VATICANO

Papa quer priorizar luta contra a escravidão

Entre as formas de trabalho forçado mais preocupantes está o de crianças que vendem drogas

France Press
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04/11/2013 às 15:32.
Atualizado em 27/04/2022 às 17:17

O papa Francisco quer que a Santa Sé lute contra as formas modernas de escravidão, que afetam 27 milhões de pessoas, manifestando preocupação com um tema sobre o qual deve ser realizada uma conferência em 2015, anunciou o Vaticano após a reunião de um grupo de especialistas. Trabalho forçado, prostituição, tráfico de órgãos e demais tráficos mantidos por organizações criminosas internacionais: reunidos durante o fim de semana com as Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais e com a Federação Internacional de Associações Médicas Católicas (FIAMC), sessenta observadores, religiosos e leigos formularam uma proposta contra todas as formas de escravidão que atingem 75% das mulheres e crianças. "Alguns observadores acreditam que o tráfico humano vai ultrapassar o tráfico de drogas e de armas em dez anos, tornando-se a atividade criminosa mais lucrativa no mundo", declarou nesta segunda-feira em uma coletiva de imprensa o bispo Marcelo Sanchez Sorondo, chefe da Pontifícia Academia das Ciências. Segundo um especialista entrevistado pela Radio Vaticano, o professor americano Marcelo Suarez-Orozco, o tráfico de seres humanos, mesmo que dificilmente mensurável, gera 30 bilhões de dólares. A Santa Sé prepara para 2015 uma reunião de quatro dias sobre esta questão. "Eu gostaria de fazer algo com o material" deste seminário, teria dito o Papa a Sorondo, que destacou o envolvimento pessoal de Francisco em um problema que a Santa Sé, até então, "não havia reconhecido a gravidade". O Papa sempre denuncia, quando tem a oportunidade, a "globalização da indiferença" que facilita o tráfico de seres Humanos, "a escravidão mais comum do século XXI". Entre as formas de trabalho forçado mais preocupantes, principalmente na América Latina, o pior é o de crianças e adolescentes que vendem drogas, que se tornam "prisioneiros" do tráfico, denunciaram os participantes. Com as organizações criminosas existe uma "cooperação, às vezes inconsciente, de muitas empresas multinacionais e até mesmo de governos", denunciou o bispo Sorondo. O tráfico de órgãos também foi discutido neste encontro. Segundo Sorondo, a cada ano 20.000 pessoas são forçadas a dar um órgão (fígado, rim, pâncreas, córnea, pulmão ou coração) às redes criminosas, muitas vezes com a cumplicidade de médicos e enfermeiras. As redes criminosas, ativas em 160 países, são como "estradas sobre nas quais muitos veículos diferentes podem circular, todos de forma ilegal", revelou o especialista argentino Juan Jose Lach, que ressalta a capacidade de adaptação segundo as demandas "do mercado", ainda que nos últimos anos tenha sido registrado "uma melhoria na qualidade da informação". A miséria, a falta de instrução, famílias desestruturadas, a proteção e a cumplicidade das autoridades fazem com que muitos jovens em todo o mundo caiam nas redes criminosas. O presidente da FIAMC, Dr. José Maria Simon Castellvi, elogiou como "uma mudança histórica" a atitude dos participantes frente à prostituição. "A linha é a tolerância zero. A prostituição deve desaparecer, não é um mal menor", disse, ressaltando que "a prostituição está sempre ligada à violência da máfia, às drogas". Dois milhões de pessoas são vítimas de tráfico sexual por ano, entre elas 60% são meninas, de acordo com dados divulgados durante o seminário.

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