CRISE NO TRABALHO

Procuradora investiga pagamentos de ministério ao PDT

Ex-dirigente da legenda disse que esquema foi montado pelo atual ministro Manoel Dias

Da Agência Estado
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19/09/2013 às 09:43.
Atualizado em 27/04/2022 às 16:34

O Ministério Público Federal investigará a suspeita de que uma entidade financiada pelo Ministério do Trabalho pagava militantes do PDT de Santa Catarina por serviços prestados ao partido. Em depoimento ao Estado, um ex-dirigente da legenda afirmou que o esquema foi montado em 2008 pelo atual ministro da pasta, Manoel Dias (PDT-SC), na época presidente do diretório catarinense e secretário-geral da sigla. A Procuradoria da República em Santa Catarina informou que as apurações sobre a suposta contratação de “fantasmas” serão feitas no âmbito de inquéritos que já apuram irregularidades em convênios da entidade, que correm sob sigilo. Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) mostra que a Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Rio Tijucas e Itajaí Mirim (ADRVale) “contratou” 55 pessoas sem comprovar que elas, de fato, trabalharam em convênio de R$ 6,9 milhões com a pasta. Ao menos 17 são ou eram filiadas ao PDT-SC. A lista inclui André Tomé Igreja, nomeado por Manoel Dias para um cargo no ministério, e Roger Minotto, irmão do chefe de gabinete do ministro, Rodrigo Minotto. Dinheiro vivo  Delator do suposto esquema, John Sievers Dias, que presidiu a Juventude do PDT em Santa Catarina em 2012 e ainda é filiado ao partido, recebeu pagamentos mensais, por meio de depósitos feitos na boca do caixa. Ao Estado, ele entregou seis comprovantes bancários que, segundo relata, foram feitos pela ADRVale por serviços que, na verdade, prestou à Universidade Leonel Brizola. Braço da sigla para a formação da militância, a instituição é mantida por fundação homônima, comandada por Manoel Dias. Os valores, que variam de R$ 800 a R$ 1.335, foram depositados entre fevereiro e agosto de 2008 numa conta mantida por Sievers em agência do antigo Banco do Estado de Santa Catarina, mais tarde incorporado pelo Banco do Brasil. Chefiada por dois ex-pedetistas, a ADRVale, hoje inativa, recebeu R$ 11,3 milhões do Ministério do Trabalho na gestão de Carlos Lupi (PDT-RJ), aliado político de Manoel Dias, para qualificação de trabalhadores. A CGU aponta diversas irregularidades nos convênios. A ADRVale e Manoel Dias negam o esquema. Em nota, a Juventude do PDT desqualificou o relato de Sievers, classificando-o como “pessoa fragilizada”. “A tática é desmoralizar. Assistem a injustiças de camarote e acham tudo normal”, rebateu ontem o delator. Sievers disse que, além dele, outro pedetista, Fábio Machado, foi indicado por Manoel Dias para receber “salário” da ADRVale. Ontem, Machado falou por telefone, mas, questionado sobre o que fazia como auxiliar administrativo, disse não se lembrar. “Isso faz quatro anos. Tenho de me recordar.” E defendeu Manoel Dias: “Me sinto lisonjeado por conhecê-lo e não tive nenhuma decepção com ele”. Tomé Igreja desligou o telefone quando o repórter se apresentou e não respondeu a e-mail enviado ontem. A assessoria do Trabalho também não respondeu a e-mail com questionamentos a Manoel Dias e seu chefe de gabinete.Mesmo irregular, ADRVale recebia verbas, diz CGU A Controladoria-Geral da União (CGU) diz que o Ministério do Trabalho continuou repassando dinheiro à ADRVale, ligada ao PDT, mesmo após a constatação de irregularidades em convênios. Relatório do órgão mostra que, na parceria de R$ 6,9 milhões firmada em 2007, houve contratação de empresas de “grupo familiar”, licitações e contratações conduzidas indevidamente, realização de despesas “ilegítimas”, pagamento de serviços não realizados e descumprimento do objeto pactuado no contrato, o que gerou prejuízo de R$ 682 mil. A CGU diz ainda que a despeito do prejuízo e de 47 irregularidades não esclarecidas, a Secretaria de Políticas Públicas de Emprego celebrou outros cinco convênios com a ADRVale, que recebeu R$ 4,4 milhões por eles, conforme o Portal da Transparência. Em outro documento do ano passado, a controladoria informou que a entidade não havia apresentado prestações de contas de duas dela. A ADRVale diz que os convênios foram executados conforme as normas do Programa Projovem e que os questionamentos estão sendo esclarecidos.  

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