INVESTIGAÇÃO

Panamá classifica armas cubanas de contrabando

País aguarda chegada de especialistas para vistoriar navio norte-coreano no qual estão armamento

France Press
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17/07/2013 às 17:41.
Atualizado em 27/04/2022 às 15:23

O Panamá classificou nesta quarta-feira (17) de contrabando o armamento cubano não declarado e encontrado em um navio norte-coreano, e está aguardando a chegada de especialistas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, que devem analisá-lo.

Por sua vez, o ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte garantiu que as armas cubanas interceptadas fazem parte de uma transação legal, e exigiu a libertação dos tripulantes detidos e a liberação do navio o quanto antes.

"Este carregamento não é mais do que armas obsoletas que serão enviadas de volta para a Cuba assim que forem recondicionadas, segundo um contrato legítimo", indicou a agência oficial de notícias da Coreia do Norte, citando o ministério.

"A carga é ilícita porque não está declarada. O que não está registrado, ainda que seja obsoleto, é contrabando", disse nesta quarta-feira o ministro da Segurança e advogado especializado em temas marítimos, José Raúl Mulino.

No dia 10 de julho, o cargueiro "Chong Chon Gang", procedente de Cuba, foi abordado antes de entrar no Canal do Panamá rumo à Coreia do Norte, por suspeitas de drogas ocultas em uma gigantesca carga de açúcar, a única indicação que figurava no documento, afirmaram as autoridades panamenhas.

Mas as inspeções no navio, depois de superada a resistência dos tripulantes, detectaram em um primeiro momento dois contêineres ocultos, em um dos quais havia material bélico, identificado posteriormente como um sistema de controle de disparo de mísseis antiaéreos.

Na terça-feira, Cuba afirmou que o armamento era seu e disse que se tratava de material "defensivo obsoleto", sustentando que ele estava sendo enviado para ser reparado na Coreia do Norte.

"No navio citado eram transportadas 240 toneladas de armamento defensivo obsoleto - duas baterias de mísseis antiaéreos Volga e Pechora, nove mísseis em partes, dois aviões Mig-21 Bis e 15 turbinas deste tipo de aparelho - tudo fabricado em meados do século passado - para ser reparado e devolvido ao nosso país", informou a chancelaria em Havana.

Para avaliar o material, "estamos esperando a chegada dos especialistas que solicitamos aos Estados Unidos e ao Reino Unido. E também uma missão técnica do Conselho de Segurança", disse Mulino.

Em declarações feitas também nesta quarta-feira, uma porta-voz do Departamento de Estado americano informou que Estados Unidos e Cuba discutirão "muito em breve" o caso da embarcação norte-coreana.

"Dissemos aos cubanos que vamos falar com eles muito em breve sobre o barco", disse a jornalistas a porta-voz do departamento de Estado, Marie Harf.

As Nações Unidas impuseram um embargo ao comércio de armas com a Coreia do Norte como parte das sanções por seu plano de testes nucleares com fins militares.

"Se for confirmado que o carregamento viola as resoluções da ONU, esperamos que o comitê de sanções do Conselho de Segurança tome ações rapidamente", reagiu nesta quarta-feira o governo da Coreia do Sul ao felicitar o Panamá pela interceptação da embarcação.

--- Armazenamento arcaico que desencoraja as inspeções ---

No entanto, na cidade de Colón, junto à entrada caribenha do canal, 150 pessoas continuavam a lenta tarefa de retirar dos porões da embarcação quase 250 mil sacas de açúcar.

A exasperante lentidão da tarefa - realizada em meio a uma invasão de abelhas atraídas pelo açúcar - ocorre pelo fato de que os trabalhos devem ocorrer de forma artesanal devido ao primitivo e surpreendente sistema de armazenamento utilizado em Cuba.

As sacas foram colocadas individualmente, enquanto o normal seria carregá-las em pallets. Ao serem colocadas soltas, a ação de esvaziar um porão, segundo especialistas, demora dois dias em vez de três horas, o que desestimula qualquer inspeção ao acaso se não houver real urgência de verificação.

No entanto, a justiça se preparava para iniciar os interrogatórios com os 35 tripulantes da embarcação, que foram levados ao Forte Sherman, uma antiga base militar americana da época em que o canal, devolvido ao Panamá em 1999, estava sob a administração de Washington.

"Os tripulantes estão em plenas condições (...) hoje estamos mandando especialistas em medicina legal para que sejam avaliados medicamente. Também estamos enviando uma equipe de psicólogos para que façam uma análise psicológica", disse o promotor antidrogas Javier Carballo, que lidera o caso.

O navio Chong Chon Gang, construído em 1979, tem um longo prontuário internacional quanto à problemas de segurança na navegação, mas também registra ao menos uma inspeção na Ucrânia por drogas.

Pelo canal do Panamá transitam 5% do comércio mundial e ele passa atualmente por uma gigantesca ampliação, que deverá estar habilitada no fim de 2014, ano do centenário da via interoceânica.

Pelo canal podem transitar barcos militares e também navios mercantes que levam material bélico, mas essas cargas devem ser declaradas previamente, já que exigem um protocolo especial, explicou um funcionário do canal.

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