MEIO AMBIENTE

Piracicaba debate futuro da área do minipantanal

Biodiversidade corre risco de desaparecer com inundação prevista para ampliação de hidrovia

Adriana Ferezim
adriana.ferezim@gazetadepiracicaba.com.br
14/12/2013 às 20:28.
Atualizado em 27/04/2022 às 18:02

A paisagem e a biodiversidade do minipantanal Tanquã, pequeno vilarejo distante cerca de 40 quilômetros do Centro de Piracicaba, correm riscos de desaparecer com a construção da barragem de Santa Maria da Serra, empreendimento de múltiplo uso que prevê estender em 45 quilômetros a Hidrovia Tietê-Paraná, até o distrito de Ártemis. A obra é uma aposta para incrementar o transporte fluvial no Estado.O minipantanal tem 20km2 e foi formado após a construção da barragem de Barra Bonita, em 1963. Jacaré também espreita em lagoas formadas no bairro do TanquãCréditos: Christiano Diehl Neto/Gazeta de PiracicabaEle corre risco de sumir porque a nova barragem fará com que o nível da água no local suba 5,5 metros. Uma nova vila será construída 300 metros rio acima pelo Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo. O lago terá uma extensão de 30,9 Km2 e a área total do reservatório será de 67,7 Km2.O investimento na obra, que terá uma usina hidroelétrica, eclusa, vertedouro e escada para peixes, será de R$ 600 milhões do governo do Estado. Na última semana foram realizadas audiências públicas sobre o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório (EIA-Rima) da obra.Cabeça-seca, espécie de ave amazônica que habita a área inundadaCréditos: Christiano Diehl Neto/Gazeta de PiracicabaNo Tanquã, a natureza é exuberante. O Rio Piracicaba mostra força e delicadeza ao alagar a área de várzea, formando pequenas e grandes lagoas de águas mansas — que contrastam com a correnteza e as ondas no rio. A vida no local segue o ritmo das cheias. As lagoas formadas vivem repletas de peixes e, por isso, atraem aves aquáticas e migratórias, inclusive o tuiuiú — que pode chegar até 1,60 metro de altura.Os pássaros migram para o local no período da estiagem, quando a água abaixa e a “pesca” fica mais fácil nas lagoas. Um exemplo é o talha-mar, espécie que existe desde os Estados Unidos até a Argentina e habita o litoral e áreas de grandes lagoas. Nesse habitat também estão mamíferos, como a jaguatirica, ratão-do-banhado, jacaré-de-papo-amarelo, entre outros. Nas águas da lagoa é possível encontrar jacarés.Píer também integra paisagem, ameaçada por ampliação de hidroviaCréditos: Christiano Diehl Neto/Gazeta de PiracicabaNo Tanquã há também gado por toda parte — criado por moradores do local. Os animais, incluindo cavalos, ficam nas encostas e também nas planícies entre as lagoas.“O Tanquã é uma zona de sedimentação, uma área de transição entre a represa e o Rio Piracicaba. Nesse trecho foi formado um novo ecossistema. O impacto ambiental da construção da barragem será irreversível”, disse o geógrafo Anderson Guarda. Segundo ele, a compensação que está proposta no EIA-Rima para a ilha do Samambaia é bem menor que o Tanquã. “Pode ser que acima do reservatório uma nova área de várzea se forme, mas isso, se acontecer, pode levar 70 anos”, afirmou. MoradoresQuinze famílias vivem no Tanquã da pesca e da pecuária. O local abriga 74 residências, mas a maioria é de ranchos e casas de “veraneio” usados nos finais de semana. “São seis meses de cheia e seis meses de baixa. De fevereiro a julho fica tudo cheio e é muito bom para pescar”, disse Carlos César Giacomini Bernal, de 45 anos, pescador e dono de um bar que é um dos principais pontos de encontro.Ele reside no Tanquã há 45 anos e é presidente da Associação dos Pescadores e Moradores do bairro. Paisagem comum no verdadeiro Pantanal, boiada atravessando terreno alagado também é vista no Tanquã: pecuária é meio de vida a moradoresCréditos: Christiano Diehl Neto/Gazeta de Piracicaba“Ninguém é a favor da inundação. Ninguém quer mudar para uma casa nova. Demorei oito anos para rebocar e colocar janela na minha casa, com sacrifício.” Mesmo que a água avance, Mayk César Bernal, de 21 anos, não quer sair do Tanquã. Acostumado a navegar desde a infância, ele costuma levar pesquisadores e turistas para passeios. “Uns vem pesquisar o jacaré, outros, os morcegos, as aves e até a onça-parda”, disse.

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