Os trens e o metrô não estavam circulando e o transporte aéreo sofria atrasos e cancelamentos nesta quinta-feira (27) em Portugal devido a uma greve geral, a quarta nos dois últimos anos, convocada pelos sindicatos para protestar contra a política de austeridade imposta pelo resgate europeu.
"As manifestações funcionaram no Brasil. Os portugueses devem sair às ruas e expressar sua cólera" afirmou David Santos, um jovem desempregado que protestava na capital.
A greve foi convocada pelos dois principais sindicatos do país, a Confederação Geral dos Trabalhadores de Portugal (CGTP), próxima ao Partido Comunista, e a União Geral de Trabalhadores (UGT), historicamente mais moderada e ligada ao Partido socialista.
Milhares de pessoas saíram às ruas de Lisboa e de outras cidades para protestar.
"Os objetivos da greve foram alcançados", declarou à imprensa, Carlos Silva, secretário geral da central sindical UGT, que convocou a mobilização com a CGTP.
"Nosso objetivo era dizer: parem com as políticas de austeridade!", acrescentou, comemorando a "forte mobilização", especialmente no setor público.
Segundo ele, a taxa de participação foi "superior a 50% do total dos ativos", ou seja, um pouco mais de "cinco milhões de pessoas, entre elas, mais de um milhão de desempregados", disse.
Um pouco antes, Armênio Carlos, líder da CGTP, falou de "uma greve geral excepcional" e acusou o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, de ser o "maior exterminador do emprego".
Alguns incidentes foram registrados durante a mobilização. Uma centena de manifestantes saiu do parlamento e atravessou a cidade para bloquear a ponte 25 de abril, que une os subúrbios do sul da capital. A polícia impediu a passagem deles alguns metros antes do acesso à ponte.
A greve de quinta-feira é a segunda organizada conjuntamente por ambos os sindicatos desde a de novembro de 2011, cinco meses depois da chegada ao poder do governo de centro-direita. A CGTP convocou sozinha as greves de março e novembro de 2012.
A greve foi convocada após o anúncio pelo governo de uma série de medidas de austeridade, que afetam, sobretudo, os funcionários públicos (aumento de 35 a 40 horas de trabalho semanais, supressão de postos de trabalho).
Contudo, a esperança das duas centrais de estender o movimento social ao setor privado, pouco sindicalizado, parecia frustrada. "As cifras para o setor privado não alcançam as da administração pública", admitiu Carlos Silva.
"Alguns portugueses não estão trabalhando, mas outros sim. O país não está paralisado", comentou o ministro porta-voz do governo, Luis Marques Guedes, após o Conselho de ministros semanal.
A administração dos aeroportos, ANA, informou que 80 voos foram cancelados, entre eles 56 a Lisboa, e que havia numerosos atrasos.
Os serviços de saúde também foram afetados e no hospital São José, um dos principais de Lisboa, apenas as cirurgias urgentes foram realizadas, segundo a televisão privada Sic.
Os meios de comunicação públicos também foram afetados. A agência de imprensa Lusa interrompeu seu serviço desde as 05H00 (horário de Brasília).
Sob a mira da Troika
Apesar de reconhecer o direito "inalienável" de fazer greve, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, fervente partidário da austeridade, afirmou na véspera, no Parlamento, que "o país precisa menos greve e mais trabalho", durante uma intervenção perturbada por manifestantes.
A greve geral é realizada sob a observação da "troika" UE-BCE-FMI, os credores de Portugal, que começou, na segunda-feira, uma missão em Lisboa para preparar a próxima avaliação trimestral, que se inicia no dia 15 de julho.
Apesar de seu crescente isolamento político em Portugal, Passos Coelho continua tendo o apoio dos credores que reconhecem seu esforço para melhorar as finanças do país. Por isso concederam um prazo até 2015 para reduzir o déficit público abaixo de 3% do PIB, o teto imposto por Bruxelas.
O primeiro-ministro não excluiu, contudo, pedir uma nova flexibilização dos objetivos, que já seria a terceira desde o plano de resgate financeiro de 78 bilhões de dólares, acordado em maio de 2011 pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
A política de austeridade agravou mais que o previsto a recessão e o desemprego, e a economia, em queda há dois anos, voltará a se contrair este ano com uma queda do PIB de 2,3%, em um contexto de desemprego recorde de 18,2% da população ativa.