O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular no início de 2011, deixou nesta quinta-feira (22) a prisão e foi transferido para um hospital militar no Cairo, à espera da retomada no domingo de seu julgamento pela morte de manifestantes. Na noite de quarta-feira, as autoridades militares, que dirigem o país desde o golpe de Estado em 3 de julho contra o islamita Mohamed Mursi, anunciaram que o ex-presidente permanecerá em prisão domiciliar. Poucas horas antes, um tribunal havia ordenado sua liberdade condicional em um caso de corrupção, a última acusação que o mantinha atrás das grades. Mubarak, de 85 anos, foi transferido de helicóptero da prisão de Tora, no Cairo, para o hospital militar de Maadi, em um bairro periférico da capital. Sua libertação ocorre no momento em que o exército e a polícia conduzem há uma semana uma campanha de repressão sangrenta aos manifestantes e partidários de Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito e pertencente à Irmandade Muçulmana. O presidente deposto está sendo mantido preso pelo exército acusado de cumplicidade em mortes. Para os Estados Unidos, que pedem a libertação de Mursi, a situação de Mubarak é uma questão interna do Egito. Mubarak, que dirigiu o Egito por mais de 30 anos, responderá em um julgamento que será retomado no domingo por três acusações, incluindo pelas mortes de manifestantes durante a revolta de janeiro-fevereiro de 2011. No domingo também será aberto o processo dos líderes da Irmandade Muçulmana, presos pelo exército após o golpe contra Mursi. O guia supremo da Irmandade, Mohamed Badie, e seus dois assessores, Khairat al-Chater e Rachad Bayoumi, devem responder por "incitação à morte" de manifestantes anti-Mursi que atacaram a sede da conferia em 30 de junho. Quase mil pessoas morreram em uma semana no Egito, em sua maioria manifestantes pró-Mursi, quando militares e policiais se lançaram em uma repressão sangrenta. Com a prisão de seus líderes e a autorização dada às forças de ordem para atiraram nos manifestantes, os islâmicos têm tido dificuldades para se mobilizar. Sexta-feira será um dia-chave para a Irmandade Muçulmana que convocou uma manifestação em massa sob o lema "Sexta-feira dos Mártires", após a morte de centenas de partidários do presidente deposto. Os militares se apoiam na mobilização anti-Mursi em 30 de junho para justificar sua destituição, enquanto grande parte dos egípcios criticam o presidente deposto de ter capitalizado o poder em favor da Irmandade Muçulmana. Com a escalada da violência, a União Europeia decidiu suspender as licenças de exportação para o Egito de equipamentos de segurança e armas, e irá reexaminar a ajuda dada ao Cairo. Washington também ameaçou romper sua ajuda financeira, mas a Arábia Saudita prometeu que compensaria com seus aliados do Golfo qualquer perda de ajuda ocidental. Em uma semana, ao menos 970 pessoas morreram em confrontos entre pró-Mursi e forças de ordem. Este balanço é mais elevado do que os 850 mortos em 18 dias de revolta contra Mubarak em 2011. Nesta quinta-feira, dois soldados morreram em um ataque contra o comboio em que estavam em Ismailiya, no canal de Suez, segundo fontes da segurança.