A ONU confirmou nesta segunda-feira a utilização de gás sarin no ataque de 21 de agosto na periferia de Damasco, mas não apontou o responsável, ao mesmo tempo em que Ban Ki-moon classificou como crime de guerra o uso de armas químicas no conflito sírio. O secretário-geral da ONU disse que os investigadores do organismo confirmaram agora de maneira "inequívoca e objetiva que foram utilizadas armas químicas na Síria". Sobre este ponto, a primeira página do relatório sustenta que há provas claras e convincentes do uso de armas químicas em uma escala relativamente grande durante o conflito. O chefe das Nações Unidas fez estes comentários em consultas a portas fechadas do órgão executivo de 15 membros da ONU, nas quais disse que médicos encontraram gente morrendo nas ruas após o ataque com gás sarin de 21 de agosto perto de Damasco, afirmaram à AFP diplomatas presentes na reunião. Ban disse que as condições do tempo da manhã de 21 de agosto maximizaram o impacto potencial do ataque. "O movimento descendente do ar permitiu que o gás penetrasse facilmente nos porões e nos níveis mais baixos dos edifícios, e em outras estruturas onde muitas pessoas buscaram refúgio", explicou. O relatório dos inspetores não aponta diretamente os responsáveis por estes ataques com armas químicas, já que seu mandato prevê que eles não podem se pronunciar sobre este ponto. No entanto, afirma claramente que "mísseis terra-terra contendo o agente neurológico sarin foram utilizados" no ataque de 21 de agosto na região de Ghoutta, perto de Damasco, alvo do ataque. "As amostras ambientais, químicas e médicas que coletamos fornecem evidências claras e convincentes de que mísseis terra-terra contendo o agente neurológico sarin foram utilizados" em Ghoutta. "Este resultado nos deixa com preocupações profundas", acrescenta. Os especialistas afirmam que, baseados nas evidências encontradas, "a conclusão é que armas químicas foram utilizadas no conflito em curso entre as partes na República Árabe da Síria... contra civis, incluindo crianças, em uma escala relativamente grande". Para o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, o relatório não deixa nenhuma dúvida sobre a origem do ataque e "reforça a posição dos que disseram que o regime (de Bashar al-Assad) é culpado". "O conteúdo do relatório é contundente; confirmou o emprego maciço de gás sarin (...) não há nenhuma dúvida sobre a origem do ataque", declarou Fabius à rádio RTL. Horas antes, a Comissão de Inquérito da ONU sobre violações de direitos humanos na Síria, liderada pelo brasileiro Paulo Pinheiro, anunciou em Genebra que investigava 14 supostos casos de ataques químicos, que teriam sido cometidos desde setembro de 2011. --- Ocidentais pedem resolução forte da ONU --- Os Estados Unidos declararam nesta segunda-feira que o relatório da ONU sobre a utilização de armas químicas na Síria deixa claro que o regime de Bashar al-Assad é o responsável. "A informação fornecida no relatório de que o agente sarin foi lançado em mísseis terra-terra que apenas o regime de Assad possui mostra claramente quem é o responsável" por este ataque, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. O presidente Barack Obama, por sua vez, disse que o acordo alcançado com a Rússia no fim de semana tem o potencial de colocar fim à ameaça do arsenal químico sírio. "Se for implementado adequadamente, este acordo pode colocar fim à ameaça que estas armas representam não apenas para o povo sírio, mas para o mundo", disse o presidente. Rússia e Estados Unidos concluíram no sábado em Genebra um acordo que obriga Damasco a apresentar uma lista de suas armas químicas no prazo de uma semana e prevê uma resolução da ONU, com possibilidade de recorrer à força caso o regime não cumpra com seus compromissos. Durante uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira em Paris com seus colegas americano e britânico, John Kerry e William Hague, Fabius disse que os três países desejam obter "nos próximos dias uma resolução forte" do Conselho de Segurança. "Uma resolução que preveja, é claro, consequências sérias se não for aplicada", disse Fabius. "Se Assad não aplicar o acordo sobre as armas (químicas), haverá consequências", declarou Kerry. Esta advertência aparecia em um primeiro projeto de resolução preparado por Paris na semana passada, que foi considerado inaceitável pela Rússia. Fabius viajará na terça-feira à Rússia para se encontrar com o chanceler Serguei Lavrov. Mas imediatamente após a reunião de Paris, o ministro russo afirmou em Moscou que uma resolução que ameaçasse a Síria poderia fazer o processo de paz fracassar. Fabius anunciou paralelamente a organização na próxima semana em Nova York de uma grande reunião internacional ao redor da Coalizão Nacional Síria, da oposição. Antes, os três chanceleres se reuniram com o presidente François Hollande para discutir o projeto de resolução. Os três países consideraram essencial que seja adotado um texto forte e vinculante com um calendário preciso que leve a um desmantelamento do arsenal químico sírio antes de meados de 2014, anunciou a presidência. Hollande ressaltou que os três países devem "manter a linha de firmeza que permitiu empreender este processo diplomático", indicou na Presidência. "Devemos fazer o regime compreender que não há outra perspectiva a não ser a mesa de negociações" e que "para negociar uma solução política é necessária uma oposição forte", declarou Fabius. Mas tal solução política será difícil de alcançar, segundo uma pesquisa do instituto britânico IHS Jane',s publicada nesta segunda-feira pelo Daily Telegraph, que indica que os jihadistas e os islamitas membros de grupos extremistas representam cerca da metade das forças rebeldes que combatem o regime sírio. A opção de uma intervenção militar continua sobre a mesa, afirmou Hollande no domingo. John Kerry também declarou em Jerusalém que a ameaça de uma ação militar dos Estados Unidos continua sendo real. "As declarações americanas sobre a possibilidade de bombardeios são uma ameaça para toda a região e cheiram à agressão", declarou o ministro sírio da Informação, Omrane al-Zhobi, que acolheu o acordo de Genebra como uma vitória para a Síria. "Aceitamos o plano russo de nos desfazermos de nossas armas químicas. De fato, começamos a preparar nossa lista", disse o ministro.