para o Kindle.