SÃO PAULO

Para médicos, vítima de dengue tinha 'virose'

Nas duas primeiras vezes que buscou a Assistência Médica Ambulatorial (AMA) os médicos disseram tratar-se de uma virose

Agência Estado
correiopontocom@rac.com.br
08/04/2014 às 21:59.
Atualizado em 27/04/2022 às 19:48

Primeira vítima da dengue do ano na capital paulista, Israel Barbosa, de 6 anos, passou duas vezes por uma unidade de saúde antes de ter o diagnóstico correto da doença. Nas duas primeiras vezes que buscou a Assistência Médica Ambulatorial (AMA) Jaguaré na zona oeste, os médicos disseram tratar-se de uma virose. A Secretaria Municipal da Saúde vai investigar o atendimento dado ao garoto.De acordo com a família, Israel começou a apresentar febre alta, vômito e dor de cabeça em 25 de março. A mãe do menino o levou à AMA no mesmo dia. “O médico não pediu nenhum exame. Só deu a medicação para febre e disse para ele ficar em repouso até o fim da semana”, conta a doméstica Dalvaci Barbosa de Oliveira, de 48 anos, mãe do garoto, que mora com os outros três filhos na favela Nova Jaguaré. No dia 28, o garoto voltou a apresentar febre muito alta, o que fez a mãe voltar à AMA perto de casa. “Foi outra médica que atendeu. Expliquei que ele já tinha ido lá mas ela também disse que era virose”, conta a mãe. “Cheguei a comentar: ‘que virose brava, né, doutora?’, e ela disse que já tinha visto paciente que levou 20 dias para sarar.”No dia 31, o garoto teve nova piora e, desta vez, a mãe preferiu levá-lo ao Pronto-Socorro Municipal da Lapa, também na zona oeste. No dia seguinte, já com quadro de hemorragia, ele foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário, mas morreu no dia seguinte. Segundo Dalvaci, em nenhum momento os médicos da AMA levantaram a hipótese de dengue. “Sabia que o bairro estava registrando vários casos de dengue, mas nem imaginei que meu filho tivesse, porque dois médicos falaram que era virose. Quando você ouve algo do pediatra, você não vai discutir.” Com 208 casos desde janeiro, o Jaguaré é o bairro com a maior incidência de dengue na cidade. Apuração.De acordo com a Prefeitura, é procedimento padrão, em casos de morte por dengue grave, “a verificação do atendimento realizado pelas unidades de saúde, para avaliação da conduta médica e verificação de cumprimento dos procedimentos corretos dentro dos parâmetros e especificidades do caso”. A administração municipal afirmou ainda que, em janeiro, a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) distribuiu para todas as unidades nota técnica com as instruções médicas para o atendimento adequado de casos suspeitos de dengue. De acordo com a Prefeitura, essa nota será redistribuída. “Acho que se eles tivessem pedido o exame no primeiro dia, talvez meu filho estaria vivo. Talvez não teríamos dado medicamentos passados pelo médicos que podem ter agravado o quadro dele”, diz a mãe.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por