Os supermercados venderam menos nos primeiros quatro meses deste ano quando considerado o volume de produtos em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento da Abras em parceria com a Nielsen. Entre janeiro e abril, o volume de vendas dos supermercados recuou 1,8% na comparação com os mesmos meses de 2012.
De acordo com Fabio Gomes, gerente da Nielsen, a queda reflete uma maior preocupação dos consumidores com relação ao aumento dos preços e também a mudança de hábito dos brasileiros, que têm optado por praticidade buscando alimentos prontos ou itens de maior valor agregado.
"O consumidor está se contendo, sim, pois a pressão inflacionária vem pesando na decisão de compra. No entanto, o brasileiro teve uma elevação no poder aquisitivo e isso não deve mudar. Ele passou a ter maior acesso a produtos de valor agregado e não deseja perder esse status. Mas, nesse começo de ano, esse consumidor teve acesso a outros tipos de produtos e tem dívidas que não tinha", avalia Fabio Gomes.
Segundo ele, algumas categorias também estão mostrando uma estabilização após forte crescimento nos últimos anos, como carnes congeladas e bebidas. "Ainda não notamos isso, mas em algum momento o consumidor pode procurar marcas mais econômicas para manter o status de compras. Num primeiro momento, o consumidor está apenas contendo a quantidade para compensar os gastos", afirma.
O levantamento aponta que o volume de bebidas alcoólicas registrou queda de 5,6% no intervalo, bebidas não alcoólicas cederam 1,7% e perecíveis baixaram 2,5%, enquanto limpeza caseira subiu 3,2%.
Para o vice-presidente da Abras, João Sanzovo Neto, a queda no volume de vendas sinaliza que os consumidores acenderam uma sinal de alerta. "Acendeu uma luz amarela. Aquele consumidor que tomava meia dúzia de latinhas de cerveja por noite, por exemplo, está tomando um pouco menos para conter os gastos."
Para Sanzovo, o resultado das vendas dos supermercadistas está refletindo o comportamento da economia como um todo. "O setor de supermercados não é uma ilha. Ele está dentro de um contexto de desaceleração da economia. O Brasil também faz parte de um contexto internacional e boa parte dessa pressão veio da demanda no exterior, especialmente o consumo chinês que puxou os preços das commodities", observa.
No entanto, segundo ele, a entidade ainda não prevê uma revisão da meta de crescimento, que foi mantida em 3,5% para 2013 em relação ao ano passado. "Vamos começar a andar com crescimento de 2%, na média, mas mantemos a meta de avançar 3,5%. Esperamos que no segundo semestre os brasileiros tenham uma folga nas contas, o que deve ajudar a retomar o ritmo", disse.