Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas em Portugal e na Itália neste sábado (19) para protestar contra as novas medidas de austeridade anunciadas por seus governos com o objetivo de reduzir os déficits públicos. Na Itália, cerca de 70.000 pessoas, de acordo com os sindicatos, 50.000 segundo as autoridades, protestaram em Roma, onde um forte esquema de segurança foi montado por temor de incidentes. "Protestamos contra uma austeridade que deixa o país de joelhos", explicou Piero Bernocchi, do movimento sindical Cobas. Para ele, esta política "não atingiu o seu objetivo, que era reduzir a dívida, enquanto a classe política continua com os seus privilégios". O Parlamento italiano começou a examinar o orçamento para o ano que vem, que inclui grandes cortes nos gastos sociais. Confrontos foram registrados entre cerca de cem manifestantes mascarados e a polícia em torno do Ministério italiano das Finanças. Quatorze pessoas foram detidas antes da manifestação e "várias" outras, depois. Em Portugal, os manifestantes participaram de protestos nas duas principais cidades do país, convocados pela CGTP, principal central sindical do país, ligada ao Partido Comunista. Na Cidade do Porto, maior cidade do norte, havia "entre 50.000 e 60.000" manifestantes, segundo os organizadores, mas 25.000, segundo a polícia. Eles atravessaram a pé a Ponte do Infante, que liga os dois lados do rio Douro. Em Lisboa, os manifestantes cruzaram a famosa ponte 25 de Abril, que homenageia a revolução que derrubou a ditadura salazarista em 1974, a bordo de cerca de 400 ônibus. Os organizadores não divulgaram estimativas sobre o número de participantes. "Mentirosos", "Fora", "O povo está revoltado", gritavam os manifestantes, que estavam reunidos no bairro de Alcântara, na capital. "Precisamos mudar de política com urgência" ou "Diante das injustiças, a revolução é uma obrigação", eram as palavras escritas em faixas exibidas por um grupo de aposentados. Enquanto isso, uma coluna de ônibus atravessava lentamente a ponte, em meio a um buzinaço. Cada ônibus que passava recebia os aplausos dos manifestantes. "Vou ter que emigrar" "Meu filho, meu neto e meu bisneto estão desempregados. Tenho motivos para ficar preocupada!", disse Olga Costa, de 71 anos, que recebe uma aposentadoria de apenas 371 euros. "Tenho que trabalhar em sete locais diferentes para sobreviver", afirmou uma faxineira que tinha saído de Aveiro (centro) para protestar, acompanhada de sua filha, estudante, e de seu marido, um marceneiro desempregado. "Tivemos que reduzir todas as nossas despesas, incluindo as com medicamentos!", disse essa mulher de 51 anos. "O orçamento do governo para o ano que vem atinge fortemente as classes mais modestas. Isso é injusto. Somos nós que vamos ter que pagar pela crise", reclamava Eugênia Leal, professora de uma escola lisboeta. "Não acho que as coisas vão melhorar neste país!", afirmou Marta Tavares, estudante de Comunicação de 19 anos. "Vou ter que emigrar!", completou. Em Portugal, essa foi a primeira grande mobilização após o anúncio feito na terça-feira de um novo programa de austeridade incluído no plano de orçamento para 2014, que vai atingir em cheio o poder aquisitivo dos funcionários públicos e dos aposentados. Entre as medidas mais contestadas estão reduções de 2,5% a 12% nos salários dos funcionários públicos, assim como cortes de cerca de 10% nas aposentadorias daqueles que trabalharam no setor público. A organização desse dia de mobilização foi marcada por uma disputa entre a CGTP e o governo sobre o trajeto escolhido para a manifestação em Lisboa. "O governo tentou nos impedir, mas a ponte não lhe pertence", declarou o líder sindical.