MORTES NA OBRA

Trabalho para resgate de corpos no Rio Piracicaba é reiniciado

Acidente em obras do novo anel viário deixou pelo menos três operários mortos e dois desaparecidos

Moara Semeghini
moara.semeghini@rac.com.br
04/07/2013 às 10:47.
Atualizado em 27/04/2022 às 15:07

Recomeçou na manhã desta quinta-feira (4) o trabalho das equipes do Corpo de Bombeiros e da empresa de engenharia subaquática de Santos – contratada para retirar os escombros que despencaram no Rio Piracicaba na última segunda (1º), no acidente nas obras do novo anel viário da cidade, que deixou pelo menos três operários mortos e dois desaparecidos.

O trabalho de retirada dos destroços começou nesta quarta (3) e parte das equipes de resgate trabalharam até às 4h da madrugada de hoje (4). Uma máquina de corte subaquática começou ontem (4) a retirar a vigas de metal, parte do material que desabou com a queda de parte da ponte que estava sendo construída sobre o rio.

Uma máquina cerra as vigas de ferro e o pilar de concreto, e retira os destroços. Quando o local é limpo, equipes do Corpo de Bombeiros entram em ação para tentar localizar os trabalhadores desaparecidos.

Um guidaste está no local desde ontem (2) para fazer a retirada da estrutura de concreto que desabou e que, segundo o mergulhador do Corpo de Bombeiros, Cabo Demori, está em cima dos três corpos. O resgate ainda não foi possível pois o pilar pesa cerca de mil toneladas, de acordo com Demori.

O Corpo de Bombeiros recomeçou na manhã desta quarta-feira (3) a busca pelos dois trabalhadores desaparecidos. Os corpos de três operários continuam presos embaixo das estruturas.

De acordo com os bombeiros, oito homens trabalharam na operação, com a ajuda de mergulhadores que vasculham o local.

Esse foi o segundo acidente registrado na construção desta ponte – em maio, dois funcionários ficaram feridos após o rompimento de um cabo de sustentação.

Em nota enviada no final da tarde hoje à imprensa, a concessionária Rodovias do Tietê informou que "a máquina deve tornar mais ágil a retirada da estrutura e o resgate dos corpos. Além desse equipamento, há cinco mergulhadores profissionais trabalhando, um guindaste com capacidade para remover até 500 toneladas e duas máquinas para cortar concreto, utilizadas no corte das vigas que estão submersas".

O comunicado diz ainda que "familiares das vítimas e funcionários da construtora estão recebendo o acompanhamento necessário, e que ontem (2) a concessionária contratou o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para apurar as causas do acidente".

O Acidente

Um guindaste que ficava em cima do pilar que cedeu também caiu dentro do rio. A equipe de resgate do Corpo de Bombeiros conseguiu amarrar os dois corpos mas ainda não há como resgatá-los pois estão presos em ferragens e vigas, dentro do rio.

Entre os funcionários resgatados com vida está César Augusto Oliveira Silva, de 24 anos, que deu entrada no ao Centro de Ortopedia e Traumatologia de Piracicaba (COT) de Piracicaba às 9h30. De acordo com o boletim médico, ele tem dores nos joelhos, tornozelos, calcanhar, e apesar de não ter fraturas, teve a perna esquerda imobilizada.

Outros dois funcionários que não correm risco de morrer, Valdomiro Santos Oliveira, de 50 anos; e Vando Luiz Cecílio, de 30, foram atendidos no Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba.

Além dos bombeiros, equipes da Polícia Militar e do helicóptero Águia de Campinas e a Polícia Científica ajudam nas buscas no local.

Parte da estrutura da viga da obra desabou e, provavelmente, os cinco funcionários que estão submersos não conseguiram se soltar do cinto de segurança usado por eles durante o trabalho.

Dois funcionários funcionários que foram resgatados com vida ficaram pendurados pelo cinto de segurança no guindaste.

Os outros desaparecidos continuam sendo procuradores no rio, pelos bombeiros. A concessionária Rodovias do Tietê, responsável pela obra, não tinha informações sobre o que teria causado o acidente.

Empresa responsável já foi multada 40 vezes

A empresa responsável pelas obras para construção do anel viário de Piracicaba - a Construtura Tardelli - já recebeu 40 autuações e quatro embargos desde setembro do ano passado. A informação é do superintendente regional do Trabalho e Emprego, do Ministério do Trabalho, no Estado de São Paulo, Luiz Antonio de Medeiros Neto. Nesta terça-feira (2), ele esteve no local onde a queda da pilastra central da ponte construída sobre o rio Piracicaba causou ao menos três mortes (outras duas pessoas estão desaparecidas), às margens da rodovia Laércio Corte (SP-147). O acidente aconteceu na manhã de segunda-feira, 1º. 

Inquérito

Um erro na análise do solo onde está sendo construída a ponte do anel viário de Piracicaba foi apontado como a possível causa do acidente, segundo o laudo preliminar divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Piracicaba, na tarde de hoje (1º).

De acordo com o parecer, uma movimentação no solo fez com que a viga de sustentação de concreto, fixada no fundo do Rio Piracicaba e que pesa 1.200 toneladas, cedesse, segundo informação da assessoria do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Ainda de acordo com a assessoria, o resgate dos três corpos que ainda não foram localizados pelos bombeiros deverá ser feito por uma empresa de Santos com mergulhadores especializados para serrar a estrutura de concreto. É possível que estas três vítimas tenham sido soterradas pela viga de concreto.

Os relatórios serão remetidos ao MPT, que vai analisar a responsabilidade da empresa. Outros órgãos devem ser envolvidos na investigação, como a Polícia Civil.

De acordo com informações do MPT, em setembro de 2012 foi aberto inquérito contra a construtora responsável pela obra, a Construtora Tardelli, que chegou a ser embargada devido ao risco de soterramento e uso impróprio de andaimes, na ocasião. Segundo a assessoria de imprensa do MPT, a empresa apresentou as soluções aos problemas apontados e a obra foi desembargada.

Em abril deste ano, fiscal do MTE, apontou novos problemas de segurança, mas não houve interdição da construção do anel viário.

Dados da obra

Segundo informações da assessoria da Rodovias do Tietê, a construtora iniciou a construção do Contorno de Piracicaba em 2011 e prevê sua conclusão no final de 2013. Até o final das obras serão investidos R$ 79 milhões. O Contorno de Piracicaba terá nove quilômetros de extensão, sete viadutos, uma ponte sobre o Rio Piracicaba, uma galeria na estrada do Monte Alegre e dois grandes dispositivos de acesso e retorno.

O tráfego estimado é de 12 mil veículos por dia. A obra do contorno é realizada por empreiteiras contratadas, entre elas a construtora Tardelli, responsável pela construção da ponte sobre o Rio Piracicaba.

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