NOVO RUMO

Menores da Fundação Casa de Piracicaba vão prestar Enem

Três jovens de 17 anos querem retomar o rumo de suas vidas e esquecer o mundo do crime

Ana Cristina Andrade
ana.andrade@gazetadepiracicaba.com.br
17/11/2013 às 11:58.
Atualizado em 27/04/2022 às 17:30

Estudar é a forma que três adolescentes de 17 anos encontraram na Fundação Casa de Piracicaba para retomar o rumo de suas vidas e deixar para trás, de vez, o mundo do crime e do tráfico que os levaram a perder a liberdade e que trouxe pouca ou nenhuma vantagem econômica. Esses jovens fazem parte do número de 838 adolescentes que cumprem medida nos centros socioeducativos da instituição em todo o Estado e que irão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) voltado para pessoas em privação de liberdade, o chamado Enem PPL. Além de possibilitar que eles possam obter notas para ingressar em um curso superior, o exame também possibilitará a expedição de certificados de conclusão do Ensino Médio. "É nossa chance de mudar de vida", disse B. um dos garotos que pretende cursar Engenharia Civil. "Já trabalhei de ajudante de pedreiro e gostei da área. Também já fui funcionário de um mercado e não me identifiquei com o setor. Acredito que conseguirei me encaixar nessa profissão ligada à construção civil", completou. Se ele conseguir, será a segunda pessoa da sua família a cursar uma universidade."Minha irmã fez enfermagem. Hoje ela tem filho, está casada. Tem a casa dela", comentou. Já os outros dois adolescentes, se ingressarem na faculdade, serão os primeiros de suas famílias com esse grau de estudo. "Gosto de cálculos, de projetos e é um trabalho pelo qual posso construir minha vida familiar. Também penso em Engenharia Mecânica. Ainda vou conhecer um pouco mais para escolher", disse V. Já para T. o Enem é uma "chance que não posso desperdiçar. É uma forma de entrar na faculdade e por isso estou estudando muito no quarto para conseguir uma boa nota". Empenho Eles sabem que passar na prova não é uma tarefa fácil. Por isso, além das aulas do Ensino Médio regular que participam na unidade no período da manhã, eles estudam todos os dias, antes de dormir, nos quartos. "Quando eles terminam as atividades do dia e vão para o quarto, ainda têm uma hora de luz acesa e é nesse período que eles estudam as apostilas do Enem que foram preparadas para eles", informou o diretor da unidade de Piracicaba, Flagas Rodrigues. Nesse momento, ao invés de procurar conversar com os outros adolescentes, que ocupam os beliches feitos em concreto com colchões envoltos em lençóis beges, eles estudam. Fazem as leituras na cama ou na mesa que também é de concreto, com bancos construídos no mesmo material, mas sem qualquer estofado. O ambiente, as cores das paredes em tons amarelados e as grades, não permitem que eles esqueçam que estão presos. Talvez com isso possam também refletir sobre a vida que levavam e a que querem quando reconquistarem a liberdade. Os três jovens não quiseram relatar os crimes que os levaram a perder a liberdade. No geral, entre todos os adolescentes internos da fundação Casa, os jovens, por serem imediatistas, acabam sendo seduzidos pelo mundo do crime e do tráfico. "Por causa do imediatismo, da vontade de querer ter as coisas rápidas, o crime e o tráfico se mostram como forma de ganhar dinheiro rápido para eles terem o que querem, mas há a cobrança da liberdade. É a consequência dos atos que cometeram", explicou a coordenadora pedagógica Lilian Barbosa Piccinini. O diretor Flagas Rodrigues, disse que o trabalho na fundação, que abriga 60 jovens, é feito de uma forma para que eles tenham um futuro diferente. "Esses jovens são inteligentes, têm potencial e muitos que já saíram daqui obtiveram grandes conquistas", disse. O diretor procura incentivar o potencial que cada jovem demonstra nos cursos que realizam na fundação. Um dos jovens treina no XV de Piracicaba e deve ser uma nova revelação do time, segundo Rodrigues. Outros também estudam no Senai e há aqueles que se destacam nos cursos oferecidos, como de chapeiro, no qual aprendem a preparar lanche, e de técnico em conserto de eletrodomésticos e aparelhos elétricos. "As pessoas que quiserem colaborar e trazer aparelhos quebrados para eles consertarem, vão contribuir com a aprendizagem desses jovens que estão aprendendo uma profissão". Veja também Menores da Fundação Casa veem oportunidade nos estudos Menores internos veem nos estudos a oportunidade para reescrever suas histórias

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