DEPUTADO

Feliciano de iguala a Moisés e diz chorar por gays

Durante visita a uma igreja em Valinhos, ele chegou a se intitular um "herói do povo"

Felipe Tonon
felipe.tonon@rac.com.br
30/06/2013 às 11:52.
Atualizado em 27/04/2022 às 15:03

O pastor evangélico e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) ainda causa polêmica por onde passa. Durante visita a uma igreja em Valinhos, na última quinta-feira, ele chegou a se intitular um “herói do povo” e se comparou a personagens da bíblia como João Batista e Moisés. Durante as mais de três horas que permaneceu na igreja, usou pelo menos um terço do tempo que teve falando sobre política. Fez críticas ao governo Dilma e disse que por trás dos programas sociais do PT “há um grupo de homens e mulheres que querem destruir a família brasileira.” O deputado ainda criticou os evangélicos que não o apoiam e disse estar recebendo apoio de católicos e até de “demônios”.

Mesmo com o aumento da pressão popular que pede a saída do deputado da presidência da Comissão de Direitos humanos da Câmara Federal, o político afirmou ao Correio, logo após o culto da última quinta-feira, que “em hipótese alguma” deixará o cargo. As manifestações contra ele começaram no início do ano, quando o pastor evangélico assumiu a comissão especial. Antes disso ele já era alvo de críticas por postar comentários homofóbicos e racistas em redes sociais.

Feliciano chegou em uma comitiva composta por dois veículos. Seguranças faziam sua escolta, e ao entrar no templo foi ovacionado pelas centenas de pessoas que lotaram a igreja. Os fiéis gritavam “Feliciano me representa”.

Foi chamado por um dos pastores da igreja de “abnegado”. Quando tomou a palavra, disse que todas as noites chora pelos homossexuais. “São meninos e meninas que precisam da nossa ajuda, que não têm família e se têm, não recebem o amor devido. Felizes as nossas crianças que estão aqui dentro, que vão crescer e ser bênção para esta nação”, disse, arrancando gritos e aplausos do público.

Durante uma oração, declarou sentir orgulho de ser alvo de protestos. “Protestam contra mim porque eu amo a sua família. Eu me sinto João Batista, porque estou anunciando o Messias.”

Ele chorou ao dizer que está sendo apoiado por pessoas de outras religiões. “Recebi um babalorixá no meu gabinete. Ele disse que estava representando 600 terreiros e centros de feitiçaria e que toda sexta-feira eles batem o tambor para as entidades me proteger. Deus, quando quer, usa até demônios para proteger a gente”, gritou. Feliciano também reproduziu a fala de um padre, que teria o abordado no avião. “Você virou o nosso herói”, disse, chorando. “Eu me emociono porque isso é uma coisa que nunca aconteceu no Brasil.”

O deputado causou ainda mais polêmica ao sugerir que sua história é semelhante a de Moisés. Pela doutrina cristã, Moisés foi um homem escolhido por Deus para libertar os israelitas da escravidão no Egito. “Foi preciso dor, abandono, escravidão, para que Deus pudesse curar aquela nação, e 430 anos depois Deus suscita entre eles um herói, e interessante, o herói se tornou o maior legislador do mundo.”

Apesar de afirmar desconhecer as causas da homossexualidade, Feliciano afirmou que crianças abusadas sexualmente “se apaixonam” pelo seu agressor. “Eu tenho sentando com alguns deles e eles me contam como tudo começou, traumas na família, abusos sexuais. Mas o agressor não bate para ter sexo, compra com doces, presentes, e a criança olha para esse agressor e passa a ter paixão por ele, e sexo vicia e daí cresce um transtorno e não podem procurar ajuda. Eu não sei qual vai ser o futuro.”

O deputado federal ainda acusou a mídia de fazer lobby contra o projeto conhecido popularmente como “Cura Gay” e que, por isso, não será aprovado. “Se esse projeto morrer, e com certeza vão matar o projeto, porque já fizeram um circo em cima dele, e é muito triste isso. A mim ele não ofende. A aprovação, ou não, não muda nada na minha vida, nem na vida da minha família, porque a minha família é estruturada. É mau para eles (homossexuais). Eu tenho pena.” 

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